segunda-feira, julho 31, 2006

A ti' Vicência

Estava outro dia à conversa com a Embaixatriz da Lusofonia, que por esta altura está do outro lado do Atlântico, foi uma dessas conversas por escrito em tempo real, coisas das novas tecnologias. Nisto, sei lá como, a conversa foi dar à ti' Vicência. Ora eu que falo amiúde sobre a ti' Vicência, não tinha ainda percebido realmente o que ti' Vicência representa(va) até a Embaixatriz ter tido a bondade de mo explicar. Ser amigo de pessoas que possuem rigor intelectual destas vantagens.

A ti' Vicência, para começo de conversa, não era minha tia, era prima do meu avô. Ganhou por mérito próprio o direito de se fazer tratar por "ti'", direito esse respeitado por toda a aldeia, e arredores, como não podia deixar de ser. Eu só soube o exacto grau de parentesco, sem margem para dúvidas, quando lho perguntei a ela, isto porque era a única pessoa da aldeia e da família (um e outro conceito confundem-se) que conseguia dizer o grau de parentesco de qualquer pessoa da família/aldeia com qualquer outra pessoa da aldeia/família. Esta capacidade não se limitava aos vivos, a ti' Vicência era capaz te traçar a genealogia da família até ao princípio do sec. XIX. Tendo em conta que as linhagens se assemelham mais a uma rede do que a uma árvore, o talento da ti' Vicência requeria uma formidável capacidade de abstracção e memória. Um pequeno pormenor; a ti' Vicência nunca soube ler nem escrever, portanto tudo o que citava era de memória, e obviamente não recorria a cábulas. E a sua memória abarcava não só tudo o que se tinha passado durante o seu tempo de vida (no que à família dizia respeito) mas tudo o que tinha ouvido a mãe e a avó contar-lhe, com os mais deliciosos pormenores.

Sempre me lembro de quando ia à aldeia ver a ti' Vicência voltar do campo, e passar pela estrada da fonte a caminho de casa. Levava sempre um foice ao ombro, as costas dobradas, um caminhar bamboleante e um sorriso permanente. Tinha uns lindíssimos olhos azuis. Os encontros com a ti' Vicência eram frequentes, mas só uma vez fui lá a casa com o intuito concreto de fazer perguntas sobre a família, e conhecer um pouco da história da aldeia. Recebeu-nos (a mim, ao meu pai e ao meu irmão) na eira, sentou-se no seu modo muito próprio, que fazia impressão a toda e gente, com as pernas cruzadas e assente sobre o joelhos. Era assim que se sentia confortável, podia ficar horas ali, aliás ficou. A melhor maneira de começar a conversa era perguntar o parentesco entre dois membros da família escolhidos aleatoriamente e tentar traçar os laços familiares até um antepassado comum. E partir daí era deixar seguir a conversa, e aí a importância de ter alguém como a ti' Vicência na família vem ao de cimo, a ti' Vicência - ela própria - é uma lição de história. Com ela fiquei a conhecer hábitos das gentes de que não tinha ideia. Por exemplo pentear as raparigas era como que um ritual entre mulheres, fazia-se em grupo e penteavam-se umas às outras, e a partir daí podia traçar-se a imagem que se iria ter de determinada rapariga para o resto da vida "Ah, a vossa tia M. sempre foi muito piegas na altura de pentear...". Falando com a ti' Vicência apercebemo-nos de certos padrões que não sendo propriamente regras explícitas eram habituais, por exemplo as mulheres casavam e ficam na aldeia, os homens muitas vezes vinham de fora. A ti' Vicência era também de uma enorme sinceridade, deu para aprender qualquer coisa sobre os padrões morais, afirmava e repetia convictamente ter casado por amor (e qualquer humano digno do epíteto acreditaria sem pestanejar), e não se coibia de acusar o patriarca da família de não o ter feito. Quando este começou a construir a casa, onde iria supostamente viver com a mulher com quem estava comprometido, chegou ao fim de um dia de trabalho e tinha as mãos em sangue. Aí mudou de ideias e fugiu para Espanha, para voltar mais tarde e casar com outra mulher mais afortunada. A ti' Vicência mostrou-nos como era a mentalidade de outras alturas, quando por exemplo se referia às Caetanas "essas não eram de cá, eram de fora, eram estrangeiras", de facto eram da Passagem, uma outra aldeia que fica a oito quilómetros. Com ti' Vicência aprendemos ainda como eram as crenças: partes da história que nos contou tinham como fonte antepassados que regressaram para falar com gentes de lá, e enquanto nos contava essas partes proibia-me veementemente de tomar notas, mesmo não sabendo o que estava a escrever (como é óbvio eu estava ainda a tentar pôr no papel o que ela tinha dito meia-hora antes).

Mas a estória mais engraçada que ficou dessa tarde foi outra, e deu-nos um cheirinho de como as gentes num certo passado viveram acontecimentos de que só tivemos conhecimento pelos livros de História. Estava a ti' Vicência a contar-nos a história da família, já em gerações que nos escapavam totalmente, e fala de um exército cujos soldados "batiam com os pés com tanta força no chão que as portas até tremiam". E nós a tentar ver do que ela falava, não era obviamente a II Guerra, aliás nem a I Guerra podia ser, teria que ser anterior dado o número de gerações, talvez as lutas entre liberais e absolutistas, mas não fazia muito sentido. Nisto diz a ti' Vicência "era um tal de Mopoleão". E de facto batia certinho, quando contámos as gerações, perguntamos as idades (tudo coisas que a ti' Vicência sabia com muita aproximação) a coisa de facto batia certo, ia dar às invasões Napoleónicas. E a soube ainda colocar o acontecimento no espaço, as tropas marchavam na estrada da Passagem, a tal aldeia a oito quilómetros que era um ponto estratégico, permitia atravessar o rio. É importante dizer ainda que as diferentes partes da história que se cruzavam batiam sempre certo, a história que contava era muito coerente.

