A Genética e a Política
Paulo de Oliveira pergunta neste post do Conta Natura se "A Genética é de Esquerda?". É curiosa a pergunta, já que a Genética foi na sua juventude veementemente atacada pela esquerda (se esquerda se lhe pode chamar, mas isso é outra história...), no tempo da União Soviética estalinista. Fez escola na época uma doutrina, em que um tal Lysenko era figura de proa, que rejeitava a Genética por ser uma Ciência burguesa. Estamos naturalmente de acordo que a Genética, e a Ciência em geral não têm cor política, uma disciplina deve ser avaliada pelo seus méritos ou fraquezas científicas. No entanto isto não quer dizer que os campos sejam estanques, contrariamente ao que tenho defendido em relação à Religião ("Good fences make good neighbors"), os resultados da Ciência podem e devem ter implicações políticas. Dando um exemplo (ao acaso, perfeitamente inocente) se a Ciência estabelecer que a acção humana é responsável pelo aquecimento global e que isso vai provocar alterações climáticas de consequências desastrosas, então o poder político deve agir em conformidade. Já um relatório pseudo-científico, com as conclusões encomendadas à partida dificilmente é credível. Mas ainda assim há aqui uma linha subtil: é sempre possível que quem faz o estudo, mesmo que antecipadamente convicto dos resultados, o faça de forma tecnicamente correcta e atinja as conclusões esperadas. Ou seja a intenção com que se faz a investigação é irrelevante, não corrobora nem refuta as suas conclusões. O estudo deve ser sempre avaliado pelo seu rigor metodológico, independentemente de tudo o resto.
E já agora, com o respeito à Genética, posso ainda levantar mais duas lebres. Para além da questão das raças humanas que refere o Paulo de Oliveira (já lá vou), há duas questões relacionadas com a Genética que me parece vão levantar celeuma política e/ou social num futuro próximo. São elas 1) a diferenças biológicas entre homem e mulher (para além do aparelho reprodutor) e 2) a determinação genética da homossexualidade. Esta segunda já se podem antever duas posições - se se determinar que há uma forte componente genética -, os tolerantes dirão que só demonstra que a homossexualidade é parte da variação natural da espécie humana, e os reaccionários dirão que se trata de uma doença genética (terão depois que apresentar uma definição convincente de "doença").
No tocante à questão das raças, e discutindo a questão apenas no plano científico, Paulo de Oliveira critica este artigo de opinião de Sérgio Danilo Pena. Eu pessoalmente li e achei-o um excelente artigo, está muito bem escrito e globalmente concordo com o conteúdo. Paulo de Oliveira critica a conclusão de que não há raças humanas - se bem percebi - considera que as há. Eu continuo a pensar que não faz sentido falar em raças humanas do ponto de vista biológico. No entanto Paulo de Oliveira tem razão numa crítica que faz a Danilo Pena, o estudo (aqui em PDF) a que este se refere aponta - ainda que ligeiramente - no sentido contrário ao que ele pretende indicar. Contudo se eu tivesse de escolher entre este estudo moderno e o velhinho estudo das isozimas (que não é só das isozimas, é também grupos sanguíneos e outros marcadores) para decidir da existência de raças, escolhia o velhinho. E isto toca no conceito de raça, que é um conceito arbitrário como são quase todos os conceitos em Biossistemática (com excepção do conceito de espécie), mas parece-me que raças diferentes têm que ter características biológicas relevantes, específicas da raça, distintas das outras raças, e já agora vários caracteres, não apenas um. Utilizar como marcador genéticos porções de DNA não codificante, ou seja silenciosas, que não têm qualquer manifestação no organismo, é muito útil para o estudo da genealogia ou filogenia de uma população mas não tem grande significado quando se trata de estabelecer diferenças entre grupos. Já as isozimas são características fenotípicas (desculpem lá, mas tinha que usar o palavrão), têm uma função biológica. Além do mais não são só as isozimas, pelo que aprendi na Faculdade utilizando outros caracteres como a cor da pele (como o próprio Paulo de Oliveira muito bem exemplifica) a conclusão é sempre a mesma (e vai em bold e tudo) a variabilidade intra-populacional é maior do que a variabilidade inter-populacional, i.e. há mais variedade dentro de cada grupo do que entre as médias dos grupos entre si o que faz com que as variabilidades intra-populacionais sejam largamente sobrepostas. Se bem me lembro esta observação é verdade para uma enorme quantidade marcadores morfológicos estudados, que me parecem mais relevantes para a questão em apreço do que marcadores genéticos silenciosos. E mesmo o artigo referido, o tal que que vai um pouco em sentido contrário, continua a observar uma preponderância da variabilidade intra-populacional. Pelo que me foi dado a ler não vejo razão para mudar a conclusão, continuo a achar que não há razão para pensar que os diferentes grupos humanos sejam suficientemente diferentes para serem considerados raças. Se isto agrada ou não agrada ao pensamento politicamente correcto é perfeitamente indiferente.
