quarta-feira, maio 31, 2006

À grande e à Francesa - Pas terrible

O idioma francês (ou aqueles que o usam) tem algumas idiossincrasias intrigantes. Por exemplo, a expressão pas terrible que se pode traduzir literalmente como "não-terrível", mas que está muito longe do seu significado literal. Quando um estrangeiro ouve pela primeira a expressão "ce n'est pas terrible" pensa que isso quer dizer qualquer coisa como "não está mal", puro engano. Quer dizer precisamente que a coisa está mal, não muito mal, mas inequivocamente mal. Bem me tentaram explicar, os franceses, que era como que uma abreviação de "ce n'est pas terrible, mais presque" (não está terrível, mas quase), mas eu só percebi o verdadeiro significado da dita expressão graças a esse raríssimo acontecimento que é um copo de "Bordeaux pas terrible". O tinto de facto não era horrível, não estava avinagrado, nem era demasiado ácido, não era demasiado doce, nem arranhava na garganta, também não tinha corpo, nem tão pouco era aveludado, não tinha sequer um esboço de paladar (qualquer que fosse), nada. Enfim, o vinho não era de facto terrível, mas que porra, antes fosse...

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terça-feira, maio 30, 2006

Dialogando comigo próprio (continução)

- Mas tu tens consciência de como isto seria se todos fossemos burgueses?
- Claro que tenho, qual é o problema?
- Uma sociedade de meninos mimados é o que era.
- Está-te a fugir o pézinho para o chinelo...
- Qual chinelo? Então não era, se todos fossem burgueses isso quereria dizer que ninguém soube o que é lutar pela vida.
- ... para o chinelo assim estilo reaça.
- Era só gente que teve tudo sem ter que lutar por nada. Seríamos TODOS assim, tens conscência?
- Tenho consciência de que estás a exagerar, a simplificar e a reduzir a questão a esterótipos.
- Quais estereótipos, quais carapuça?! Já agora é o que se vê!, o que mais há para aí é pessoal que passa a vida a lamuriar-se quando nunca teve problemas a sério.
- Não é bem assim...
- Então não é? Anorexias, neuroses, depressões, e o caraças...
- Bom, hoje estás imparável!
- Vê lá se quando foste a África alguém tinha depressões.
- Eles lá têm tempo para ter depressões...
- Precisamente! É isso que eu estou a dizer.
- Lá fome passam, agora depressões não.
- Pois, e como têm que trabalhar no duro sabem o valor que as coisas têm.
- Estou a ver, acho que já percebi onde queres chegar. O melhor mesmo é toda a gente passar por umas necessidadesitas que só faz é bem!
- Não estou a dizer que têm que passar fome, mas é um facto, passar por dificuldades ajuda a formar o carácter.
- Por muito que ajude a formar um bom carácter o que eu gostava mesmo era que eles não passassem fome.
- Eu também, mas...,enfim... a coisa tem o seu lado positivo, quer dizer...
- Exactamente, meu caro, quer dizer... Quer dizer que o melhor mesmo é a coisa continuar assim, alguns, poucos, burgueses mimados e com dinheiro, outros pobres, honrados, mas com carácter. É isso?
- Isso é distorcer as minhas palavras, é o que é.
- Então explica-te lá...
- O que eu quiz dizer - acho - é que não há sociedades perfeitas, se fossemos todos burgueses também haveria um problema grave de excesso de, por assim dizer, meninos mimados.
- Pois, estou a ver...
- É que de facto isso do pessoal que tem tudo de mão beijada, não tem problemas graves e ainda se lamuria que não-sei-quê-não-sei-que-mais não é bom.
- Então e tu queres melhor do que uma sociedade onde ninguém tem problemas a sério? Em que quem se quiser preocupar tem que arranjar problemas fictícios? Isso era o paraíso, meu caro!

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segunda-feira, maio 29, 2006

À grande e à Francesa - Descartes e d'Artagnan

Num post muito antigo escrevi que um tal Sr. H. me dizia, não sem razão, que o arquétipo do francês se pode resumir a dois mitos: Descartes e d'Artagnan. Passo a explicar a teoria do Sr. H. (que, diga-se, é francês). 1) Os franceses acham que têm sempre que demonstrar, argumentando de um modo racional e metódico (Descartes), que o seu interlocutor está errado, 2) E têm que fazê-lo com estilo (d'Artagnan). Voilà.
Nota (minha): Este arquétipo aplica-se apenas a uma sub-população dos franceses (a que o próprio Sr. H. pertence) que eu chamo "franceses-gauleses" e que se designam a si próprios "franco-franceses". Os Franceses esses são uma população muito mais vasta e diversa...

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domingo, maio 28, 2006

Está cientificamente demonstrado: Somos influenciáveis

Até que ponto a influência dos outros, e da sociedade em geral afecta as nossas escolhas e decisões? Foi publicado na revista Science, em Fevereiro, um artigo por Salganik et al com o curioso título "Experimental Study of Inequality and Unpredictability in an Artificial Cultural Market" (o resumo está disponível para toda a gente, e para assinantes há ainda o texto completo e um comentário). Este artigo, com um desenho experimental simples e elegante, procura perceber como é determinado o sucesso de um determinado produto, no caso música, e até que ponto é a qualidade do produto ou a influência social o que determina o sucesso. Os autores criaram uma página de internet, dirigida a jovens, onde tornaram disponíveis músicas que os participantes nunca tinham ouvido. Aos participantes era-lhes pedida uma opinião sobre cada música (nota de 1 a 5) e era-lhes dada a opção (mas não a obrigação) de fazer "download" das músicas. A um grupo de participantes foi dada a informação de quantos "downloads" tinham sido feitos para cada música (influência social), a outro essa informação foi ocultada (tomada de decisão independente). A conclusão foi que os participantes a quem foi dada a informação sobre a preferência dos outros foram influenciados por essa informação. A influência social é mais determinante do que a qualidade do produto apresentado, e torna o sucesso de cada produto mais dificilmente previsível.

