segunda-feira, outubro 09, 2006

Ir para a Página Principal

O affaire Dreyfus

Faz hoje 147 anos que nasceu Alfred Dreyfus, militar francês que se viu involuntariamente no centro de um escândalo político que abalou a III República francesa. Numa altura em que muito se gosta de fazer julgamentos na praça pública, de preferência às oito da noite em directo para o telejornal, e baseado em evidências que "toda a gente conhece" mas que ninguém mostra, convém relembrar o Affaire Dreyfus. A história é simples de contar. Em 1894, uma espia, a coberto de um disfarce de empregada da limpeza, na embaixada alemã em Paris encontra num caixote do lixo uma carta não assinada revelando segredos militares franceses ao inimigo alemão. Trata-se obviamente de alguém dentro do exército francês, e interessa descobrir o traidor. Dreyfus tem tudo contra ele, é alsaciano (família poderia até ter optado pela cidadania alemã 1872 quando a Alemanha anexou a Alsácia e a Lorena, mas preferiu a nacionalidade francesa), fala alemão fluentemente, é arrogante e antipático, e, detalhe não de somenos importância, é judeu. Um pequeno pormenor: não havia a mínima evidência tangível que ligasse Dreyfus à carta denunciando os segredos militares. Dreyfus é condenado, sem sequer conhecer a totalidade da sua acusação, e é enviado para a Île du Diable na Guiana Francesa, o que constitui de facto uma quase condenação à morte. O irmão de Alfred, Mathieu Dreyfus começa então uma campanha na tentativa de inocentar o irmão. Consegue ganhar a simpatia de algumas personalidades no meio político e jornalístico, e ganha dimensão a campanha para que seja feita justiça a Alfred Dreyfus. Essa campanha ganha enormes proporções e agita profundamente o sistema político. Fica célebre nomeadamente o "J'accuse" de Émile Zola. Não faltam também os pormenores dignos de uma super-produção hollywoodesca, por exemplo um declarado anti-semita, Marie-Georges Picquart, acaba por ter uma enorme importância no inocentar de Dreyfus. A história tem um final feliz, Dreyfus acaba por ser reabilitado e o verdadeiro espião é identificado. Vendo bem as coisa, se hoje sabemos quem foi Dreyfus é porque a história teve um final feliz, caso contrário teria morrido na Ilha do Diabo e caído no esquecimento. Pensando bem podem ter acontecido muitas histórias sem um final feliz, e que por isso mesmo nunca ouvimos falar delas.
P.S. - Toda a história do Affaire Dreyfus na Wikipedia.

Arquivado em:Política