O que acho que a Embaixatriz me quis dizer é que de facto a ti' Vicência não representava a história, ela ERA a história da família. A ti' Vicência morreu há pouco mais de três anos, não muito longe dos cem, e com ela partiu mais de um século de história, testemunhos de pessoas que viveram acontecimentos e de que a ti' Vicência era a última pessoa ter guardado essa memória. Tirei notas dessa conversa, mas nem sei onde andam, nem me preocupo muito, era-me impossível substituir a ti' Vicência por um escrito, por muito bom que fosse. Quem falou com as pessoas foi ela, quem guardou a memória foi ela, e quer eu queira ou não, com a morte da ti' Vicência há toda uma história que passou à História. Talvez tenha que ser mesmo assim.

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domingo, julho 30, 2006

Hoje o Congo faz História

Decorrem hoje as primeiras eleições livres no país, em quarenta anos. Eleições não só para a presidência, mas também legislativas. No entanto, não é a primeira votação livre, há menos de um ano houve um referendo à constituição, aprovada aliás por uma larguíssima maioria, e a coisa correu bem. As notícias que correm por aí de confrontos e escaramuças são seguramente empoladas, essa mania de olhar para os detalhes (ouso mesmo dizer fait-divers) em vez de ver o todo. Até prova em contrário continuo a achar que África está bem e recomenda-se!
Muito do futuro da África central, e de toda a África, se joga hoje nestas eleições. Kabila filho parece o vencedor inevitável, o que até nem seria mau. Para mim pode ser qualquer um menos esse tal Sr. Bemba - que nem Bemba é (nota: este comentário é assumidamente e desavergonhadamente tribalista). O vencedor é porventura o menos importante, o essencial é que a eleição decorra pacificamente, que votem todos os eleitores que quiserem votar, e que todas as forças políticas aceitem do resultado das eleições, e que assumam depois os seus lugares nas instituições do país, seja no poder, seja sobretudo na oposição. O futuro não começa hoje, começou há quatro ou cinco anos com o cessar-fogo e a criação do governo de transição, mas hoje é a grande decisão entre um restrocesso, e talvez de novo a guerra, e a estabilidade política, que provavelmente trará uma maior prosperidade económica.
Quando estive no Congo o ambiente político fez-me lembrar muito do que ouvi contar e vi em documentários sobre o PREC português. Esperemos que por lá a coisa corra tão bem ou melhor. Para já parece que a situação é calma, com grande afluência às urnas.

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quinta-feira, julho 27, 2006

Música do CPE: El Son

Muda a música ali na jukebox da coluna da direita. Como prelúdio das férias que se aproximam entra a música das Caraíbas, no caso cubana. Está agora a tocar o tema "Los Sitio' Asere (Guaguancó-Son)" dos Afro-Cuban All-Stars, do álbum "A toda Cuba le gusta" de 1997. O álbum é do mesmo ano do "Buena Vista Social Club", e mais curioso ainda, muitos dos artistas são os mesmos, incluindo Ry Cooder - aliás Rái Cudér - que aparece como artista convidado. Talvez este "A toda Cuba le gusta" não tenha tido a projecção mediática, nem o sucesso comercial do "Buena Vista Social Club", mas tem um Son muito mais puro. É muito mais Rumba, muito menos Bolero, muito mais daquilo que se espera ouvir em Cuba. Percursões fortíssimas muito Afro-Cubanas, e as secções de metais bem presentes. E ainda dá para ouvir os desconcertantes solos de piano de D. Rúben González, que é (na minha humilde opinião) o personagem mais fascinante de todo o conjunto do "Buena Vista" (e ele há-os bem interessantes).
Não consegui encontrar a letra, e transcrever, então, está fora de causa, mas sinceramente!, será necessário? Talvez pudesse "gozar" ainda melhor a peça sabendo a letra, mas assim já está bem, muito bem.


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    quarta-feira, julho 26, 2006

    Einstein, esse grande anti-semita

    "(...). Para consegui-lo temos [Israel] que resolver nobremente, publicamente e dignamente, o problema da coabitação com o povo irmão dos árabes. Temos as oportunidade de provar aquilo que aprendemos durante os séculos de um passado vivido duramente. Se descobrirmoso caminho exato, e ganharemos e serviremos de exemplo para outros povos.
    (...)
    Devemos manter em nossa relação como o povo árabe a mais extrema vigilância. Graças a esta atitude poderemos evitar que no futuro tensões muito perigosas venham a se manifestar e poderiam ser aproveitadas como a atos belicosos. Com facilidade poderemos atingir o nosso objectivo porque nossa realização foi e é concebida de maneira a servir também os interesses concretos da população árabe"

    Albert Einstein
    in Discurso sobre a obra de construção da Palestina
    publicado em "Como Vejo o Mundo" (1953)
    Editora Nova Fronteira (21ª edição)

    Sem surpresas, quando se agrava o conflito no médio oriente, os críticos de Israel são acusados de anti-semitismo. Segundo Eduardo Pitta acusar Israel de lançar ataques desproporcionados equivale a padecer de anti-semitismo larvar, Francisco José Viegas apoia. No Insurgente é Zapatero quem é acusado de ser anti-semita, e apanhando a boleia insinua-se o mesmo em relação a Vital Moreira. Helena Matos, no "Público" (sem link) afina pelo mesmo diapasão. Presumo portanto que todos os acima citados considerem que Albert Einstein, por defender a co-habitação entre judeus e árabes, era também um anti-semita. Mais, se considerarmos que ele era contra a criação de um estado Judaico, e preferia um estado único para árabes e judeus, devem considerar que se tratava de um potencial terrorista ou coisa parecida. Pouco importa que tenha sido, por exemplo, convidado para ser o segundo presidente de Israel, em Novembro de 1952, após a morte de Chaim Weizmann.

