sexta-feira, dezembro 15, 2006

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Não menos que uma Tragédia! (s.f.f.)

Um personagem como Pinto da Costa não pode simplesmente retirar-se tranquilamente de cena, e gozar a sua pacata reforma. Seria contrário às fundações desta civilização europeia que se quer herdeira de Gregos e Romanos. Pinto da Costa tem que cair com um imenso estrondo, tem que provocar ondas de choque, tem que causar danos colaterais, e inevitavelmente descer ao abismo. O homem pegou no FCP à beira de descer de divisão, conseguiu campeonato atrás de campeonato com sucessivas gerações de jogadores, conseguiu levar o FCP aos títulos europeus (o único clube português em mais de 40 anos). O homem é um génio, percebeu que uma boa equipe de futebol faz-se com bons jogadores, bons técnicos e uma boa estrutura desportiva, mas não só. Percebeu que um bom plantel se constrói também com bons empresários, bons árbitros, bons dirigentes federativos, associativos e ligativos. O homem percebeu que tem que se investir em todas a frentes e que estas não são mutuamente exclusivas, bem pelo contrário, costumam agir sinergisticamente, em quanto mais frentes se investir maiores são as probabilidades de ganhar. O homem desenvolveu estes conceitos perfeitamente inovadores, diria mesmo revolucionários, no futebol nacional e nada ficou como antes. Aliás o SLB, por exemplo, anda há anos, presidente após presidente, à procura do seu próprio Pinto da Costa, sempre com um notável insucesso. Pinto da Costa consegue o feito notável de ser admirado e idolatrado por 80% dos portugueses, e ser profundamente odiado e temido por 95%. Pinto da Costa não é indiferente a ninguém (a não ser talvez aos raros excêntricos que levam as crónicas no Vasco Pulido Valente a sério), ou se o ama, ou se o odeia, ou ambos. Pinto da Costa conseguiu a proeza de ser assediado pelos grandes partidos políticos à direita e à esquerda e ficar de bem com todos. Um personagem destes não pode simplesmente retirar-se discretamente de cena em paz com os anjos.
Talvez tenha chegado a hora do grand finale. O preâmbulo não podia ser mais prometedor, o desmoronamento começa com uma estória de saias, o princípio do fim é desencadeado por uma alternadeira mal agradecida. O devoto de Fátima cai em tentação e paga caro o seu pecado. O primeiro acto não fica atrás, começa com a entrada em cena da sebastiânica justiceira Maria José Morgado, a peça passa de prometedora a cativante. O espectador tem - como o próprio nome indica - expectativas que são agora elevadíssimas, o espectador quer sangue, e as expectativas não podem ser goradas. Os que o odeiam querem o sangue porque só no sangue haverá justiça, os que o amam querem sangue, pois que o sangue legitimará a sua revolta e a sua vingança. Resta, portanto, ao espectador sentar-se na sua poltrona, de preferência com um grande balde e pipocas, e assistir ao espectáculo de olhos esbugalhados. Tudo o que seja menos do que uma lancinante agonia digna das melhores tragédias gregas não é simplesmente aceitável. Se não forem cumpridas as expectativas o espectador deve imperativamente ser ressarcido do preço do seu bilhete.

Arquivado em:Posts duvidosos

2 Comments:

Blogger Santiago Escreveu...

Belo post! Tens toda a razão!

Isto só não acaba em Tragédia Grega se houver corrupção ou favoritismo por trás desta história ;)


Ando cheio de esperança que a Carolina acabe a enrolar-se com o Veiga para então vermos uma versão lusitana da Phedra...

2:00 da manhã, dezembro 16, 2006  
Blogger Zèd Escreveu...

Phedra é uma excelente opção, o casto Hipólito amaldiçoado...

A nomeação da Maria José Morgado parece-me muito significativa, acho que temos mesmo tragédia.

10:20 da manhã, dezembro 16, 2006  

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