quinta-feira, junho 08, 2006

Ir para a Página Principal

Discutivelmente o melhor trompetista, e mais influente músico, da história do Jazz



C.D - ... Les musiciens américains subissent en ce moment l'influence assez envahissante du be-bop. (On sait que sous ce nom l'on désigne une musique dont la caractéristique essentielle est de comporter un usage abondant de riffs vocaux et environs deux cent cinquante note à la mesure, le tout soutenu par une section rythmique hallucinante).
B.V. - T'aimes ça?
C.D. - C'est assez terrifiant à écouter. Cela donne une impression de vitalité extraordinaire. Mais c'est fatigant. Physiquement je veux dire.
B.V. - Tu as entendu Dizzy Gillespie (c'est l'inventeur du be-bop)?

Entrevista de Boris Vian a Charles Delaunay
publicada na revista Combat (1946)

Tinha por hábito ir àquelas livrarias que há n'América onde se pode beber um capuccino pequeno (i.e. do tamanho de um galão) e comer um oatmeal raisin cookie enquanto se folheia os livros que se nos apetece. Já não sei se na Borders se na Barnes and Noble folheei numa dessas ocasiões uma biografia de Dizzy Gillespie (por uma qualquer razão absurda não comprei o livro). A tese era relativamente simples; o momento fundador do Jazz moderno é o BeBop, é quando se dá uma mudança dos cânones que impera até hoje (Kuhn chamar-lhe-ia ruptura de paradigma), e o homem que esteve no centro dessa revolução foi Dizzy Gillespie. Eu subscrevo esta tese.

Não gostaria de entrar em polémicas de Dizzy vs Parker. Dizzy Gillespie e Charlie Parker fizeram uma parceria artística, e fizeram a revolução do BeBop juntos. Houve outros, mas - e presumo que isto seja consensual - esta dupla foi de facto o núcleo fundador do BeBop. É difícil estar a quantificar quem é que foi mais influente, entre os dois, mas apesar de ter sido um trabalho de equipa, que se estendia a uma relação pessoal muito próxima, tiveram contribuições diferentes. Parker resolveu a quadratura do círculo ao descobrir que se podia tocar qualquer nota desde que se "resolvesse" (tradução minha de "to resolve") numa nota do acorde. Mas foi Dizzy o teórico do BeBop, o homem que estudou os formalismos, que desenvolveu os princípios, que trabalhou os tempos, os ritmos e as progressões de acordes. Sob este ponto de vista foi Dizzy o mais influente. Aliás vendo bem qual é a palavra que define melhor o BeBop, Dizzy ou Bird?

Mas Dizzy Gillespie não foi apenas um dos criadores do BeBop, e não se ficou apenas pelo BeBop. Foi o melhor trompetista do Jazz, em termos técnicos. Conseguia tocar notas que mais ninguém conseguia (ou consegue ainda). O virtuosismo que o tornou famoso continua inultrapassado. Os solos tocados a tempos elevadíssimos sem nunca perder o sentido da melodia continuam inigualáveis. Aliás esse tempo elevadíssimo era a base da beleza dos seus solos. Quem alguma vez vir o documentário de Ken Burns sobre a história do Jazz vale a pena atentar na explicação de Winton Marsalis sobre a sincopação de Dizzy Gillespie. Percebe-se muita coisa. Além do mais Dizzy Gillespie continuou toda a sua carreira, depois do BeBop, a inovar, nomeadamente a trabalhar na fusão do Jazz com as músicas Afro-Latino-Americanas. Mas continuou sempre de uma forma coerente nos seus formalismos musicais.

Arquivado em:Música