Um filme inconveniente
Fui ver o filme "An Inconvenient Truh" e gostei bastante. Apesar de não gostar do título (já devem ter reparado que não gosto quando alguém afirma cabalmente uma verdade) aconselho vivamente, ainda para mais Al Gore "redime-se" logo no princípio do filme recorrendo a essa magnífica fonte de citações, Mark Twain :"The problem is not the things we don't know. It's what we know for sure... but just ain't so" (estou a citar de memória). E há até outros pormenores que poderia criticar, mas não vou por aí para não dar outra impressão que não a de que é um filme muito bem feito. Um documentário nos antípodas de Michael Moore.
Primeiro Al Gore fundamenta muito bem as suas teses sempre, apresentando sempre dados empíricos que sustentam aquilo que diz. Consegue sintetizar o essencial numa mensagem clara que me parece passar muito bem para a audiência: "O problema é o aumento do CO2 na atmosfera". A argumentação é muito sólida, ou melhor os dados que sustentam a argumentação são muito sólidos.
Segundo o filme é apresentado com uma enorme sobriedade, nem a exposição dos estudos se torna massuda a ponto de adormecer o espectador, nem o filme se apresenta com o useiro histerismo alarmista que acaba por informar muito pouco. Aliás consegue até em vários momentos aliar essa apresentação com algum humor (q.b.). O exemplo mais flagrante dessa sobriedade é quando se fala do furacão Katrina e de Nova Orleans. Onde Michael Moore teria martelado com o seu show-off propagandístico e manipulação emocional, Al Gore faz o que lhe compete: relembra-nos "apenas" que há uma ligação entre o aumento de furacões de grau 4 e 5, como o Katrina, e o aquecimento global, e o filme continua.
Terceiro o filme faz uma desconstrução sistemática e rigorosa dos argumentos dos cépticos, os que negam o aquecimento global, e desmonta convincentemente uma série de mitos. Depois de rebatidos esses argumentos, Al Gore trata de rebater o fatalismo. Numa atitude muito americana de "formador de recursos humanos" o filme termina numa nota afirmativa de We Can Do It! Não deixa de ser uma informação e uma mensagem muito importante: Já temos hoje à nossa disposição a tecnologia que nos permite resolver o problema. Com a economia de energia utilizando aparelhos de baixo consumo, reciclando, andando de bicicleta e transportes públicos, e toda uma série de coisas que podemos fazer hoje, é apresentada uma projecção que indica ser possível a médio prazo reduzir a quantidade de CO2 na atmosfera a níveis razoáveis.
Cinematograficamente há um aspecto interessante neste filme, muitas vezes a voz off que tão frequentemente é utilizada nos documentários é substituída por apresentações públicas de Al Gore, as conferências que dá um pouco por todo o lado. Pessoalmente acho que é uma opção que resulta muito bem e torna o documentário mais ligeiro, fácil de digerir, e logo mais eficaz, sem comprometer de modo algum o conteúdo.
O filme é voltado para os E.U.A. mas não só. Em cada ponto é focado em primeiro lugar o contexto americano, o que faz sentido, nem tanto pelo filme e Al Gore serem americanos, mas pelos E.U.A. serem o principal emissor de CO2 no planeta. Mas em cada ponto, sistematicamente, após ser focado o contexto americano passa-se para o contexto global, tornando assim o filme útil para todos fora dos E.U.A. E aí a Europa tem motivos para se preocupar, em vez de se rir e apontar o dedo aos americanos. É que a Europa aparece em segundo lugar na lista dos principais emissores em termos relativos (por habitante), e por muito que os E.U.A. estejam em primeiro, a Europa não se devia contentar por ser o segundo pior.
Apetece-me finalizar com uma nota sobre o perfil de Al Gore. É um daqueles políticos a quem se reconhece competência mas a quem acusam de lhe faltar o carisma, que é como quem diz que a sua imagem não se "vende" bem em termos mediáticos. Quando ainda se discutiam as primárias no Partido Democrata para saber quem se iria apresentar às eleições de 2000, os seus delatores diziam que Gore era um chato, como dizem os americanos Boring. Acho que ninguém de bom senso discordará que teria sido muito melhor presidente do que Bush. Faz-me lembrar Zapatero em Espanha, de quem se dizia mais ou menos a mesma coisa antes de ganhar as eleições. Hoje é, na minha opinião, o político mais interessante pelo menos na União Europeia. O líderes mais mediáticos não são necessariamente os melhores políticos.
