sexta-feira, dezembro 01, 2006

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Sobre o Referendo

Seguindo o repto do Arrastão está ali na coluna da esquerda um auto-colante virtual a publicitar o meu sentido de voto no Referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG). Agora que já tem data marcada, constato que ainda não escrevi aqui sobre o assunto (shame on me...).
Sou favorável ao SIM, sem hesitações. É à mulher (ou quando muito ao casal, quando há casal) que compete decidir se se deve interromper uma gravidez nas primeiras semanas. Dito isto concordo com o Santiago quando diz que esta é uma questão ética. Objectivamente às dez semanas já existe uma nova vida, um novo indivíduo, saber se e até que ponto a mulher grávida pode dispor dessa vida é uma questão ética. Não há separação nítida entre um feto de 9 semanas e um de 11, há um processo contínuo mais ou menos constante que dura nove meses, saber onde é que se coloca o limite temporal para a interrupção de uma gravidez é uma questão ética. É uma questão ética, e não é uma questão fácil.
Por princípio acho que uma mulher que decide interromper uma gravidez tem uma boa razão para o fazer. Que existam por hipótese algumas mulheres que o façam sem uma razão válida não justifica que se torne a IVG num crime para todas as têm boas razões para o fazer. Mas a mulher que decide pela IVG tem que ter um razão válida para o fazer. Ninguém de bom senso defende, por exemplo, o aborto como meio de contracepção, ninguém defende o livre arbítrio. Por isso concordo também com o Santiago quando diz que Fernanda Câncio (f.) abandalha um pouco a questão (sim, eu sei que era ironia). Melhor dizendo, concordo com a f. no conteúdo mas não na forma (talvez a ironia não seja a melhor forma neste caso), porque dá a sensação que f. defende o direito da mulher à IVG sem que para tal necessite de uma justificação. A própria f. já deixou bem claro que não é essa a posição que defende. Pela minha parte acho que a IVG é uma decisão extremamente difícil, que não se pode tomar de ânimo leve, e necessita, obviamente, de uma justificação válida. Por princípio acredito que qualquer mulher (ou casal) é capaz por si só de decidir se a sua justificação é válida ou não, por isso voto SIM.

E já agora (nunca é demais repetir), a vitória do SIM não obriga ninguém a fazer o que quer que seja. Quem se opõe à IVG não será nunca obrigada a praticá-la. Quem acha que o que falta são alternativas para as mulheres poderem acolher as suas crianças em condições pode continuar a trabalhar para oferecer essas condições às mães necessitadas. A mesma coisa vai para planeamento da natalidade e a educação sexual. Nenhumas destas opções são mutuamente exclusivas.

Arquivado em:Política