    Estas acusações de anti-semitismo não fazem mais do que criar ruído, quando o que se quer é debater a questão. Se acreditam honestamente no que dizem (e eu estou convencido que acreditam) pelo menos façam o favor de explicar porquê. Não se fiquem por esse "é anti-semita e ponto final". Por exemplo, sou de opinião que Israel deve defender-se dos ataques do Hezbollah, que Israel tem o direito a uma fronteira segura com o Líbano, como sou também sou de opinião que os ataques de Israel são desproporcionados. E nem falo da proporção dos meios militares de Israel e do Hezbollah, felizmente que os de Israel são superiores, como não entro na contabilidade do "Hezbollah só matou um, Israel matou dez", se esses dez fossem todos terroristas do Hezbollah, não me incomoda. A desproporção está na envergadura de um ataque ao Líbano que não tem tido a preocupação de se cingir às bases terroristas, e pouco ou nada tem feito para evitar a morte de civis (e de observadores da ONU). E de caminho fragilizam o governo do Líbano - eleito democraticamente, diga-se - , reduzindo-lhe a capacidade de controlar o Hezbollah. Expliquem-me por favor, onde está o anti-semitismo desta tese?

    Quanto mais não seja, por respeito às verdadeiras vítimas do anti-semitismo - seja na Lisboa de 1506 seja no Holocausto Nazi - que tenham o pudor de se abster de fazer uso dessas acusações de anti-semitismo como arma de arremeço.



    Einstein com Ben Gourion, 1951

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    segunda-feira, julho 24, 2006

    O elogio do cliché

    Estreou recentemente por estas bandas o filme Paris je t'aime, que na realidade não é um filme, são dezoito. Dezoito curtas metragens, todas sobre Paris, cada uma centrada num Quartier diferente.
    Não há volta a dar-lhe, Paris é um cliché, a identidade de Paris sem cliché não existe, não faz sentido. Mas isto dos clichés, sobretudo os clichés sobre Paris, são como as sentenças, cada um tem o seu (talvez até mais do que um), portanto tenho que reformular: Paris é um somatório de clichés. Logo aqui está a primeira virtude do filme, quem o imaginou teve a clarividência de nos poupar um cliché único, porventura elaborado até à exaustão, ou até para além dela, durante umas boas duas horas, o que seria seguramente uma enorme estopada. Em vez disso, dezoito curtas metragens, todas de realizadores diferentes, cada uma com o seu cliché. O formato de curta metragem ajuda ainda mais à festa, fazendo de cada filme um cliché ligeiro que não se pode levar demasiado a sério. Num plano mais geral, também me agradou a demonstração - que o filme é em si mesmo - de que não há clichés absolutos, cada um tem uma visão pessoal de Paris (mas podia ser outra cidade qualquer ou outra coisa qualquer) que é relativa e subjectiva, necessariamente diferente das demais.
    Como seria de esperar, em dezoito filmes, há-os para todos os gostos, e há-os melhores que outros (para o meu gosto, nem era preciso dize-lo). A começar logo um divertido cliché - dos mais "gastos" que para aí andam - magnificamente construído, logo para pôr o espectador à vontade: estacionar em Paris, e particularmente em Monmartre. Fica-me a sublime deixa " - Non, non... em plus t'as une tête de con, toi!", mais cliché é difícil. Gostei muito do "Tour Eifel", de Sylvain Chomet, que criou um ambiente muito "Triplettes de Belleville". Gostei também do "Place des Fêtes" de Olivier Schmitz, estória romântico-trágica tendo por cenário a Paris que Sarkozy e Le Pen negam, mas que é tão Paris como as outras. O "Marais", Gus Van Sant e com Mariane Faithful, consegue a estória que melhor se encaixa no Quartier retratado, muito bem visto. Não gostei do "Porte de Clichy" (Christopher Doyle) nem sei bem porquê, nem do "Place des Victoires" (Nobuhiro Suwa) apesar do William Dafoe e da Julliette Binoche (que faz o papel do costume). O "Tuilleries" dos irmãos Coen, com o inevitável Steve Buscemi, teve piada, o "Quartier Latin", de Gerard Depardieu, também. E por aí a fora...
    O filme é bom? Não faço ideia. Vale a pena ir ver? Para quem conhece Paris e gosta de Paris, vale a pena nem que seja (e sobretudo) para comparar com os seus próprios clichés, e rir-se deles. Para quem não conhece Paris, mas gosta, vale a pena pelas mesmas razões, e mais ainda para que os seus próprios clichés ganhem mais substância. Para quem não gosta de Paris é uma perda de tempo (mas para esses, de qualquer modo, tudo é uma perda de tempo).
    Numa nota bairrista, é curioso que o único Arrondissement que aparece retratado como tal é o 14éme (bom, o 16éme também, mas apenas no aspecto sócio-económico dos seus habitantes), e faz todo o sentido, porque isto não é Montparnasse, nem é Alésia, nem Plaisance, é 14éme mesmo. A estória, essa é uma lamechice tocante, muito bem sacada, a encerrar o filme.