O estudo teve mais de 14 mil participantes, o que o torna bastantes sólido em termos estatísticos. A escolha feita de utilizar um site de internet para este estudo experimental foi determinante para poder obter uma amostra tão larga (mais uma vantagem da internet). Os participantes do grupo de "influência social" foram divididos aleatoriamente em vários sub-grupos, sendo-lhes dada a informação sobre os downloads efectuados apenas no seu sub-grupo. O sucesso das músicas foi diferente nos diferentes sub-grupos, ou seja o sucesso é imprevisível. Um aspecto importante é que o desenho experimental permitiu separar as variáveis "qualidade intrínseca" do produto e a "influência social". O número de "downloads" e as notas dadas pelos participantes que não foram influenciados pelas escolhas dos outros (e sendo os diferentes grupos indestinguíveis estatísticamente) dão uma medida da "qualidade intrínseca" das músicas. E de facto há uma pequena correlação entre a qualidade e o sucesso, as músicas muito boas nunca são extremamente mal sucedidas, e o recíproco também é verdade, ou seja os casos extremos, no entanto todas as situações intermédias foram observadas. Convém ainda mencionar que vários aspectos do desenho experimental foram tidos em conta para evitar enviesamentos. Por exemplo a ordem pela qual as músicas apareciam no ecrã, ou a atribuição de um participante a um determinado grupo, eram ambas aleatórias.

Os autores discutem ainda no artigo que nas condições experimentais deste estudo os participantes estariam sujeitos a menos influências sociais do que estamos nós todos na "vida real". Ou seja, quando escolhemos um determinado produto, as opiniões dos outros provavelmente influenciam mais a nossa escolha do que a qualidade do próprio produto.
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À grande e à Francesa - Em Francês

Parece que houve um tempo em que a expressão francesa equivalente ao "À grande e à francesa" era uma expressão que entretanto caiu em desuso: "Come le Roi du Portugal".
P.S. - Porque será que a expressão caiu em desuso?

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sábado, maio 27, 2006

Há ainda um longo caminho a percorrer


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sexta-feira, maio 26, 2006

Música do CPE: A Charanga do Zé

Pois que é a vez do patrão do bistro escolher a música que toca, e vai daí pergunto eu "Então o que é que vai ser?", pergunta estranha quando se é cliente de um bistro, toda a gente sabe que é o patrão do bistro a fazer essa pergunta. Ele educadamente não me fez o reparo e pôs-se a pensar, e diz-me ele "pois desta vez vai ser o Barata Moura", e eu "o Barata Moura?", e ele "Nada disso, é o Barata Moura pá, põe aí a 'Charanga do Zé' a tocar". E foi o que fiz (com um grande beijinho para a C.), sai a Orquestra do Pinguim e entra a Charanga do Zé.


Vamos cantar oh-laré
Com a nossa Charanga
A charanga do Zé (BIS)

Temos o André Fininho
Espinafre ou Esparguete
Que canta um bocadinho
Com uma voz de falsete

Refrão

Temos a Rita Fofinha
Sempre Pronta na Risota
Que para andar bem na linha
Faz pino e dá cambalhota

Refrão

Temos a mãe muito quica
Que se farta de aturar
Esta gentinha que fica
doida de tanto brincar

Refrão

Temos o Pai Caçarola
Que dia sim dia não
Ora anda meio fachola
Ora anda meio resmungão

Refrão

E temos além disso
Muito mais que está p'ra vir
Batatinhas com choriço
Coisas para cantar e rir

Refrão

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quinta-feira, maio 25, 2006

Quem tem medo de um Admirável Mundo Novo?

"E, não obstante o Dr. Frankenstein e o Dr. Strangelove, as catástrofes da história resultaram menos dos cientistas que dos padres e dos políticos"
François Jacob, in O Jogo dos possíveis

Realizou-se em Berkeley, de entre 20 e 22 de Maio uma conferência sobre Biologia Sintética. A revista Nature dedicou um editorial e uma notícia ao assunto. A Biologia Sintética, que ainda está numa fase muito embrionária, pretende construir organismos vivos a partir dos seu componentes essenciais, ao contrário da tradição em Biologia até ao presente de trabalhar a partir dos seres já existentes. Este campo oferece novas possibilidades com inúmeras potenciais aplicações. Oferece também, como é fácil de imaginar, novos problemas éticos, e putativos perigos. Como não conheço a fundo a matéria, não me posso alongar em detalhes. No entanto o que me parece importante nestas notícias é a importância que as que tiveram na conferência discussões de ética, e sobretudo do código de conduta dos investigadores nesta área (o resumo da discussão, que continua a decorrer, está disponível on-line). Como é demasiado normal em questões destas o tom dos protestos é elevado. A ideia principal que os investigadores avançaram, e que me parece um bom ponto de partida, é que o primeiro nível de regulação é a auto-regulação, a regulação pelos próprios investigadores, pela comunidade científica. E isto não se aplica apenas à Biologia Sintética, mas à ciência em geral.

A ideia de a investigação ser regulada, em primeiro lugar, pelos próprios cientistas, é uma ideia que parece gerar muitos anticorpos fora da comunidade científica. Convém lembrar, como faz o editorial da Nature, que regulação pela comunidade científica, não invalida outros níveis de regulação. Também convém lembrar que em muitos aspectos já são os cientistas que se auto-regulam e com muito bons resultados. Os exemplos mais claros são o sistema de publicação em revistas com avaliação pelos pares, e o sistema de financiamento, particularmente nos EUA, em que são também os pares que decidem quem é financiado e quem não é. São dois óptimos exemplos de recompensa pelo mérito (a tal "meritocracia"). No entanto tenho a impressão (e é uma opinião subjectiva, porventura não suficientemente fundamentada), de que essa resistência à regulação pela própria comunidade científica está assente num medo, ou uma desconfiança, relativamente aos investigadores.

O livro "O Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley (1932) é um excelente livro, escrito por um autor visionário, mas é um livro de ficção científica. Não é um livro "apenas" de ficção científica, tem claramente a intenção de questionar, e levantar problemas éticos, e deve ser lido sob esse prisma. No entanto (nova opinião subjectiva) parece ter-se alojado no subconsciente colectivo para não mais sair. É particularmente evidente quando se assiste a um debate televisivo sobre clonagem, os receios criados por misturar realidades com confabulações fantásticas. Não sei se o livro de Aldous Huxley é uma causa directa ou indirecta desses receios, ou se essa era sequer a intenção do próprio autor (e talvez até fosse). Em qualquer caso funciona como uma excelente representação da imagem que se tem da ciência (ou pelo menos de uma parte dela). Imagem que me parece uma mistificação muito desfazada da realidade.