E já agora, com o respeito à Genética, posso ainda levantar mais duas lebres. Para além da questão das raças humanas que refere o Paulo de Oliveira (já lá vou), há duas questões relacionadas com a Genética que me parece vão levantar celeuma política e/ou social num futuro próximo. São elas 1) a diferenças biológicas entre homem e mulher (para além do aparelho reprodutor) e 2) a determinação genética da homossexualidade. Esta segunda já se podem antever duas posições - se se determinar que há uma forte componente genética -, os tolerantes dirão que só demonstra que a homossexualidade é parte da variação natural da espécie humana, e os reaccionários dirão que se trata de uma doença genética (terão depois que apresentar uma definição convincente de "doença").
No tocante à questão das raças, e discutindo a questão apenas no plano científico, Paulo de Oliveira critica este artigo de opinião de Sérgio Danilo Pena. Eu pessoalmente li e achei-o um excelente artigo, está muito bem escrito e globalmente concordo com o conteúdo. Paulo de Oliveira critica a conclusão de que não há raças humanas - se bem percebi - considera que as há. Eu continuo a pensar que não faz sentido falar em raças humanas do ponto de vista biológico. No entanto Paulo de Oliveira tem razão numa crítica que faz a Danilo Pena, o estudo (aqui em PDF) a que este se refere aponta - ainda que ligeiramente - no sentido contrário ao que ele pretende indicar. Contudo se eu tivesse de escolher entre este estudo moderno e o velhinho estudo das isozimas (que não é só das isozimas, é também grupos sanguíneos e outros marcadores) para decidir da existência de raças, escolhia o velhinho. E isto toca no conceito de raça, que é um conceito arbitrário como são quase todos os conceitos em Biossistemática (com excepção do conceito de espécie), mas parece-me que raças diferentes têm que ter características biológicas relevantes, específicas da raça, distintas das outras raças, e já agora vários caracteres, não apenas um. Utilizar como marcador genéticos porções de DNA não codificante, ou seja silenciosas, que não têm qualquer manifestação no organismo, é muito útil para o estudo da genealogia ou filogenia de uma população mas não tem grande significado quando se trata de estabelecer diferenças entre grupos. Já as isozimas são características fenotípicas (desculpem lá, mas tinha que usar o palavrão), têm uma função biológica. Além do mais não são só as isozimas, pelo que aprendi na Faculdade utilizando outros caracteres como a cor da pele (como o próprio Paulo de Oliveira muito bem exemplifica) a conclusão é sempre a mesma (e vai em bold e tudo) a variabilidade intra-populacional é maior do que a variabilidade inter-populacional, i.e. há mais variedade dentro de cada grupo do que entre as médias dos grupos entre si o que faz com que as variabilidades intra-populacionais sejam largamente sobrepostas. Se bem me lembro esta observação é verdade para uma enorme quantidade marcadores morfológicos estudados, que me parecem mais relevantes para a questão em apreço do que marcadores genéticos silenciosos. E mesmo o artigo referido, o tal que que vai um pouco em sentido contrário, continua a observar uma preponderância da variabilidade intra-populacional. Pelo que me foi dado a ler não vejo razão para mudar a conclusão, continuo a achar que não há razão para pensar que os diferentes grupos humanos sejam suficientemente diferentes para serem considerados raças. Se isto agrada ou não agrada ao pensamento politicamente correcto é perfeitamente indiferente.
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