quarta-feira, outubro 11, 2006

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Manobra de diversão

A tese é a seguinte: os factos, operações e resultados que constituem as ciências não têm uma estrutura comum; não há elementos que se verifiquem em todas as investigações científicas e só nelas. Os desenvolvimentos concretos (com a derrocada das cosmologias do estado estacionário e a descoberta do ADN) têm traços distintivos próprios e muitas vezes é-nos possível explicar o porquê e o como do seu sucesso. Mas nem todas as descobertas podem ser descritas da mesma maneira, e os modos de proceder que resultaram podem converter-se em agentes de ruína quando os impomos ao futuro.
Paul Feyerabend
in Contra o Método - Esboço de uma Teoria Anarquista do Conhecimento


Assim resume Feyerabend o essencial do seu pensamento epistemológico nas primeiras linhas da Introdução à edição chinesa da sua obra nuclear "Contra o Método" (editada em português pela Relógio de Água). Eu aproveito, enquanto preparo uma resposta ao Santiago, para lançar um pouco de confusão no debate. Na minha opinião Feyerabend foi dos epistemologistas do sec. XX o que melhor percebeu como funciona realmente a Ciência. Tanto a visão de Popper, como a de Khun são demasiado redutoras. Caiem no mesmo erro, nessa procura de um "Santo Graal", o elemento que define a Ciência; a "Falsificação" com Popper, a "Ruptura de Paradigmas" com Kuhn. Com a visão de Feyerabend, que nos diz pura e simplesmente que o Método Científico não existe, e que não há uma só mas uma infinidade de maneiras diferentes de fazer Ciência, a sistematização, e logo o estudo da História da Ciência tornam-se mais difíceis. Mas de que serve uma descrição que permita a sistematização se ela não corresponde à realidade?

Sem perder de vista o tema do debate (a cor das penas dos Cisnes), serve esta referência a Feyerabend apenas para lembrar que se o progresso da Ciência se faz num terreno assim tão movediço, volátil, é difícil imaginar que a procura da verdade pela Ciência seja mais do que uma boa aproxiamação.

Arquivado em:Ciência