quinta-feira, julho 20, 2006

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Ainda alguém se lembra de Zyed, Bouna e Muhittin?

Toda a gente se lembra dos motins das "banlieus" em Novembro do ano passado. Provavelmente muito menos gente se lembra da causa directa na origem desses motins. Os primeiros tumultos ocorreram em Clichy-sous-Bois, onde dois jovens morreram electrocutados, e um terceiro escapou com ferimentos graves. O acidente ocorreu numa central elétrica onde os três adolescentes se esconderam de uma perseguição injustificada por parte da Polícia. Os tumultos começaram no próprio dia da morte dos jovens. Zyed Bena e Bouna Traoré são os nomes dos miúdos que morreram. Muhittin Altun é o amigo deles que sobreviveu ao acidente, apesar das queimaduras graves. Desde o início que a polícia é acusada de responsabilidade no acidente, mas essa responsabilidade, até hoje, nunca foi assumida, nem pela polícia nem pelo ministério do interior. Vem agora a Comissão Nacional para a Deontologia da Segurança (CNDS) emitir um parecer em que critica severamente a polícia pelo modo como tratou Muhittin logo após o acidente. Há ainda muita coisa por apurar, nomeadamente sobre a perseguição que antecede a entrada dos três jovens na central eléctrica. Mesmo assim, sendo que este parecer "apenas" se refere ao tratamento que foi dado a Muhittin, só isso chega para deixar qualquer um bastante preocupado sobre a actuação da polícia.

Menos de 24h depois de ter sofrido o acidente, Muhittin recebeu a visita da polícia no Hospital, polícia que não se preocupou em socorrê-lo na central eléctrica. Ainda sob o choque físico e psicológico causados pela electrocução,e poucas horas depois de lhe ter sido comunicada a morte dos seus dois amigos, Muhittin foi interogado pela polícia. A polícia não pediu sequer a autorização dos pais, sendo que Muhittin era menor à data, o interrogatório foi feito graças a uma requisição onde a idade de Muhittin estava errada, atestava que este teria 21 anos. A polícia alega ter interrogado Muhittin na qualidade de vítima, testemunhos do próprio, de um guarda do Hospital de serviço, que assitiu ao interrogatório, e os próprios autos do processo desmentem essa versão. Muhittin foi interrogado na qualidade de acusado não se sabe ainda bem do quê.

As acusasões e críticas que a CNDS faz à polícia e ao ministério do interior (tutelado por Sarkozy - quem mais?) são muitas e graves. Até à data, polícia e ministério, permanecem em silêncio.

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