Sou de opinião que a ciência deve ser regulada em primeiro lugar pelos cientistas, e sobretudo quando são assuntos internos à ciência (o que investigar, como investigar). Tem que haver, naturalmente, outros níveis de regulação. Depois é preciso também saber o que fazer com as descobertas científicas, quando o saber produzido sai da comunidade científica para o resto da sociedade. Ai, devem ter-se em conta os pareceres dos investigadores, mas já não é aos investigadores que compete regular, é à própria sociedade (através das suas instituições). Numa sociedade democrática, a qualquer nível de regulação, ela tem que ser feita sob o escrutínio público. Quero dizer, mesmo ao nível em que actua a actua a auto-regulação deve haver transparência no processo, e estar sempre sujeito ao olhar do público. Mas para isso a opinião pública devia estar (e em geral, não está) informada, e sobretudo seria desejável haver antes do mais uma desmistificação.

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terça-feira, maio 23, 2006

João César das Neves, a genética e as lésbicas suecas

A propósito da última crónica de João César das Neves no DN a que cheguei através deste post. Nesta crónica João César das Neves dispara em pelo menos duas direcções diferentes, por um lado enviezamento dos jornalistas em certas questões, por outro o valor que certos estudos científicos podem ter na formulação de valores morais. A mim interessa-me este segundo ponto.

Citando um artigo na Proceedings of the National Academy of Sciences de Berglund et al. (já agora podia referir o nome dos autores para que o leitor possa mais facilmente procurar a informação), de que se pode ler o resumo aqui, diz César das Neves:

"Segundo as notícias, essa análise demonstra a "tendência homossexual determinada à nascença" e que a orientação sexual é genética.

Basta olhar para o conteúdo para notar que o trabalho citado não prova nada disso. Como de costume, os títulos pouco têm a ver com a realidade. O estudo, bastante limitado e preliminar, apenas analisou a reacção cerebral de algumas (poucas) pessoas a odores de hormonas.
"

Já que refere o conteúdo, podia elaborar um pouco mais no assunto e fundamentar as suas conclusões, em vez de afirmar liminarmente que não prova nada, ficando o leitor sem saber porquê. E de facto até tem razão quando diz que o artigo não prova que a tendência homossexual seja determinada à nascença. Não prova nem pretende provar. Os autores nem uma só vez em todo o artigo se referem a essa possibilidade, muito menos discuti-la ou testá-la (se algum jornalista tirou essa conclusão do artigo errou). Diz César das Neves que este estudo "apenas analisou a reacção cerebral a odores de hormonas" como se isso fosse coisa pouca. O estudo não é nada limitado. Neste tipo de estudos doze casos é já bastante significativo, e, sobretudo, há testes estatísticos pare se aferir se são poucos casos ou não, e que foram utilizados cuidadosamente neste caso. A análise estatística é mesmo apresentada sob diferentes cenários possíveis e as conclusões são as mesmas. Mais ainda, este artigo é tudo menos preliminar, vem já na sequência de um outro em que a mesma questão foi abordada em relação a homens homossexuais, e é aliás coerente com os resultados anteriores.

Mas afinal o que demonstra este artigo? Que o modo como reage o cérebro, mais especificamente o hipotálamo, de mulheres lésbicas ao odor de feromonas (hormonas sexuais) se assemelha muito mais ao modo como reage o hipotálamo de homens heterossexuais do o de mulheres heterossexuais. Ou seja a homossexualidade tem uma tradução fisiológica.

De um modo mais detalhado (quem não quer saber de detalhes salte para o parágrafo seguinte). Há duas hormonas a AND que é produzida em maior quantidade pelos homens que pelas mulheres, e EST que é produzido em maior abundância por mulheres do que por homens. AND e EST são muito provavelmente feromonas humanas, hormonas utilizadas na "comunicação sexual", destinadas a estimular (ou não) potenciais parceiros. O hipotálamo em homens e mulheres heterossexuais responde de forma de forma distinta à AND e à EST, o que quer dizer que quando expostos a uma destas duas substâncias o hipotálamo activa regiões diferentes consoante se é homem ou mulher (heterossexuais). Não sabemos o significado dessa diferença, mas ela existe e pode servir como critério de estudo. Mais, foi comprovado experimentalmente noutros mamíferos que o hipotálamo desempenha um papel importante na escolha do parceiro sexual, o que indica que aquelas diferenças são relevantes. Ora este estudo mostra que a reacção de mulheres lésbicas à EST (que é produzida por mulheres) é semelhante àquela observada em homens do em mulheres heterossexuais, e que contrariamente às mulheres heterossexuais não respondem à AND. O mesmo grupo tinha já publicado resultados que mostram que homens homossexuais, no mesmos tipo de testes reagem como mulheres heterossexuais. Curiosamente a semelhança é ainda maior neste último caso.

Estes resultados não sugerem nem refutam uma componente genética da homossexualidade. Esta semelhança entre o comportamento do hipotálamo de homossexuais e heterossexuais do sexo oposto pode ser uma causa da homossexualidade como pode ser uma consequência. Sendo o cérebro adaptável, certos padrões, como neste caso o hipotálamo (ou a relação entre QI e o desenvolvimento do córtex cerebral), tanto podem ser produto de uma aprendizagem como podem ser inatos.

E tudo isto contradiz a tese de César das Neves? Contraria antes de mais o nível simplista, leia-se redutor, a que César das Neves faz descer a questão. Ninguém quer fazer querer que a (homos)sexualidade é uma questão meramente genética. Há possivelmente (e provavelmente) factores genéticos como há factores ambientais envolvidos na escolha da sexualidade. A elaboração de juízos morais deve ter em conta essa complexidade. Nessa visão simplista César das Neves separa incorre no velho "(O) Erro de Descartes" (cf. António Damásio), e separa na natureza humana o que é racional do que é instinto "Apesar destes esforços de manipulação, a atitude sexual está longe de ser um instinto acéfalo absolutamente incontrolável. Cada um de nós, pessoas racionais, continua a poder determinar a sua vida de forma autónoma." Ao arrepio de qualquer evidência empírica César das Neves já decidiu. O que este, e muitos outros estudos, vêm demonstrar é que as nossas decisões racionais têm uma tradução fisiológica, estão intimamente relacionadas com aquilo a que chama "instinto acéfalo", fazem parte de uma mesma unidade.

Mas a questão central no artigo de João César das Neves é o valor destes estudos na elaboração de um juízo moral: "Isto significa que, quanto à questão valorativa, estas investigações são irrelevantes." Não são de todo irrelevantes! Os valores morais e éticos são, e devem ser influenciados pelo avanço do conhecimento. Pegando nos exemplos que dá o próprio César das Neves, o racismo e a homossexualidade. Porque será que as coisas mudaram nos últimos cem anos? A antropologia, mesmo carregada de preconceitos raciais, sobretudo na primeira metade do séc.XX nunca conseguiu demonstrar diferenças relevantes entre "raças", aliás acabou por demonstrar que, do ponte de vista biológico, o conceito de "raça" na espécie humana nem faz sentido. Será que esses estudos contribuíram para mudar o preconceito racial? Uma doença para ser considerada como tal deve provocar morte prematura ou incómodo grave, a medicina nunca demonstrou nem uma coisa nem outra para a homossexualidade. Será que isso contribui para a ser retirada da lista das doenças psiquiátricas? O artigo de Berglund et al. ao demonstrar que a homossexualidade tem manifestações fisiológicas diz-nos que, e contrariamente ao que defende César das Neves, a homossexualidade faz parte da natureza humana para além da simples decisão racional. Descobertas destas podem, e é bom que o façam, mudar a nossa visão sobre a homossexualidade, logo podem também influenciar o julgamento moral que delas fazemos.

E afinal de onde vem a mudança dos valores morais, ao longo do tempo, senão da evolução do conhecimento que temos do mundo?


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Mais sobre os direitos dos animais

No Conta Natura. Duas posições antagónicas neste e neste posts mais antigos que me passaram ao lado, em boa hora um amigo me chamou a atenção (obrigado VB!). Também este mais recente, marginalmente relacionado com os direitos dos animais, mas a não perder (obrigado VB!)


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segunda-feira, maio 22, 2006

Sob o signo da verdade.


Metamorphose de Narciso - Dali


Confesso que não li, nem leio, mas não resisto à tentação do post fácil. Dito isto, concordo com o que diz Carlos Leone.


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sábado, maio 20, 2006

Está tã' linda, tã' verde!


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sexta-feira, maio 19, 2006

Não sei se já repararam...

...mas há boas notícias, o umafotopordia continua em actividade. A coisa até era para durar só um ano, mas felizmente estão a aparecer novas fotos todos os dias, uma por dia como sempre. Vale a pena ver, e voltar a ver.


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Da caixa de SPAM: Batalha Naval


(antes que seja tarde, e se confirme que afinal era falso alarme...)



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quinta-feira, maio 18, 2006

O affair Clearstream, o Le Monde e o jornalismo de anticipação

Voltando ao que escreveu João Pedro Henriques, no Glória Fácil sobre o jornalismo de antecipação. JPH defende que, particularmente em assuntos políticos, a imprensa escrita não tem outro modo de concorrer contra as televisões.

Em tempos ultra-concorrenciais como os de hoje, jornalismo político a sério num jornal (é de jornais que falo) não sobrevive sem antecipações. Um jornal, pelo menos, não sobrevive - e isto se quiser ter algum crédito enquanto produtor de jornalismo político. Às vezes, perante acontecimentos de agenda que serão merecedores de extensiva cobertura televisiva - e sabendo-se, portanto, que no dia seguinte dificilmente os jornais poderão dizer algo de verdadeiramente novo - a antecipação é o único valor noticioso acrescentado que um jornal pode dar aos seus leitores. Não o fazer implica, num jornal, subordinar-se ao esmagamento televisivo, ou seja, resumir-se a um jornalismo de acta (por mais colorido que seja) e pouco mais.

Posição reafirmada aqui. Parece-me a mim que com esta novela que tem sido do "affair Clearstream aqui em França, o jornal Le Monde tem demonstrado o contrário. Todo o escândalo foi despoletado com uma série de notícias publicadas na imprensa escrita, primeiro o Le Monde, e depois alguns outros jornais trouxeram informações novas. Tem sido a imprensa escrita quem faz a actualidade e as televisões vão a reboque. O Le Monde, em especial tem demonstrado saber fazer um trabalho de investigação notável. Mais do que em "fontes", as notícias cruciais são baseadas em documentos a que os jornalistas conseguiram ter acesso, dando uma solidez a toda a prova a essas notícias. Dois exemplos concretos: o bloco de notas do general Rondot, e as transcripções das audições que os juízes fizeram a propósito das listagens falsas (quando estavam, e acho que ainda estão, em segredo de justiça). Relembro que toda esta história abalou violentamente a cena política francesa, à direita, e ainda não é seguro que o governo se aguente à bronca.

Isto para dizer que talvez a melhor maneira da imprensa escrita concorrer com as televisões é pelo jornalismo de investigação, mas não só. As informação televisiva está "prisioneira" a vertigem da notícia de última hora. Onde JPH vê uma vantagem para as televisões, eu vejo uma vantagem para a imprensa escrita. O jornais têm um bem precioso que a televisão não tem (ou não quer ter), o Tempo. Porque não um jornalismo de investigação e reportagem, de análise, e claro, também de opinião? É daí que podem vir as novidades de que fala JPH, novidades que as televisões não dão, e que podem fazer o leitor preferir a imprensa escrita à informação televisiva. São coisas que se adaptam muito melhor ao espaço dos jornais do que ao da televisão. E podem dizer-me que tudo isso já existe na imprensa escrita, aí eu digo, então que se especializem neste tipo de jornalismo, e deixem a actualidade para as televisões. O primeiro milho é para os pardais.