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    sexta-feira, julho 21, 2006

    Não há inocentes

    Francisco José Viegas no seu artigo opinião no Jornal de Notícias sobre a situação no Médio Oriente defende a causa do conflito está nas constantes agressões de que Israel é vítima desde a sua fundação, e que é porque os países árabes da região e os próprios palestinianos não querem que não há um estado Palestiniano livre e democrático. Depreende-se do seu raciocínio que, na sua opinião, tudo o que Israel faz é em legítima defesa. Na minha opinião essa tese é demasiado simplista (para não dizer maniqueista). A culpa de uns não iliba a culpa de outros.

    Parece-me óbvio que ninguém de bom senso deseja que o Hezbollah se movimente livremente no sul do Líbano, mas não quer isso dizer que a resposta de Israel não seja desproporcionada. É evidentemente preocupante a influência do Irão de Hamadinejad e da Síria de Bahsad sobre o Hezbollah, e sobre o Hamas, como é evidente que a violência da resposta de Israel só vai servir os propósitos daqueles. Contrariamente ao que pensa Francisco José Viegas é possível criticar a "agressão" de Israel sem por isso ter vontade de glorificar os "heróis" do Hezbollah. É possível ser de opinião que não há nem "maus" nem "bons" neste conflito, não há inocentes.

    É verdade que desde 1947, mesmo antes da declaração de independência que Israel tem estado sob ataque dos países árabes vizinhos, tal como é verdade que desde o início Israel tem tido uma superioridade militar sobre esses vizinhos. Essa superioridade pode ter sido uma surpresa em 1948, mas hoje é uma evidência que ninguém contesta. Hoje, felizmente, a integridade de Israel enquanto estado independente não está em causa, e as constantes respostas desproporcoinadas, da qual os ataques ao Líbano são apenas o mais recente exemplo, são simplesmente desnecessárias e injustificadas quando o objectivo é apenas a autodefesa.

    Segundo Francisco José Viegas, o que eu não desminto, os estados árabes e os Palestinianos não querem um estado democrático. Eu permito-me voltar a pergunta ao contrário: Israel quer um estado Palestiniano democrático? Na minha leitura, todas as evidências apontam para uma resposta negativa. Israel, com a sua superioridade militar na região, e com o apoio do ocidente (EUA à cabeça) tem a faca e o queijo na mão. Pode conduzir o processo como quiser, como tem feito em Espanha, Zapatero com a ETA - o que Aznar nunca quis fazer. Os sucessivos governos de Israel têm imposto intransigentemente as suas condições, sem nunca fazer concessões. Os líderes palestinianos mais razoáveis estão presos em Israel. Quando os palestinianos dão sinais de querer fazer concessões, a repressão de Israel aumenta - há pouco tempo falava-se do referendar um documento, da autoria de um grupo de palestinianos presos, em que os Palestinianos aceitavam Israel, logo de seguida Gaza foi invadida. Esta política de Israel levou os fundamentalistas - ouso dizer puritanos - do Hamas ao poder.

    Mas nesta questão o que me interessa não é discutir quem tem culpas nem de que lado se coloca cada um de nós, mas simplesmente perceber as causas e saber se é possível uma solução justa e permanente para o conflito.

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    Olhos que não vêem...

    A organição Médecins du Monde distribuiu no Inverno passado tendas aos sem-abrigo de Paris, para que possam viver em condições minimamente "condignas". O resultado é que Paris tem agora tendas pelos passeios e, sobretudo, à beira do Sena, não há nem mais nem menos sem-abrigo que anteriormente, simplesmente estão mais à vista. Essa visibilidade parece incomodar muita gente, a ponto de justificar uma intervensão do governo. Dado que são as tendas, e não os sem-abrigo, que estão a gerar tanto incómodo, pode concluir-se que o problema não está em existir miséria, está apenas em torná-la visível.


    Adenda: Em Paris, os sem-abrigo façam o favor de sair da fotografia no Libération.

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    quinta-feira, julho 20, 2006

    Ainda alguém se lembra de Zyed, Bouna e Muhittin?

    Toda a gente se lembra dos motins das "banlieus" em Novembro do ano passado. Provavelmente muito menos gente se lembra da causa directa na origem desses motins. Os primeiros tumultos ocorreram em Clichy-sous-Bois, onde dois jovens morreram electrocutados, e um terceiro escapou com ferimentos graves. O acidente ocorreu numa central elétrica onde os três adolescentes se esconderam de uma perseguição injustificada por parte da Polícia. Os tumultos começaram no próprio dia da morte dos jovens. Zyed Bena e Bouna Traoré são os nomes dos miúdos que morreram. Muhittin Altun é o amigo deles que sobreviveu ao acidente, apesar das queimaduras graves. Desde o início que a polícia é acusada de responsabilidade no acidente, mas essa responsabilidade, até hoje, nunca foi assumida, nem pela polícia nem pelo ministério do interior. Vem agora a Comissão Nacional para a Deontologia da Segurança (CNDS) emitir um parecer em que critica severamente a polícia pelo modo como tratou Muhittin logo após o acidente. Há ainda muita coisa por apurar, nomeadamente sobre a perseguição que antecede a entrada dos três jovens na central eléctrica. Mesmo assim, sendo que este parecer "apenas" se refere ao tratamento que foi dado a Muhittin, só isso chega para deixar qualquer um bastante preocupado sobre a actuação da polícia.

    Menos de 24h depois de ter sofrido o acidente, Muhittin recebeu a visita da polícia no Hospital, polícia que não se preocupou em socorrê-lo na central eléctrica. Ainda sob o choque físico e psicológico causados pela electrocução,e poucas horas depois de lhe ter sido comunicada a morte dos seus dois amigos, Muhittin foi interogado pela polícia. A polícia não pediu sequer a autorização dos pais, sendo que Muhittin era menor à data, o interrogatório foi feito graças a uma requisição onde a idade de Muhittin estava errada, atestava que este teria 21 anos. A polícia alega ter interrogado Muhittin na qualidade de vítima, testemunhos do próprio, de um guarda do Hospital de serviço, que assitiu ao interrogatório, e os próprios autos do processo desmentem essa versão. Muhittin foi interrogado na qualidade de acusado não se sabe ainda bem do quê.

    As acusasões e críticas que a CNDS faz à polícia e ao ministério do interior (tutelado por Sarkozy - quem mais?) são muitas e graves. Até à data, polícia e ministério, permanecem em silêncio.

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    Pelo direito ao insulto

    Segundo o Guardian a FIFA abriu um precedente perigoso ao punir Materazzi por ter provocado verbalmente Zidane. É preciso ver que o insulto é normal num jogo de "homens".

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    terça-feira, julho 18, 2006

    Nem todas as assimetrias e desigualdades são más

    «Como pode a desordem da natura
    Fazer tão diferentes na vontade
    A quem fez tão conformes na ventura?»

    Luís Vaz de Camões, soneto 36



    Claro que não estou a falar das assimetrias e desigualdades sociais, mas há outras que até são boas. Por exemplo, o leitor algumas se colocou a questão: "Se um célula se divide para dar origem a duas células iguais, como é que nós que começámos por ser só uma célula, o Ovo, temos tantos tipos de células diferentes (neurónios, células musculares, células ósseas, etc...)?"? Eu, por exemplo, faço essa pergunta a mim próprio todos os dias (se bem que isso é só porque preciso de fazer alguma coisa para ganhar a vida, e pagar as contas). Felizmente ainda não consegui encontrar uma resposta cabal e definitiva, porque se conseguisse ia para o desemprego.

    Apesar de tudo, a ciência já conseguiu pedaços de resposta, digamos que já foram encontradas algumas peças do puzzle. E como o próprio Camões já tinha intuído, a desordem da natura pode tornar muito diferente o destino daqueles que nascem na sua essência idênticos. Um dos mecanismos para chegar essa diferença entre células-irmãs (não é o único, mas é porventura o mais elegante) é a divisão celular assimétrica. Na realidade as duas células que resultam de uma divisão não são necessariamente iguais no seu conteúdo, apesar de serem geneticamente idênticas (os cromossomas são divididos igualmente pelas células-filhas) por vezes alguns componentes são transmitidos apenas a uma das células.

    Veja-se por exemplo aquela imagem ali em cima; utilizando técnicas de microscopia modernas (no caso microscopia de fluorescência confocal) pode ver-se a vermelho a célula percursora do orgão sensorial da mosca. Há outras células à volta, mas a técnica permite-nos não vê-las, e por isso podemos ignorá-las e concentrarmo-nos nesta célula, que chamamos SOP. Um mosca tem várias SOPs e cada uma delas divide-se várias vezes para dar origem a um orgão sensorial, na realidade um pêlo, que é um sensor do tacto. Cada orgão tem quatro células que são muito diferentes entre si - embora provenham todas da SOP -, duas para a parte exterior, o pêlo propriamente dito, e duas para a parte interna, um neurónio e uma célula de suporte do neurónio . Ora como é que a SOP dá origem a estas células tão diferentes entre si? Na mesma foto vê-se ainda a verde, no bordo da célula, uma aura em forma de crescente, é uma proteína (que por acaso se chama Bazooka). A forma de crescente quer dizer que há muito mais dessa proteína de um lado da célula do que do outro. Finalmente a azul, no meio da célula estão os cromossomas, bem alinhados, o que só acontece quando a célula está prestes a dividir-se. Ora quando isso acontecer metade dos cromossomas vai para a direita e metade vai para a esquerda, e a célula-filha do lado esquerdo vai fica com muito mais da proteína Bazooka (verde) do que a sua célula-irmã. A consequência é que a célula que ficou com mais Bazooka vai dar origem ao pêlo propriamente dito, e a outra vai dar origem à parte neuronal do orgão. Se houver um erro na repartição da Bazooka o orgão fica todo lixado, ou com pêlos a mais e sem neurónios, ou o inverso. Et voilà, uma divisão celular assimétrica.

    Arquivado em:Ciência

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    À grande e à Francesa - As cores do Jazz

    Estava outro dia a ouvir na rádio, na ocasião a TSF-Jazz (quatre-vingt-neuf-point-neuf) uma entrevista com um clarinetista daqui do burgo que estava a apresentar o seu novo álbum (por sinal, e pelo que me foi dado a ouvir, verdadeiramente pas terrible). O dito clarinetista lá ia explicando como é que o álbum surgiu, como é que se inspirou, o processo de composição, gravação, etc... E amiúde ia usando muito a palavra "côr" e seus derivados: "é um instrumento colorido", "fulano tal trouxe novas cores", "o instrumento tem uma palete de tons"... E eu a pensar para os meus botões: "um músico a falar de cores..., tenho a certeza que se fosse pintor estava para ali a divagar sobre harmonias, ritmos e melodias."

    Arquivado em:À grande e à Francesa

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    domingo, julho 16, 2006

    Da caixa de SPAM: The Trojan Games

    AVISO: Este vídeo destina-se apenas a maiores de 18 anos!


    Isto sim é publicidade!

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    sexta-feira, julho 14, 2006

    Música do CPE: Mulheres assim é que eu gosto!

    Mudou a música ali no gira-discos da coluna da direita. Entra agora Diana Krall uma jazzwoman, também blueswoman, com algum talento para poses sensuais, mas muito mais talento para cantar e tocar piano. Um timbre de voz mais para o grave - mas sem chegar ao nível do "too much whisky too many cigarettes voice" - que se adapta muito bem ao cancioneiro romântico para que tem apetência e às suas interpretações intimistas com sentimento qb. Tem também tendência para uns arranjos num registo Jazz conservador, de que eu pessoalmente gosto bastante. Ponho agora a tocar um Blues bem no feminino, Love like a Man que é da autoria de uma outra mulher, Bonnie Raitt, aqui na versão do álbum The girl in the other room (2004).
    Fica ali em baixo a letra de onde destaco: "I Want a man to hold me / Not some fool who ask me why"


    Love me like a Man
    Letra e Música: Bonnie Raitt

    The men that I've been seeing, baby
    They got their soul up on a shelf
    You know they could never love me
    When they can't even love themselves

    And I want someone to love me
    Someone who really understands
    Who won't put himself above me
    Who just love me like a man

    I never seen such losers darling
    Even though I tried
    To find a man who can take me home instead of
    Taking me for a ride
    And I need someone to love me
    Darling I know you can
    Don't you put yourself above me
    You just love me like a man

    They all want me to rock them
    Like my back ain't got no bone
    I want a man to rock me
    Like my backbone was his own

    Darling I know you can
    Believe it when I tell you
    You can love me like a man

    Came home sad and lonely
    I feel like I wanna cry
    Want a man to hold me
    Not some fool who ask me why
    And I need someone to love me
    Baby you can
    Don't you put yourself above me
    Just love me like a man


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    quarta-feira, julho 12, 2006

    Exemplar

    Irrita-me um bocado quando alguém erra e depois se desfaz em desculpas e pede perdão, assim tipo confissão ao padre, uma vez absolvido pode voltar a errar. Tal como me irritam aqueles que nunca admitem quando erram. Zidane explicou-se hoje no Canal+ e na TF1 sobre os acontecimentos da final e não fez nem uma coisa nem outra. Reconheceu o erro, disse que era "Imperdoável" , desculpou-se perante as crianças e os educadores por o seu gesto não ser "uma coisa que se faça", mas quando se colocou a questão do arrependimento foi bem claro "Arrepender-me era reconhecer que o que a outra pessoa disse [Materazzi] se pode dizer, e isso eu não posso aceitar". Zidane errou, e simplesmente assumiu o erro, sem desculpas, sem arrependimentos.

    Depois, em relação aos insultos que proferiu Materazzi, Zidane teve a decência de se escusar a reproduzi-los, dizendo sempre que foram extremamente graves. Aliás disse várias vezes que preferia levar um murro em cheio na cara a ouvir o que ouviu, referiu ainda que os insultos visavam a sua mãe e irmã e foram repetidos várias vezes. Zidane não falou explicitamente de insultos racistas por parte de Materazzi, mas também não negou. A certa altura sugeriu que quem quisesse saber que visse nos vídeos e arranjasse especialistas de leitura labial, o que como toda a gente sabe já foi feito e dessa análise saiu a tese de que o insulto envolvia a palavra "terrorista". O próprio entrevistador relembrou que essa análise já tinha sido feita, ao que Zidane não reagiu, fiquei com a sensação que anuía tacitamente com as conclusões. Mais ainda, no fim da entrevista à TF1 falou-se de racismo, e das iniciativas da FIFA neste mundial a esse respeito, Zidane aproveitou a deixa e estabeleceu um paralelo entre o seu desentendimento com Materazzi e as declarações do vice-presidente do Senado italiano (terá dito que Itália venceu na final uma equipa francesa de negros, islamistas e comunistas - e Zidane aqui foi veemente, porque de facto é grave), dizendo esse tipo de declarações são mais graves que uma agressão física. Fico convencido que os insultos de Materazzi além de visarem a mãe e irmã de Zidane foram também de cariz racista, eventualmente islamofóbico.

    Zidane hoje fez também a sua defesa, que é até bastante simples, começando logo pelo facto de nunca contestar a justeza da expulsão, assume o erro e aceita a punição. No entanto o que Zidane argumenta é que nestes casos se pune sempre aquele que reage mas nunca aquele que provoca. E nisto Zidane tem inteira razão, aliás há muito quem diga que no futebol isto é normal e que Zidane devia estar preparado. É verdade que estas provocações são frequentes no futebol, mas não deviam ser normais, porque não são normais em mais lado nenhum. Imagine-se cada um de nós no seu meio profissional, qual seria a reacção se numa reunião de trabalho alguém com quem não concordamos se lembrasse de usar o insulto pessoal "só para destabilizar psicologicamente" com o objectivo de levar a sua avante? E se nos viessem explicar depois que na nossa profissão isso é normal e que não devemos reagir? Ridículo não é? Obviamente que noutro meio qualquer quem insulta leva com um processo disciplinar, pois porque não no futebol também? E se o vídeo serve de prova a posteriori para agressões e faltas duras que o arbitro não viu também deve servir para as provocações. É que o Fair Play quando nasce é para todos.

