domingo, setembro 10, 2006

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A mentalidade ClubMed


Em todo o lado onde há praias e um potencial turístico, há sempre um sitiozinho onde se constrói uma marina, uns apartotéis, hotéis propriamente ditos, condomínios, campos de golfe, e coisas afins. Na Guadeloupe o tal sítio é em St. François. Passei por lá um par de dias, e o que salta à vista é que todo o comércio ali à volta da marina é propriedade de franceses da metrópole (que é como quem diz, brancos, pequeno pormenor sem a mínima importância). O comércio ali no quarteirão é todo à base de padarias francesas (da metrópole, entenda-se), restaurantes franceses (idem), supermercados franceses, cabeleireiros franceses, lojas de artesanato local propriedade de franceses (com uma honrosa excepção), etc... As lojas são francesas porque a maior parte dos turistas é da França metropolitana, se fossem de outro lado qualquer, na Europa ou América do Norte, o comércio mudaria em concordância. O que isto revela é uma certa mentalidade associada a uma forma de turismo que gosta de ir passar umas férias de luxo em destinos exóticos mas não quer misturas com os autóctones exóticos. O caso extremo deste tipo de turismo é o ClubMed, é possível ir passar umas férias nas Bahamas, ir à praia privativa do resort ClubMed, e nunca ver a cara de um indígena a não ser talvez no caminho de ou para o aeroporto. Julgar o bom ou mau gosto dessa maneira de fazer turismo é talvez até irrelevante, apesar disso condeno veementemente, trata-se sempre de uma opção individual à qual cada um tem direito, tal como cada um tem direito à sua opinião sobre o assunto. Mas o que me preocupa realmente é quando ouço falar em trazer o desenvolvimento a países pobres através da criação de condições para um turismo dito "de Luxo". Será que as populações locais têm realmente alguma coisa a ganhar, para além de meia-dúzia de postos de trabalho indirectos? A boa notícia é que em St. François aquilo estava tudo meio às moscas.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas