quarta-feira, junho 21, 2006

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Discutivelmente o melhor albúm da história do Jazz


Gravado em 1974 "Dizzy's Big 4" é um álbum retrospectivo, uma espécie de autobiografia musical. Pessoalmente vejo este disco como se Dizzy tivesse resolvido olhar para trás, na altura para os seus trinta anos de carreira, e tentasse colocar o sumo do seu legado musical num LP. O resultado é magnífico. Gillespie visita alguns dos "seus" temas antigos, e curiosamente, dando o tal toque autobiográfico, re-interpreta dois clássicos que levam o seu próprio nome no título; "Be Bop (Dizzy's fingers)" e "Birks Works" (o nome de baptismo de Dizzy é John Birks Gillespie). Ainda para mais, a abrir o álbum ainda uma tomada de posição política (atente-se que o disco é de 1974), a primeira faixa tem por título "Frelimo", também um composição sua. Neste álbum Dizzy Gillespie passeia-se por estilos bem distintos para dar uma mostra de toda a sua versatilidade. Interpreta compositores tão improváveis num mesmo disco de Jazz como Irving Berlin (na valsa "Russian Lulaby") ou Kurt Weill (em "September Song"), o primeiro tema numa versão profundamente alterada, moldada ao seu estilo, a segunda mantendo essencilemente o espírito da versão original.

A formação em que Dizzy Gillespie se apresenta neste álbum é também no mínimo curiosa, um quarteto sem piano nem saxofone (So what?). Na guitarra Joe Pass tem um papel duplo. Quando Dizzy toca, Pass faz a secção rítmica, e no resto faz o contra-ponto de Dizzy aos solos de Dizzy com os seus solos de guitarra. Cumpre a sua função na perfeição, sem nunca tomar o "center stage" a Dizzy. No contrabaixo Ray Brown, também ele um veterano do BeBop, e na bateria Mickey Roker, que tal como Joe Pass pertence já a outra geração, cumprem impecavelmente os seus papeis na secção rítmica, seja nos tempos elevadíssimos dos temas como "Be Bop" ou "Frelimo", ou nos outros de tempos mais lentos como "September Song" e "Jitterbug Walts", este um tema de Fats Weller que fecha o álbum.

E depois há ainda uma particularidade que eu adoro nos bons discos de Jazz - e que provavelmente ultrapassa, pelo menos em parte, o próprio músico - são as "notas introdutórias", quando são bem escritas. E normalmente até são muito informativas. Neste caso é a pena de Benny Green que nos apresenta uma excelente prosa. Por exemplo:

... perhaps after all nothing has changed very much in the art of making Jazz since Dizzy first emerged and scandalized so many conservative spirits. The standard small-group formula remains very much what it was then, a handful os musicians relying on the speed of their reflexes to produce some personal expression of their own. Dizzy himself is recognizably very much the some the same trumpeter he once was. The canons of his style have remained largely intact. There is clearly the same deep affection for, and complete sympathy with Latin-American rhythms, the same amazing double-tempo passages where the speed at which thought is expressed can be matched only by the clarity of the thought itself

Ou ainda a concluir (onde se lia na época "twenty five years" pode ler-se hoje "more than fifty years"):

I suppose what has happened is is that after twenty five years we are all beginning to catch up with him

Arquivado em:Música