Pode ser que este filme venha a ter repercussões. Coincidência ou talvez não Relatório Stern vem a agora a público, apresentado e apoiado pelo governo Britânico. O filme está ainda bem complementado com o site onde se podem encontrar referências ao principais estudos científicos em que se baseia, onde estão sugestões sobre o que podemos fazer como cidadãos para resolver o problema, e onde há um blog que se pode ler e comentar.
Primeiro Al Gore fundamenta muito bem as suas teses sempre, apresentando sempre dados empíricos que sustentam aquilo que diz. Consegue sintetizar o essencial numa mensagem clara que me parece passar muito bem para a audiência: "O problema é o aumento do CO2 na atmosfera". A argumentação é muito sólida, ou melhor os dados que sustentam a argumentação são muito sólidos.
Segundo o filme é apresentado com uma enorme sobriedade, nem a exposição dos estudos se torna massuda a ponto de adormecer o espectador, nem o filme se apresenta com o useiro histerismo alarmista que acaba por informar muito pouco. Aliás consegue até em vários momentos aliar essa apresentação com algum humor (q.b.). O exemplo mais flagrante dessa sobriedade é quando se fala do furacão Katrina e de Nova Orleans. Onde Michael Moore teria martelado com o seu show-off propagandístico e manipulação emocional, Al Gore faz o que lhe compete: relembra-nos "apenas" que há uma ligação entre o aumento de furacões de grau 4 e 5, como o Katrina, e o aquecimento global, e o filme continua.
Terceiro o filme faz uma desconstrução sistemática e rigorosa dos argumentos dos cépticos, os que negam o aquecimento global, e desmonta convincentemente uma série de mitos. Depois de rebatidos esses argumentos, Al Gore trata de rebater o fatalismo. Numa atitude muito americana de "formador de recursos humanos" o filme termina numa nota afirmativa de We Can Do It! Não deixa de ser uma informação e uma mensagem muito importante: Já temos hoje à nossa disposição a tecnologia que nos permite resolver o problema. Com a economia de energia utilizando aparelhos de baixo consumo, reciclando, andando de bicicleta e transportes públicos, e toda uma série de coisas que podemos fazer hoje, é apresentada uma projecção que indica ser possível a médio prazo reduzir a quantidade de CO2 na atmosfera a níveis razoáveis.
Cinematograficamente há um aspecto interessante neste filme, muitas vezes a voz off que tão frequentemente é utilizada nos documentários é substituída por apresentações públicas de Al Gore, as conferências que dá um pouco por todo o lado. Pessoalmente acho que é uma opção que resulta muito bem e torna o documentário mais ligeiro, fácil de digerir, e logo mais eficaz, sem comprometer de modo algum o conteúdo.
O filme é voltado para os E.U.A. mas não só. Em cada ponto é focado em primeiro lugar o contexto americano, o que faz sentido, nem tanto pelo filme e Al Gore serem americanos, mas pelos E.U.A. serem o principal emissor de CO2 no planeta. Mas em cada ponto, sistematicamente, após ser focado o contexto americano passa-se para o contexto global, tornando assim o filme útil para todos fora dos E.U.A. E aí a Europa tem motivos para se preocupar, em vez de se rir e apontar o dedo aos americanos. É que a Europa aparece em segundo lugar na lista dos principais emissores em termos relativos (por habitante), e por muito que os E.U.A. estejam em primeiro, a Europa não se devia contentar por ser o segundo pior.
Apetece-me finalizar com uma nota sobre o perfil de Al Gore. É um daqueles políticos a quem se reconhece competência mas a quem acusam de lhe faltar o carisma, que é como quem diz que a sua imagem não se "vende" bem em termos mediáticos. Quando ainda se discutiam as primárias no Partido Democrata para saber quem se iria apresentar às eleições de 2000, os seus delatores diziam que Gore era um chato, como dizem os americanos Boring. Acho que ninguém de bom senso discordará que teria sido muito melhor presidente do que Bush. Faz-me lembrar Zapatero em Espanha, de quem se dizia mais ou menos a mesma coisa antes de ganhar as eleições. Hoje é, na minha opinião, o político mais interessante pelo menos na União Europeia. O líderes mais mediáticos não são necessariamente os melhores políticos.
Pode ser que este filme venha a ter repercussões. Coincidência ou talvez não Relatório Stern vem a agora a público, apresentado e apoiado pelo governo Britânico. O filme está ainda bem complementado com o site onde se podem encontrar referências ao principais estudos científicos em que se baseia, onde estão sugestões sobre o que podemos fazer como cidadãos para resolver o problema, e onde há um blog que se pode ler e comentar.
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