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terça-feira, maio 16, 2006

A novela Clearstream

Ainda que mal lhe pergunte, o estimado leitor tem estado a acompanhar a cena política aqui em França? Está a par do escândalo que anda nas bocas de toda a gente? Olhe, deixe-me que lhe diga, isto tem sido uma novela que põe os melhores folhetões Venuzuelanos a um canto. Quem sabe até talvez chegue ao nível duma TVI. A coisa mete espionagem, ambições políticas, traições, polícia, tribunais, eu sei lá, é uma escandaleira. Mas o que vale é que aqui há jornais, então o povo vai sabendo tudo o que se passa. É, com os pormenorezinhos todos, é fantástico, isto é que é democracia, informação para todos. Isto tudo começou há muito tempo, lá para o princípio dos anos 90, quando foram vendidas umas fragatas a Taiwan, e parece que alguém meteu dinheiro ao bolso, até aí tudo normal. Acontece que há p'rá'i uns três ou quatro anos, quando o actual primeiro-ministro Villepin era ainda ministro dos negócios estrangeiros, um corvo enviou umas cartas anónimas a acusar umas quantas personalidades políticas de terem metido dinheiro ao bolso com a estória das fragatas. Corvo, é um eufemismo para Bufo, Chibo, e outras demais formas de denúncia anónima, mas tem mais charme e é mais enigmático. Entre as personalidades acusadas está o actual ministro do interior Sarkozy, candidato a candidato à presidência da república. Villepin, também é candidato a candidato, e com o apoio do seu mestre e tutor, o actual presidente Jacques Chirac (está bom de ver que Sarkozy e Villepin são bons amigos). E vai daí o Villepin, enquanto era ministro dos negócios estrangeiros, ao que consta a mando do presidente Chirac, manda investigar o Sarkozy. O presidente diz que não é nada com ele. Ora, para investigar o amigo Sarkozy, o amigo Villepin não se fica por menos e apela aos serviços secretos. E afinal o corvo não era nada anónimo coisa nenhuma é amigo do Villepin, um tal de Gergorin (com uma carinha laroca destas nem vale a pena pôr uma caricatura) que tem uma pancada feia por livros de espionagem e teorias da conspiração. E mais ainda, teve uma reunião com o juiz a quem mandou as cartas anónimas para lhe dizer que ia mandar as cartas anónimas, não fosse o juiz não levar as ditas a sério. Pequeno pormenor, os nomes de personalidades políticas que supostamente teriam recebido dinheiro foram acrescentados à má fila aos de quem terá realmente recebido dinheiro, ou seja manipulação e documentos forjados. E o tal Gergorin, amigo do Villepin, até esteve presente na reunião do Villepin com o general Rondot dos serviços secretos, que ficou encarregue de investigar o Sarkozy. Ora, o general Rondot tem uma obsessão por tirar notas exaustivas, e eu aproveito para lhe agradecer, daqui deste meu humilde blogue, a sua preocupação, porque se não fossem as suas notas tão completinhas os jornalistas estariam provavelmente por esta altura a escrever disparates, e nós estaríamos aqui a apanhar bonés sem perceber o que se passou. Parece é que a ministra da defesa, a madame Aliot-Marie não ficou contente por terem utilizado os serviços secretos sem o seu conhecimento (dela). O presidente diz que não é nada com ele. Eis que senão quando rebenta a bronca, o Le Monde jornal reputado e com bons profissionais fez o trabalhinho de casa, investigou, deu com o bloco de notas do general e com os depoimentos aos juízes que ainda estavam em segredo de justiça, e bota a boca no trombone. Daí para cá, para o pobre Villepin tem sido só porrada e mal viver. O presidente diz que não é nada com ele, mas que confia no governo. E o pessoal a dizer que não sei quê, que usou os meios do estado para fins políticos próprios, que não sei que mais, que fomentou denúncias caluniosas e tal e coiso, e não sei que mais. Parece é que na altura até seria o Chirac quem queria dar cabo do Sarkozy, mas o presidente diz que não é nada com ele. O Sarkozy, esse faz-se de vítima, pobre dama violada (quem é que terá passado as informações para a imprensa?), que não abandona o governo porque lhe dá mais jeito para as suas ambições políticas ser ministro do interior, que tem controlo das polícias para chatear a chungaria, e que pode pôr os imigrantes daqui para fora e tudo. Não, desculpem, enganei-me, ele não disse nada disso, se não me engano o que ele foi que continuava no governo porque está ao serviço da França, sim agora me lembro, foi isso que ele disse. Também diz que nunca soube de nada, que foi apanhado de surpresa e que de qualquer modo não quer saber de intrigas. O general Rondot deu-lhe conhecimento da intriga há já muito tempo. Nisto o PS finalmente deu sinal de vida, o seu líder François Hollande, a quem chamam o culbuto (atenção, pronuncia-se culbutô) porque se aguenta sempre de pé contra todas as espectativas, criticou o governo como lhe competia. Apresentou uma moção de censura que estava condenada a ser rejeitada, porque o partido do governo tem maioria absoluta, mas o PS apresentou bem a sua iniciativa, teve visibilade e conseguiu marcar mais uns pontinhos (vejam lá que até conseguiu desviar a atenção da disputa interna pela candidatura à presidência, se bem que aquilo não tem tanto potencial, não é um saco de gatos como na direita, é até um bocado boring). Só é pena é o PS não ter tido tanta pujança na altura dos tumultos nos subúrbios ou na crise do CPE, mas enfim, agora estiveram bem. O presidente, esse diz que não é nada com ele.

Estimado leitor, percebeu esta estória do Clearstream? Não...Então veja isto, talvez dê para perceber melhor (sacado no Le Monde):


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segunda-feira, maio 15, 2006

Ainda os direitos dos animais

Este post que escrevi sobre os direitos dos animais deu origem a um diálogo na caixa de comentários, com o Hugo Mendes, que escreve, no Véu da Ignorância. Um diálogo que por termos opiniões diferentes nos fez desfilar quase todo o argumentário de um lado e de outro da questão. Quer dizer, pensava eu que era o argumentário quase todo. Entretanto o Hugo escreveu este mais post sobre o assunto que deu origem a mais comentários. Pela minha parte vou tentar não repetir o que já disse (talvez com uma excepção), mas há questões que ficaram sem resposta.

Começando com a excepção, acho que devo clarificar a questão da religiosidade a que fiz alusão no primeiro post, e que o Hugo criticou. Apesar de a linguagem que usei aludir à doutrina cristã, ou mesmo católica, não é esse o meu alvo. Desde há muito tempo que tenho a impressão que quem defende os direitos dos animais (e neste caso não estou a falar do Hugo, mas de algo muito geral) baseia a sua argumentação numa religiosidade subconsciente (ou talvez mesmo consciente). A argumentação é que sendo os humanos superiores, nomeadamente na sua inteligência, isso nos confere uma responsabilidade relativamente ao bem-estar dos animais, e logo direitos. Na minha opinião este antropocentrismo ao elevar o homem a uma categoria superior, está a colocá-lo uma categoria (quase) divina. De certo modo o homem substitui Deus. Isto é ainda mais notório quando se hierarquizam os animais consoante a sua semelhança, em determinados aspectos, connosco humanos, e se atribui mais direitos aos que se nos assemelham mais. Ora, está por demonstrar a superioridade do homem em relação aos outros animais no que quer que seja (porque não somos imparciais nessa avaliação, porque a nossa incapacidade em detectar formas de inteligência idênticas à nossa não prova que elas não existam, porque o conceito de superioridade é arbitrário), mas mais do que isso essa suposta superioridade é irrelevante para esta questão. A posição que defendo é a que simplesmente somos uma espécie de animais, que se organiza em sociedade, que essa sociedade tem regras, mas essas regras vinculam apenas os que fazem parte dessa sociedade, os humanos. O bem-estar das outras espécies não é da nossa responsabilidade enquanto humanos.

