Um relatório Inconveniente
O Relatório Stern apresentado esta semana parece ter tido pelo menos o efeito de atrair uma enorme atenção para o problema do aquecimento global. Há claro que há já quem manifeste um certo incómodo, como é o caso do João Miranda ao publicar este post no Blasfémias. Começa, João Miranda por se insurgir contra o acriticismo com que o relatório foi recebido pelo media, e aí até concordo que notícias decalcadas dos comunicados de imprensa possam ser muito pouco informativas. Nada impede João Miranda, de procurar outras fontes de informação, bem pelo contrário, se quer debater o assunto é até aconselhável que o faça. Pode começar logo pelas fontes primárias, o link ali em cima dá acesso directo à página oficial do Relatório Stern. Para quem não tem tempo para ler todo o relatório há um resumo (27 páginas, formato PDF). A Nature também já publicou duas notícias em que faz a análise do documento, uma em que aborda já algumas das críticas a Stern, outra na forma que perguntas e respostas (também em PDF aqui e aqui). Entretanto é de esperar que outras análises mais aprofundadas apareçam nos próximos tempos.
No referido post João Miranda faz-nos uma lista em nove pontos daquilo que é necessário fazer para se poder elaborar um estudo credível sobre as consequências das alterações climáticas. Esta lista merece-me vários comentários de ordem geral. Primeiro, não se trata daquilo é necessário fazer para que um estudo seja credível, é aquilo que João Miranda acha que é necessário, o que é muito diferente. Segundo nenhum dos passos é minimamente fundamentado, ficamos assim sem saber porque é que pensa que são necessários estes pontos, talvez ache que devamos aceitar as suas opiniões acriticamente. Terceiro, faz a confusão do costume, mesmo que não fosse possível demonstrar cabalmente que o aquecimento global é causado pelo homem, isso não constitui uma prova de que o aquecimento global não é causado pelo homem (a impossibilidade provar a culpa não é prova de inocência). A margem de erro associada existe em todas as Ciências, está sempre presente, e isso não impede ao homem de mandar expedições à Lua, inventar telemóveis ou curar doenças. Mesmo com uma margem de erro temos aproximações muito boas, o que também se aplica ao aquecimento global.
Ainda para mais João Miranda comete erros factuais, começando logo pelo primeiro ponto "1. estimar o impacto no clima de todos os factores naturais e antropogénicos", segundo João Miranda "Actualmente a comunidade científica ainda discute se o passo 1 está correcto." Isto é FALSO! Se João Miranda tivesse visto o filme "An Inconvenient Truth (já tive ocasião de escrever, vale bem a pena), teria ouvido falar deste artigo e não fazia a afirmação que faz. A comunidade científica não discute de todo se o aquecimento global é causado pela intervenção humana ou não, esse assunto é completamente consensual. No artigo citado Naomi Oreskes analisou 928 artigos seleccionados aleatoriamente que faziam menção a "alterações climáticas globais" e verificou que NENHUM contestava que essas alterações são provocadas pelo homem, 75% aceitava implícita ou explicitamente essa causa, 25% simplesmente não abordavam a questão, nem um único era de opinião contrária (para mais informações pode ler-se este e este artigos na Wikipedia). No segundo ponto, história podia repetir-se "2. Construir modelos que descrevam com precisão o clima.", esses modelos já existem, etc... etc...
Acho que não vale a pena levar o debate mais longe sem que as opiniões (as minhas incluídas) estejam devidamente fundamentadas.
Feitas as contas João Miranda conclui que "graças a uma criteriosa escolha dos factores que afectam o clima, dos modelos climáticos, dos modelos económicos, dos efeitos da evolução tecnológica e do relevo que se dá às teorias mais catastróficas, um estudo económico pode concluir aquilo que o autor quiser.", a mim parece-me é que quando se emite opiniões e críticas sem que estejam devidamente fundamentadas o blogger pode bem concluir o que lhe apetecer.
No referido post João Miranda faz-nos uma lista em nove pontos daquilo que é necessário fazer para se poder elaborar um estudo credível sobre as consequências das alterações climáticas. Esta lista merece-me vários comentários de ordem geral. Primeiro, não se trata daquilo é necessário fazer para que um estudo seja credível, é aquilo que João Miranda acha que é necessário, o que é muito diferente. Segundo nenhum dos passos é minimamente fundamentado, ficamos assim sem saber porque é que pensa que são necessários estes pontos, talvez ache que devamos aceitar as suas opiniões acriticamente. Terceiro, faz a confusão do costume, mesmo que não fosse possível demonstrar cabalmente que o aquecimento global é causado pelo homem, isso não constitui uma prova de que o aquecimento global não é causado pelo homem (a impossibilidade provar a culpa não é prova de inocência). A margem de erro associada existe em todas as Ciências, está sempre presente, e isso não impede ao homem de mandar expedições à Lua, inventar telemóveis ou curar doenças. Mesmo com uma margem de erro temos aproximações muito boas, o que também se aplica ao aquecimento global.
Ainda para mais João Miranda comete erros factuais, começando logo pelo primeiro ponto "1. estimar o impacto no clima de todos os factores naturais e antropogénicos", segundo João Miranda "Actualmente a comunidade científica ainda discute se o passo 1 está correcto." Isto é FALSO! Se João Miranda tivesse visto o filme "An Inconvenient Truth (já tive ocasião de escrever, vale bem a pena), teria ouvido falar deste artigo e não fazia a afirmação que faz. A comunidade científica não discute de todo se o aquecimento global é causado pela intervenção humana ou não, esse assunto é completamente consensual. No artigo citado Naomi Oreskes analisou 928 artigos seleccionados aleatoriamente que faziam menção a "alterações climáticas globais" e verificou que NENHUM contestava que essas alterações são provocadas pelo homem, 75% aceitava implícita ou explicitamente essa causa, 25% simplesmente não abordavam a questão, nem um único era de opinião contrária (para mais informações pode ler-se este e este artigos na Wikipedia). No segundo ponto, história podia repetir-se "2. Construir modelos que descrevam com precisão o clima.", esses modelos já existem, etc... etc...
Acho que não vale a pena levar o debate mais longe sem que as opiniões (as minhas incluídas) estejam devidamente fundamentadas.
Feitas as contas João Miranda conclui que "graças a uma criteriosa escolha dos factores que afectam o clima, dos modelos climáticos, dos modelos económicos, dos efeitos da evolução tecnológica e do relevo que se dá às teorias mais catastróficas, um estudo económico pode concluir aquilo que o autor quiser.", a mim parece-me é que quando se emite opiniões e críticas sem que estejam devidamente fundamentadas o blogger pode bem concluir o que lhe apetecer.
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