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    (Uma) Teoria Musical

    Tenho vindo a desenvolver desde há vários anos uma pequena teoria musical, aliás é apenas uma tese: "Qualquer original dos Beatles do qual tenha sido feita uma versão por outrem a versão é melhor do que o original."
    E ao longo destes anos tenho vindo a recolher evidências empíricas que consubstanciam muito solidamente esta minha tese, senão vejamos:

    With a little help from my friends - Joe Cocker
    Sgt. Pepper's lonely hearts club band - Jimi Hendrix (em 36 segundos)
    Day tripper - (outra vez) Jimi Hendrix, ou Al di Meola
    Black Bird - The Waterboys
    Here comes the Sun - Nina Simone
    Yesterday - (magnificamente) Ray Charles
    Obladi Oblada - Uma banda de Raggae de que não me lembro o nome, mas infelizmente não é UB 40 (aceita-se ajuda...)
    When I'm sixty-four - Gilberto Gil (a semana passada no Le Zénith)

    Conclusão - A conclusão é a parte mais frágil desta minha tese, não sei muito bem o que hei-de concluir, se a) Os Beatles eram bons compositores, ou se b) eram apenas maus intérpretes...

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    segunda-feira, julho 10, 2006

    Il est bien, ce Mec!


    A segunda coisa que mais lamento na final do Mundial (sendo que a primeira é esta) é Lilian Thuram não ser de novo campeão do mundo. Thuram faz parte dos jogadores que já se tinham retirado da selecção, mas voltaram a pedido do seleccionador nacional, Raymond Domenech. Thuram tinha já uma excelente carreira, foi campeão do mundo em 98 e da Europa em 2000, e é neste momento o jogador mais internacional de sempre na selecção francesa. Não sendo de todo um goleador, marcou apenas dois golos ao longo da sua carreira com os "bleus", mas marcou-os quando mais foram precisos. Ambos marcados no mesmo jogo, na meia-final de 98 (2-1 contra a Croácia), conseguindo assim a passagem à final. Quando Domenech o chamou de volta a princípio terá ficado até contrariado, mas como se tratava de representar a França voltou para dar o seu melhor. Dizia há poucos dias, antes da final, que aos 34 anos sentia o gozo de um "puto" ("gosse" nas suas palavras) de 10 a ver o campeonato do mundo e que ganhar era o seu sonho. Fez um Mundial soberbo, foi um dos melhores defesas do torneio, só superado (talvez) por Canavarro. É um dos líderes da equipa francesa, e como se viu antes dos penalties, na ausência de Zidane é "O" líder da equipa francesa. Deu tudo o que tinha, e chorou no fim por não conseguir o seu objectivo.

    Mas Thuram não é apenas um excelente jogador dentro de campo, é também um cidadão empenhado, aproveitando a sua notoriedade para defender causas. É por exemplo membro do Alto Conselho para a Integração francês, e colabora coma Amnistia Internacional. Deslocou-se de propósito a Paris (vive em Itália, uma vez que joga na Juventus) para participar nas primeiras comemorações oficiais da abolição da escravatura, este ano. É nitidamente uma pessoa inteligente que sabe falar em público e nos média, toma frequentemente posição em questões políticas. Em particular, envolveu-se numa polémica com Sarkozy a propósito dos tumultos nos subúrbios em Novembro do ano passado. Criticou duramente, e exemplarmente, o papel que Sarkozy teve no atear dos conflitos nas banlieus, ao que Sarkozy não conseguiu balbuciar mais do que uma patética resposta no género: O Thuram é jogador da bola, que faça o trabalho dele que é jogar à bola, que eu sou político e conheço a realidade melhor que ele.

    É também notório em Thuram que não esquece de onde veio. Passou uma parte da sua vida nos subúrbios de Paris, e pelo que ali atrás escrevi se vê que não esqueceu, mas também não esqueceu a terra onde nasceu e viveu os primeiros anos, e onde vive ainda a sua família. Thuram é francês das Antilhas, nascido na ilha da Guadeloupe. Organiza regularmente, ouvi dizer que todos os anos, uma Léwoz um tipo festa tradicional antilhesa. A Léwoz tem a sua origem nos tempos da escravatura, e era, à época, o momento em que os escravos se reuniam no fim de uma semana de trabalho para dançar e cantar, e tentar esquecer a miséria em que viviam. É um tipo de celebração em que as percursões tradicionais ocupam uma posição dominante na música e no ambiente. Continua a ser um tipo de festa bastante presente nas Antilhas, e Thuram participa, inclusivé financeiramente, para que essa parte da cultura continue bem viva. Il est vraiment bien ce Mec!

    Adenda: O "cidadão Thuram", uma excelente entrevista ao "Les Inrockuptibles".


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    sábado, julho 08, 2006

    E por falar em Dizzy

    E porque isto do You Tube é um excelente recurso para os blogues.



    Dizzy Gillespie Reunion Big Band - Things to come (1968)

    Aqui se vê Dizzy Gillespie, o magnífico trompetista, verdadeiro virtuoso, e Dizzy Gillespie o excelente chefe de orquestra.
    (mais posts sobre Dizzy Gillespie:este, este, este e este)

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    quinta-feira, julho 06, 2006

    A derrota de Sarkozy

    Estávamos ainda a digerir a derrota, a carpir mágoas em depressão colectiva no larguinho em frente ao café do costume, enquanto os miúdos do bairro faziam la fête. Nisto um velho sábio africano fez o favor de nos explicar que a nossa derrota foi por uma boa causa, nós (portugueses) até jogámos bem mas a vitória desta equipe de França era necessária para mostrar que o problema da imigração não é um problema, mas uma solução. Uma lição para Sarkozy.
    Perante argumentos destes há que ver a coisa pela positiva; a presença de Portugal na meia-final é uma vitória bastante.

