O affair Clearstream, o Le Monde e o jornalismo de anticipação
Voltando ao que escreveu João Pedro Henriques, no Glória Fácil sobre o jornalismo de antecipação. JPH defende que, particularmente em assuntos políticos, a imprensa escrita não tem outro modo de concorrer contra as televisões.
Em tempos ultra-concorrenciais como os de hoje, jornalismo político a sério num jornal (é de jornais que falo) não sobrevive sem antecipações. Um jornal, pelo menos, não sobrevive - e isto se quiser ter algum crédito enquanto produtor de jornalismo político. Às vezes, perante acontecimentos de agenda que serão merecedores de extensiva cobertura televisiva - e sabendo-se, portanto, que no dia seguinte dificilmente os jornais poderão dizer algo de verdadeiramente novo - a antecipação é o único valor noticioso acrescentado que um jornal pode dar aos seus leitores. Não o fazer implica, num jornal, subordinar-se ao esmagamento televisivo, ou seja, resumir-se a um jornalismo de acta (por mais colorido que seja) e pouco mais.
Posição reafirmada aqui. Parece-me a mim que com esta novela que tem sido do "affair Clearstream aqui em França, o jornal Le Monde tem demonstrado o contrário. Todo o escândalo foi despoletado com uma série de notícias publicadas na imprensa escrita, primeiro o Le Monde, e depois alguns outros jornais trouxeram informações novas. Tem sido a imprensa escrita quem faz a actualidade e as televisões vão a reboque. O Le Monde, em especial tem demonstrado saber fazer um trabalho de investigação notável. Mais do que em "fontes", as notícias cruciais são baseadas em documentos a que os jornalistas conseguiram ter acesso, dando uma solidez a toda a prova a essas notícias. Dois exemplos concretos: o bloco de notas do general Rondot, e as transcripções das audições que os juízes fizeram a propósito das listagens falsas (quando estavam, e acho que ainda estão, em segredo de justiça). Relembro que toda esta história abalou violentamente a cena política francesa, à direita, e ainda não é seguro que o governo se aguente à bronca.
Isto para dizer que talvez a melhor maneira da imprensa escrita concorrer com as televisões é pelo jornalismo de investigação, mas não só. As informação televisiva está "prisioneira" a vertigem da notícia de última hora. Onde JPH vê uma vantagem para as televisões, eu vejo uma vantagem para a imprensa escrita. O jornais têm um bem precioso que a televisão não tem (ou não quer ter), o Tempo. Porque não um jornalismo de investigação e reportagem, de análise, e claro, também de opinião? É daí que podem vir as novidades de que fala JPH, novidades que as televisões não dão, e que podem fazer o leitor preferir a imprensa escrita à informação televisiva. São coisas que se adaptam muito melhor ao espaço dos jornais do que ao da televisão. E podem dizer-me que tudo isso já existe na imprensa escrita, aí eu digo, então que se especializem neste tipo de jornalismo, e deixem a actualidade para as televisões. O primeiro milho é para os pardais.
Em tempos ultra-concorrenciais como os de hoje, jornalismo político a sério num jornal (é de jornais que falo) não sobrevive sem antecipações. Um jornal, pelo menos, não sobrevive - e isto se quiser ter algum crédito enquanto produtor de jornalismo político. Às vezes, perante acontecimentos de agenda que serão merecedores de extensiva cobertura televisiva - e sabendo-se, portanto, que no dia seguinte dificilmente os jornais poderão dizer algo de verdadeiramente novo - a antecipação é o único valor noticioso acrescentado que um jornal pode dar aos seus leitores. Não o fazer implica, num jornal, subordinar-se ao esmagamento televisivo, ou seja, resumir-se a um jornalismo de acta (por mais colorido que seja) e pouco mais.
Posição reafirmada aqui. Parece-me a mim que com esta novela que tem sido do "affair Clearstream aqui em França, o jornal Le Monde tem demonstrado o contrário. Todo o escândalo foi despoletado com uma série de notícias publicadas na imprensa escrita, primeiro o Le Monde, e depois alguns outros jornais trouxeram informações novas. Tem sido a imprensa escrita quem faz a actualidade e as televisões vão a reboque. O Le Monde, em especial tem demonstrado saber fazer um trabalho de investigação notável. Mais do que em "fontes", as notícias cruciais são baseadas em documentos a que os jornalistas conseguiram ter acesso, dando uma solidez a toda a prova a essas notícias. Dois exemplos concretos: o bloco de notas do general Rondot, e as transcripções das audições que os juízes fizeram a propósito das listagens falsas (quando estavam, e acho que ainda estão, em segredo de justiça). Relembro que toda esta história abalou violentamente a cena política francesa, à direita, e ainda não é seguro que o governo se aguente à bronca.
Isto para dizer que talvez a melhor maneira da imprensa escrita concorrer com as televisões é pelo jornalismo de investigação, mas não só. As informação televisiva está "prisioneira" a vertigem da notícia de última hora. Onde JPH vê uma vantagem para as televisões, eu vejo uma vantagem para a imprensa escrita. O jornais têm um bem precioso que a televisão não tem (ou não quer ter), o Tempo. Porque não um jornalismo de investigação e reportagem, de análise, e claro, também de opinião? É daí que podem vir as novidades de que fala JPH, novidades que as televisões não dão, e que podem fazer o leitor preferir a imprensa escrita à informação televisiva. São coisas que se adaptam muito melhor ao espaço dos jornais do que ao da televisão. E podem dizer-me que tudo isso já existe na imprensa escrita, aí eu digo, então que se especializem neste tipo de jornalismo, e deixem a actualidade para as televisões. O primeiro milho é para os pardais.
Arquivado em:Política
3 Comments:
Caro José Eduardo,
Obrigado pelo seu "mail". O Technorati ainda não me tinha informado do seu post. Li-o com atenção e parece-me que há uma confusão. Quando defendo o jornalismo de antecipação, defendo-o face a acontecimentos que se sabe que terão larga cobertura. Isso não invalida que eu ache importantíssimo o jornalismo de investigativo - e só tenha pena (muita) que não haja mais em Portugal. São, portanto, duas coisas diferentes - mas que podem (e devem) funcionar em paralelo num jornal. Quanto ao mesmo, repito sempre a mesma lenga-lenga: um jornal só cresce dizendo aos seus leitores coisas que eles não sabem: novidades, notícias, cachas, o que se queira. O jornalismo de investigação e o de antecipação fazem parte desse esforço. Cordiais cumprimentos,
JPH
Duas rectificações em relação ao comentário anterior: onde se lê "jornalismo de investigativo" leia-se "jornalismo de investigação"; quando se lê "quanto ao mesmo" leia-se "quanto ao resto". Escrever à pressa e sem rever dá nisto. Mais cumprimentos do
JPH
Caro JPH, antes de mais agradeço a atenção de ter lido o post e comentado. Concordo que um jornal não pode crescer quando não dá aos leitores informações que eles não saibam. Percebo que jornalismo de investigação e anticipação sejam duas coisas diferentes, mas temos uma diferença de opinião, que é talvez seja uma questão de "gosto" pessoal, e portanto difícil de argumentar. Quando diz que os dois tipos de jornalismo podem e devem co-existir no mesmo jornal eu acho que a imprensa escrita especializar-se naquilo que as televisões não podem (ou não querem) dar, e não apenas o jornalismo de investigação, mas também de reportagem, de análise, de opinião.
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