Isto da sociedade humana é uma introdução a uma questão que me colocou o Hugo, e que é de facto central neste assunto: Já agora, posso devolver a questão. Pode parecer absurda, mas já que discutimos critérios, acaba por ser essencial: qual é a justificação para a excepcionalidade dos direitos dos humanos? Porque direitos para eles e não para os animais? :). É, obviamente uma questão de princípios morais e éticos. Começando por uma constatação, nós humanos somos uma espécie animal que se organiza em sociedade, quer isso dizer que a nossa (sobre)vivência depende das interacções com os outros membros da espécie. A partir daqui a constatação transforma-se em princípio moral, ético. Na minha opinião, a organização social humana deve basear-se na solidariedade, e a solidariedade deve basear-se primeiramente nos direitos fundamentais de cada ser humano. Claro que essa solidariedade pode e deve ser aprofundada para além dos direitos fundamentais, mas isso é outra questão. Agora quando há conflito entre bem-estar dos animais e dos humanos, pelo dever de solidariedade a que estamos obrigados, deve prevalecer o nosso bem estar. E, de certo modo há sempre um conflito, que me leva a outra questão.

Atribuir um valor ao bem-estar do animal, directa ou indirectamente, leva a um conflito de interesses com o bem-estar humano. Pegando no exemplo que o Hugo usou, o de tratar condignamente os animais destinados à para a produção de alimentos (relembro que esta discussão é a propósito das leis que se podem fazer para regulamentar o tratamento que damos aos animais). Se uma empresa resolver tratar os animais de uma forma que se considere mais civilizada do que o que se faz actualmente não há problema, quem quiser comprar comida produzida por essa empresa está no seu direito. Mas provavelmente essa produção, para melhor acomodar o bem-estar dos animais, torna-se mais dispendiosa. Será justo obrigar-nos todos a pagar mais pela alimentação para assegurar o bem-estar dos animais? Imagine-se a posição dos que tendo poucos recursos, acham que os seus direito não são suficientemente acautelados, e seriam obrigados a pagar mais pela comida. O mesmo raciocínio poder-se-ia aplicar à investigação (na prática o problema não se coloca, porque não é do interesse dos investigadores fazerem experiências em animais mal cuidados ou sob stress, e porque os animais de laboratório estão adaptados às condições de laboratório), mas imagine-se que para assegurar o bem-estar dos animais se aprovavam regulamentações que tornariam a investigação mais dispendiosa. Sendo a investigação financiada em grande parte (quando não exclusivamente) com dinheiros públicos, seria correcto, por hipótese, consumir recursos com o bem-estar dos animais em prejuízo da qualidade da investigação? Parece-me a mim que sempre que se estiver a atribuir um valor legal aos direitos dos animais vai entrar-se em conflito com os nossos próprios interesses, quanto mais não seja porque estar-se-á sempre a dirigir, pelo menos recurso materiais para o bem-estar dos animais, acontece que os recursos são limitados, e há humanos que necessitam.

Nota: Se a argumentação de quem defende os direitos (ou como diz os Hugo, os interesses) dos animais fosse sempre razoável e equilibrada, como é a do Hugo ou do timshel (do que li dos comentários, confesso que ainda não li tudo) eu até estava descansado. O que me preocupa é que os radicais consigam influenciar as decisões políticas, simplesmente porque fazem muito barulho (e, de facto, fazem). Como já referi no primeiro post, não parece que a opinião pública esteja a mudar no que toca a esta questão. Não é demais lembrar que o primeiro post que escrevi surgiu com a anunciada proibição de vender e consumir Foie Gras em Chicago, e com a notícia de que outros estados dos EUA se seguirão.


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domingo, maio 14, 2006

Ena, ena, são já para cima de mil!?

Olhe desculpe, o sr. aí, ou a sra., na verdade nem sei... Sim, você, é consigo que estou a falar. Você não é da Bretanha? Não passou por aqui ontem, mais para o fim da tarde, assim de fugida? Vindo(a) dali da garedelest... Pois é consigo mesmo que estou a falar. Era só para dizer que teve a duvidosa honra de ser o milésimo(a) visitante aqui da avena agreste desde que o sitómetro está a funcionar. Bom isto de sitómetros não quer dizer grande coisa... Mas caramba, mil é um número giro, redondo, tem piada. E a si estimado leitor que provavelmente nem vai ler este post, olhe, muitos parabéns!


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sábado, maio 13, 2006

Música do CPE: A Orquestra do Café Pinguim

Sai o "Rita Mitsouko" e entra "The Penguin Cafe Orchestra" aqui na jukebox do CPE. O tema que toca ali na coluna da direita, "Beanfields", é tirado do álbum "When in Rome" de 1988. Mais ou menos por essa altura, na digressão de apresentação os "The Penguin Cafe Orchestra" tocaram em Lisboa, se não me engano pela primeira vez, e foi também a primeira vez que ouvi falar deles. Na sua génese é um projecto individual, do líder da banda, o inglês Simon Jeffes, e leva já muitos anos de existência. O som situa-se numa área indefinida e indefinível do panorama musical, o que para quem gosta de categorizar e espartilhar as coisas, e fazer divisões a régua e esquadro, pode ser um pesadelo. Para quem gosta de ouvir a música, e aprecia a originalidade, pode ser uma muito agradável surpresa. Por exemplo o iTunes classifica como "Electronica/Danse", nada mais inapropriado. Pode tentar-se uma classificação aproximativa, qualquer coisa ali entre a música (dita de) erudita e o folk europeu, principalmente Celta, com umas influenciazitas minimalistas de um Phillip Glass subliminar e porque não dizê-lo um cheirinho muito leve de Jazz. Mas classificações para quê? Ladies and gentlemen de one and only Penguin Cafe Orchestra.





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sexta-feira, maio 12, 2006

Ides levar uma coça, senhores!

Nem vos digo, ides levar um tareão dos antigos.