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    quarta-feira, julho 05, 2006

    Qualidade de Vida ao Sol: dúvida matinal (opção B)

    De manhã, na impossibilidade de utilizar a bicicleta, a dúvida entre virar à esquerda ou à direita.

    Opção b) Virar à direita, seguir até à paragem do autocarro. Congratular-me com o facto de terem cortado o trânsito da rue de la Sablière para a rue Didot, e terem feito esta agradabilíssima praça a que deram o nome de place Flora Tristan - escritora, militante socialista e activista dos direitos das mulheres do sec.XIX - com as suas árvores, os seus banquinhos de jardimas e as suas esplanadas (agora uma delas até é de um restaurante tuga). Apanhar o autocarro que segue para os lados de Vavin, e passa pela outra casa onde viveu Hemingway, mas o prédio já não existe. Descer na paragem da Opéra de l'Odeon, dar meia volta e contornar o Jardin du Luxembourg. Do lado esquerdo, as esplandas bon chique bon genre como a Psycho. Entre duas esplanadas a livraria com a banca sobre o passeio onde a senhora põe cá fora os livros cronometricamente à mesma hora todos os dias, na ocorrência Modigliani, 9h37 - confere. Olhar de relance para a exposição de fotografia nas grades do Jardin du Luxembourg do outro lado da rua, na circunstância sobre o Planeta Mar. Mais à frente impossível ignorar o Panthéon. Atravessar, subir a Gay Lussac.

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    terça-feira, julho 04, 2006

    Qualidade de vida ao Sol: dúvida matinal (opção A)

    De manhã, na impossibilidade de utilizar a bicicleta, a dúvida é entre virar à esquerda ou à direita.

    Opção a) Virar à esquerda, ir até ao cruzamento com a Raymond Losserand, onde ficam os bistros, e apanhar o metro, naquela estação escondida com a entrada disfarçada de prédio de habitação. Mudar de linha uma vez. Sair em Cardinal Lemoine, subir a rua onde Ernest Hemingway viu subirem rebanhos de cabras, como escreveu anos mais tarde no seu Movable Feast (relembrar que em francês esse livro está traduzido como Paris est la Fête, ou em português Paris é uma Festa - sorriso condescendente). Lá no cimo, ingnorar o Panthéon à direita, atravessar, cortar ligeiramente à esquerda e continuar a subir até avistar a Place de la Contrescarpe. A casa onde viveu Hemingway continua ali. Virar à direita, atravessar no ponto em que a rue Decartes passa a ser rue Mouffetard, congratular-me com a ausência de turistas a esta hora. Seguir até àquela minúscula e simpática praça na convergência da rue Thouin com a rue Blanville. Seguir em frente, ignorar novamente o Panthéon à direita, avistar a Place de l'Estrapade. Decidir se volto mais tarde para comprar uma sanduíche para o almoço, certamente um Sicilian Poulet e, se me apetecer, um daqueles monstruosos Crumble Fruits Rouges Pistaches. Virar à esquerda, seguir até ao fim da rua.

    Arquivado em:Paris

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    domingo, julho 02, 2006

    Uma agradável surpresa

    Numa recente vista relâmpago a Londres (viva o Eurostar) descobri quase por acaso o Barbican, e em particular a exposição "Future City Experiment and Utopia in Architecture 1956 - 2006". Como o nome sugere, nesta exposição são apresentadas várias correntes de pensamento na arquitectura dos últimos cinquenta anos. O objectivo é, mais do que apresentar projectos construídos, expôr diferentes reflexões sobre o modo como a arquitectura e o urbanismo podem efectivamente influenciar o nosso modo de vida. Para mim, que não percebo rigorosamente nada do assunto, fez-me pensar e ver de um modo completamente diferente coisas que tinha por adquiridas. Logo para começar, à saída da exposição, olha-se para o próprio Barbican com outros olhos. O Barbican, além de um centro de espectáculos e exposições, é também um bairro com uma concepção completamente diferente do resto de Londres, e só por isso é o local ideal para esta exposição.

    Na exposição em si há muitas coisas interessante, e algumas que não o sendo são-o por isso mesmo. Há ideias expostas que parecem assumidamente utópicas, e por essa razão algo inconsequentes. Outras completamente revolucionárias, mas em que dificilmente se poderá prever como as pessoas, os habitantes, iriam reagir, e provavelmente pouco funcionais. Mas mais ainda havia muitas ideias inovadoras e arrojadas, que só por tibieza política não se realizaram. Improvavelmente se veria um político actual, porventura preocupado com sondagens, aceitar construir algo de muito controverso para a opinião pública, por mais que os benefícios futuros sejam evidentes. Por exemplo, o projecto de que Ella mais gostou foi uma maquete para o Centro Pompidou, que faz o actual (já de si "controverso") parecer verdadeiramente convencional, cinzento e chato. Político nenhum se atreveria a construir aquilo, mas que era fantástico, lá isso era.

    Pessoalmente, do que eu mais gostei na exposição foi, de longe, dos metabolistas japoneses (este artigo fala um pouco mais sobre esta corrente).

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    sábado, julho 01, 2006

    Está-se bem em Madison, Wisconsin...

    ...mas, e aquela questão prática? Resolveste?

    (99 cents de Andreas Gursky)

    Adenda:Problem solved!

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