O elogio do cliché
Estreou recentemente por estas bandas o filme Paris je t'aime, que na realidade não é um filme, são dezoito. Dezoito curtas metragens, todas sobre Paris, cada uma centrada num Quartier diferente.
Não há volta a dar-lhe, Paris é um cliché, a identidade de Paris sem cliché não existe, não faz sentido. Mas isto dos clichés, sobretudo os clichés sobre Paris, são como as sentenças, cada um tem o seu (talvez até mais do que um), portanto tenho que reformular: Paris é um somatório de clichés. Logo aqui está a primeira virtude do filme, quem o imaginou teve a clarividência de nos poupar um cliché único, porventura elaborado até à exaustão, ou até para além dela, durante umas boas duas horas, o que seria seguramente uma enorme estopada. Em vez disso, dezoito curtas metragens, todas de realizadores diferentes, cada uma com o seu cliché. O formato de curta metragem ajuda ainda mais à festa, fazendo de cada filme um cliché ligeiro que não se pode levar demasiado a sério. Num plano mais geral, também me agradou a demonstração - que o filme é em si mesmo - de que não há clichés absolutos, cada um tem uma visão pessoal de Paris (mas podia ser outra cidade qualquer ou outra coisa qualquer) que é relativa e subjectiva, necessariamente diferente das demais.
Como seria de esperar, em dezoito filmes, há-os para todos os gostos, e há-os melhores que outros (para o meu gosto, nem era preciso dize-lo). A começar logo um divertido cliché - dos mais "gastos" que para aí andam - magnificamente construído, logo para pôr o espectador à vontade: estacionar em Paris, e particularmente em Monmartre. Fica-me a sublime deixa " - Non, non... em plus t'as une tête de con, toi!", mais cliché é difícil. Gostei muito do "Tour Eifel", de Sylvain Chomet, que criou um ambiente muito "Triplettes de Belleville". Gostei também do "Place des Fêtes" de Olivier Schmitz, estória romântico-trágica tendo por cenário a Paris que Sarkozy e Le Pen negam, mas que é tão Paris como as outras. O "Marais", Gus Van Sant e com Mariane Faithful, consegue a estória que melhor se encaixa no Quartier retratado, muito bem visto. Não gostei do "Porte de Clichy" (Christopher Doyle) nem sei bem porquê, nem do "Place des Victoires" (Nobuhiro Suwa) apesar do William Dafoe e da Julliette Binoche (que faz o papel do costume). O "Tuilleries" dos irmãos Coen, com o inevitável Steve Buscemi, teve piada, o "Quartier Latin", de Gerard Depardieu, também. E por aí a fora...
O filme é bom? Não faço ideia. Vale a pena ir ver? Para quem conhece Paris e gosta de Paris, vale a pena nem que seja (e sobretudo) para comparar com os seus próprios clichés, e rir-se deles. Para quem não conhece Paris, mas gosta, vale a pena pelas mesmas razões, e mais ainda para que os seus próprios clichés ganhem mais substância. Para quem não gosta de Paris é uma perda de tempo (mas para esses, de qualquer modo, tudo é uma perda de tempo).
Numa nota bairrista, é curioso que o único Arrondissement que aparece retratado como tal é o 14éme (bom, o 16éme também, mas apenas no aspecto sócio-económico dos seus habitantes), e faz todo o sentido, porque isto não é Montparnasse, nem é Alésia, nem Plaisance, é 14éme mesmo. A estória, essa é uma lamechice tocante, muito bem sacada, a encerrar o filme.
Não há volta a dar-lhe, Paris é um cliché, a identidade de Paris sem cliché não existe, não faz sentido. Mas isto dos clichés, sobretudo os clichés sobre Paris, são como as sentenças, cada um tem o seu (talvez até mais do que um), portanto tenho que reformular: Paris é um somatório de clichés. Logo aqui está a primeira virtude do filme, quem o imaginou teve a clarividência de nos poupar um cliché único, porventura elaborado até à exaustão, ou até para além dela, durante umas boas duas horas, o que seria seguramente uma enorme estopada. Em vez disso, dezoito curtas metragens, todas de realizadores diferentes, cada uma com o seu cliché. O formato de curta metragem ajuda ainda mais à festa, fazendo de cada filme um cliché ligeiro que não se pode levar demasiado a sério. Num plano mais geral, também me agradou a demonstração - que o filme é em si mesmo - de que não há clichés absolutos, cada um tem uma visão pessoal de Paris (mas podia ser outra cidade qualquer ou outra coisa qualquer) que é relativa e subjectiva, necessariamente diferente das demais.
Como seria de esperar, em dezoito filmes, há-os para todos os gostos, e há-os melhores que outros (para o meu gosto, nem era preciso dize-lo). A começar logo um divertido cliché - dos mais "gastos" que para aí andam - magnificamente construído, logo para pôr o espectador à vontade: estacionar em Paris, e particularmente em Monmartre. Fica-me a sublime deixa " - Non, non... em plus t'as une tête de con, toi!", mais cliché é difícil. Gostei muito do "Tour Eifel", de Sylvain Chomet, que criou um ambiente muito "Triplettes de Belleville". Gostei também do "Place des Fêtes" de Olivier Schmitz, estória romântico-trágica tendo por cenário a Paris que Sarkozy e Le Pen negam, mas que é tão Paris como as outras. O "Marais", Gus Van Sant e com Mariane Faithful, consegue a estória que melhor se encaixa no Quartier retratado, muito bem visto. Não gostei do "Porte de Clichy" (Christopher Doyle) nem sei bem porquê, nem do "Place des Victoires" (Nobuhiro Suwa) apesar do William Dafoe e da Julliette Binoche (que faz o papel do costume). O "Tuilleries" dos irmãos Coen, com o inevitável Steve Buscemi, teve piada, o "Quartier Latin", de Gerard Depardieu, também. E por aí a fora...
O filme é bom? Não faço ideia. Vale a pena ir ver? Para quem conhece Paris e gosta de Paris, vale a pena nem que seja (e sobretudo) para comparar com os seus próprios clichés, e rir-se deles. Para quem não conhece Paris, mas gosta, vale a pena pelas mesmas razões, e mais ainda para que os seus próprios clichés ganhem mais substância. Para quem não gosta de Paris é uma perda de tempo (mas para esses, de qualquer modo, tudo é uma perda de tempo).
Numa nota bairrista, é curioso que o único Arrondissement que aparece retratado como tal é o 14éme (bom, o 16éme também, mas apenas no aspecto sócio-económico dos seus habitantes), e faz todo o sentido, porque isto não é Montparnasse, nem é Alésia, nem Plaisance, é 14éme mesmo. A estória, essa é uma lamechice tocante, muito bem sacada, a encerrar o filme.
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