(piada semi-privada em forma de provocação)

Disputa-se hoje o mítico derby do que resta da esquerda estalinista proletária em Paris, no não menos mítico Stade Elisabeth. Frente a frente tão somente o Spartak d'Alésia (link só para assinantes) que recebe o Dynamo de Belleville. A rivalidade é lendária, as paixões exacerbadas. Mais do que o resultado, está em jogo saber quem é o original e quem é a cópia (as versões, claro, divergem), saber qual o verdadeiro baluarte do pró-sovietismo (de segundo grau?), quem é a verdadeira equipe da esquerda (caviar?). O Dynamo, que vem lá da rivedruate, (ora está bom de ver que não na rivedruate que reside a verdadeira esquerda) pensa que nos vai desfeitear na nossa própria casa? OK, Elizabeth não é um nome muito de esquerda, mas a culpa não é nossa que não fomos nós que escolhemos o nome. Como bons proletas, nem casa temos, como bons esquerdistas é o estado que nos aloja. Seja como for, nas quatro linhas, vamos cilindrar, agora que a velha glória do Dynamo já nem pode dar o seu contributo à equipa, não tendes hipóteses. Estivesse cá o maradona e queria ver que análise ele faria ao jogo. Posso garantir que, contrariamente ao meu outro clube, não estamos em risco que descer de divisão, não porque não haja uma divisão inferior, que não há, mas mesmo que houvesse estaríamos tranquilos porque fizemos uma campanha muito respeitável, já o Dynamo... também não (aliás reparei agora que estamos separados por um mísero pontinho). E ainda para mais hoje não podemos jogar de vermelho, porque até nisso o Dynamo nos imitou, temos de jogar com o equipamento alternativo.
Depois acabamos todos no terceiro meio-tempo a beber Leffe ou Seize, e a comer fritas com mostarda.

Adenda: Um dos visados por esta petite provocation acusou o toque, eu só digo: logo à noite se verá! (Mourinhices, eu?)

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quinta-feira, maio 11, 2006

Direitos humanos para os animais?

Parece que nos últimos anos as acções em defesa dos "direitos dos animais" têm vindo a aumentar. O problema (sim, trata-se de um problema) afectava sobretudo a investigação científica em que se usa animais para experimentação. Vários artigos na revista Current Biology dão conta da situação em particular no Reino Unido. Activistas (radicais?) dos direitos dos animais perpetraram agressões, actos de vandalismo, e ameaças dirigidos não só contra investigadores mas também contra quem esteja directa ou indirectamente ligado à investigação. Um exemplo disso são as ameaças que sofreram os empregados da empresa responsável pela construção de um novo edifício para as ciências biomédicas em Oxford. Em Bristol chegaram a ocorrer atentados à bomba em 1989 e 1990 (Current Biology vol.15, nº19, 5 Oct 2004 e vol. 15 nº21, 15 Nov 2005, links disponíveis só para assinantes). No entanto isto não corresponde a uma mudança na opinião pública, a única evolução que houve foi um ligeiro aumento do apoio à investigação com utilização de animais (ainda na Current Biology, Vol. 16, nº1, 10 Jan 2006).

Mas já não é só a investigação que é afectada por este problema (talvez nunca tenha sido). Recentemente a cidade de Chicago decidiu proibir o consumo de Foie Gras, porque os animais que servem para preparar essa iguaria são tratados de forma "desumana" (notícias aqui e aqui), e noutros estados dos EUA preparam-se medidas idênticas. Que fique bem claro que o que me preocupa é que se façam leis destas, ou que se limite a investigação. Quem quiser não comer Foie Gras que não coma. Quem quiser tratar o seu caniche tão bem ou melhor do que trataria um filho que o faça, é uma opção pessoal. Não vejo problema nenhum nisso. Agora não nos obriguem a todos a tratar os animais como se fossem humanos, isso já algo completamente diferente. Os animais não são humanos! Se agora é isto, o que virá a seguir? Assistência Veterinária para os animais de estimação subsidiada pelo estado? E se, por hipótese, a epidemia do vírus H5N1 da gripe das aves atingir os pombos (que são susceptíveis como qualquer ave) e for preciso tomar uma atitude drástica sob pena de pôr em risco a população humana?, o que vão dizer os activistas dos direitos dos animais?

Acho que há aqui uma questão de prioridades. Como disse o Mayor de Chicago, Richard Daley (que esteve contra esta decisão do "City Council") "Temos crianças que são mortas por chefes de gangs e passadores de droga. Temos problemas a sério aqui nesta cidade (...) Vamos lá a estabelecer prioridades" (tradução minha). Pôr os direitos dos animais à frente dos direitos humanos, sobretudo quando há humanos cujos direitos fundamentais não são respeitados, isso sim é desumano. Para além disso, na minha opinião, há uma questão mais fundamental nisto dos direitos dos animais. Não percebo o porquê de, sendo nós humanos, termos uma obrigação moral relativamente ao bem estar dos animais. É como se, por sermos feitos "à imagem e semelhança de Deus" tivéssemos uma obrigação, como seus representantes na terra, de zelar pelos "produtos menores" da sua obra. A mim não me parece uma razão suficientemente boa para fazer leis a proteger os direitos dos animais.



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quarta-feira, maio 10, 2006

Quizz: A abolição da escravatura em França foi em 1794 ou em 1848?

Resposta: Foi em 1794 e em 1848. Hoje, 10 de Maio, comemora-se o aniversário da abolição, a segunda e definitiva em 1848. Pergunta-se o leitor: como será possível haver duas datas para a abolição da escravatura? É que entre uma e outra houve o re-establecimento da escravatura. Em 1794, mais precisamente a 4 de Fevereiro, ainda durante o periodo da Revolução Francesa é abolida a escravatura em França, pela primeira vez. Mas eis que a 20 de Maio 1802 um tal de Napoleão Bonaparte decide re-establecer a escravatura. E isto, se calhar é uma coisa que toda a gente sabe, e que eu, até há pouco tempo, só não sabia por ignorância, mas surpreende-me que se fale tão pouco do assunto. Claro que há uma direita francesa chauvinista, com os seus historiadores de serviço, que trabalha afincadamente no revisionismo da História de Napoleão, e talvez por isso se fale pouco do assunto. De qualquer modo re-establecer a escravatura depois desta abolida, quando os ex-escravos são já livres é um enorme crime contra a humanidade. Sim, porque está bom de ver que ex-escravos livres nunca aceitariam de bom grado regressar à condição de escravos. Sobretudo depois de já integrados, tanto quanto possível, na sociedade, alguns deles mesmo incorporados no estado, nomeadamente no exército. Para conseguir levar à prática a decisão de re-establecer a escravatura foi cometido um genocídio. O escritor/filósofo/historiador Claude Ribbe publicou o ano passado o livro "Le crime de Napoleon" em que defende que sob as ordens de Napoleão foram mortos milhares de antigos escravos nas antilhas francesas, como forma de poder regressar ao sistema esclavagista. Nomeadamente foram utilizadas câmaras de gás, com óxido de enxofre, em barcos da Marinha francesa. E foram depois importados novos escravos directamente de África. Confesso que ainda não li o livro, li apenas nos jornais sobre o assunto, e entrevistas com Paul Ribbe, não conheço portanto os pormenores desta tese, nem a sua fundamentação. Mas de qualquer modo o que é incontestado é que Napoleão re-implementou a escravatura que a Revolução Francesa havia abolido.


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segunda-feira, maio 08, 2006

A mosca com os nervos em franja

Olhando por fora vê-se-lhe a franja.
Olhando por dentro vêm-se-lhe os nervos.


(e por falar em mosca, foi publicado há pouco tempo um artigo sobre moscas, na respeitabilíssima, revista Development com o título "Roadkill attenuates Hedgehog responses through degradation of Cubitus interruptus", que se pode traduzir como "Animal-morto-na-estrada atenua a resposta ao Ouriço-Caixeiro através da degradação do Cúbito-interrompido". Perceberam? Pode ser muito interessante, e é, para quem percebe, mas mesmo não percebendo é divertido, não é? É tão giro trabalhar com moscas!)

Agora uma explicação mais técnica, mas porventura menos divertida, sobre as imagens ali em cima. A primeira é uma simples fotografia do dorso de uma mosca Drosophila melanogaster tirada com uma camera digital integrada numa lupa binocular (um híbrido entre a lupa vulgar e o microscópio). Os pêlos que se vêm, a "franja", na realidade são orgãos sensoriais do tacto.
A segunda imagem é obtida através de microscopia de fluorescência, e permite ver os nervos numa pupa, também na região do dorso tal como a imagem acima. A pupa é uma quase-mosca que ainda não saiu do casulo. A verde estão marcados os neurónios que ligam os orgão sensoriais ao resto do sistema nervoso, há um neurónio por cada orgão sensorial (i.e. pêlo). Em vermelho, para quem tem bom olho, vêm-se umas céulazinhas de suporte dos neurónios, também uma por orgão.
Em ambas as imagens a região da cabeça, que fica fora da foto, seria para o lado esquerdo. E quem quiser ver os pêlos da mosca no contexto duma mosca inteira que carregue aqui.



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domingo, maio 07, 2006

Conseguimos o improvável!


O Belenenses conseguiu miseravelmente, contra todas as expectativas, descer mais uma vez à divisão de Honra. O Couceiro, esse então bizou na façanha que ja havia conseguido com o Alverca há um par de anos.
Mas claro que a culpa é dos árbitros, do sistema, dos grandes...
Quando se tem como política de contratações recrutar só jogadores a custo zero, o mais que se consegue é ir buscar o que os outros não querem; umas quantas promessas aidadas, outras apostas falhadas, ou então jogadores com lesões crónicas. Com um muita sorte se arranja um bom jogador em fim de contrato cujo clube não tenha dinheiro para pagar. Não se podem queixar porque até conseguiram ter lá um Meyong durante um ano, mas não chegou.
Quanto ao Presidente, obviamente, demita-se!

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sábado, maio 06, 2006

Música do CPE: Agora algo completamente diferente

Na continuação da pareceria musical com a Garedelest apresentamos agora algo de completamente novo, nunca antes visto no CPE: Les Rita Mitsouko com o tema "Y'a d'la Haine" do albúm Système D de 1993. Les Rita Mitsouko, uma banda mítica do rock francês, que vem desde o princípio dos anos 80 (a banda, porque o rock francês é um nadinha mais antigo) tem um som muito particular (a banda, e o rock francês também mas não tanto) como se pode ouvir ali na coluna da direita.

Adenda: aqui vai a letra, agora completa e revista pelo patrão do bistro parceiro.


"Y'a d'la Haine"
por: Les Rita Mitsouko
do album: Système D (1993)

On n'a pas que de l'amour
ça non!
On n'a pas que de l'amour à revendre
ça oui! Y'a d'la haine
On n'a pas que de l'amour
ça non! Y'a d'la haine

La haine aussi
faut qu'elle se répande
sans que ça freine

Y'en a même un sacré bon paquet
Eh ouais
Ouais quand même
Quand même

On n'a pas que de l'amour
ça non!
On n'a pas que de l'amour à revendre
ça oui! Y'a d'la haine

On est tout endolori
Et on se sent très amoindri
Est-ce que nos cœurs ont rétréci ?
Est-ce qu'on en sortira grandi
Est-ce que nos cœurs ont désséché
à force d'aimer les objets
On ne sait comment se faire pardonner
ni même si on a droit à quelque excuse
que ce soit pour le saccagé monté de la matière vivante sur cette planète
on ne sait plus on se mettre
nous autres de la France
une fois de plus on fait ce qui nous arrange
il fallait qu'on vous le dise
c'est dit c'est fait
si nous passions maintenant à tout autre chose
soyons plus positifs
rien ne sert d'être trop triste
au contraire
bien au contraire

On n'a pas que de l'amour
ça oui! Y'a d'la haine

La haine aussi
faut qu'elle se répande
sans que ça freine

ça fait de la peine mais
il faut bien qu'on la mette quelque part
ça fait de la peine mais
ça fait de la peine mais
il faut bien qu'on la mette quelque part



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Afinidades culturais

Aqui pelo, quatorzième, aproximamo-nos do café dos Minhotos, e ouve-se na rua uma enorme algazarra no establecimento. Passamos à frente, olhamos para dentro, e vemos não mais de três clientes a galhofar na mesa do canto.

- Ah vous les, portugais, hein... Quoique, en Guadeloupe c'est pareil. On a pas besoin de beaucoup de gens pour faire tout un bordel.
- C'est normal! En Guadeloupe vous êtes plutôt noirs aussi, non?

Tradução:
- Ah vocês os portugueses, hã... Se bem que na Guadaloupe é a mesma coisa. Não são precisos muitos para fazer uma algazarra destas.
- É normal! Vocês na Guadaloupe também são mais para o negro, não são?



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quinta-feira, maio 04, 2006

Já não há Mártires como antigamente...

Foram eliminados pela Selecção Natural.



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Da caixa de SPAM: Exame de Matemática


(Piada para Geeks e Nerds)



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terça-feira, maio 02, 2006

Discutivelmente a melhor colectânea da história da Música Brasileira


Quanto mais não seja porque são dois CDs, 36 músicas, quase três horas de Gilberto Gil.
Com isto da Música do CPE até dá vontade de pôr umas quantas músicas desta colectânea, por exemplo ali no post anterior até ia bem o "Mico Preto"...

P.S. - Rendez-vous no Zenith dia 7 de Julho, avis aux amateurs.



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