Notas soltas
A família alargada por lá faz-me lembrar a ti' Vicência, é assim tipo família em rede, muitos primos, como lá na terra. Há só uma diferença: não há "bastardos". Esclareço, há filhos fora do casamento, sim, como há famílias monoparentais (que se deviam chamar talvez mono-maternais), claro que há, mas não há filhos de pai incógnito. Toda essas crianças (ou que o foram um dia) nascidas fora da família "tradicional" - o que quer que isso seja, porque "bastardos" também são uma tradição antiga - sabem quem é o pai, e o pai assume sempre a paternidade.
Há uma vila chamada Petit-Bourg, na Basse-Terre, os seus habitantes são os Petit-Bourgeois. A piada também funciona em português, os habitantes do Pequeno-Burgo são os Pequeno-Burgueses.
Outro aspecto sempre presente nas conversas, nas estórias, são os ciclones. A relação que têm com os ciclones é de uma estranha intimidade, conhecem-os pelo nome, mostram por vezes alguma nostalgia - "ah, o Hugo, foi dos grandes...". Os anos contam-se pelos ciclones, e não o contrário. Guardam um perspectiva prosaica sobre o assunto, a atitude é a de quem sabe que todos os anos há ciclones, mas os ciclones não passam todos por todas as ilhas, a questão é de saber quem é a vítima da próxima vez. Mas o mais fascinante (para mim) é o conceito do olho do ciclone, e é a fonte das estórias mais impressionantes. No centro do ciclone não há vento, é o tal olho, e curiosamente a cultura popular integrou isto muito antes de terem ouvido falar de meteorologia. Quando o ciclone passa a velocidade do vento aumenta gradualmente, quando se chega ao olho tudo para de um momento para o outro, a pausa pode demorar uma hora ou mais, e quando recomeça é imediato (aliás a principal causa de acidentes ao que parece, pessoas que aproveitam a pausa para sair, reparar as casas, etc...), depois vai diminuindo gradualmente. Mas o modo como falam dessa pausa em que tudo está suspenso, uma hora ou mais à espera daquela explosão instantânea em que numa fracção de segundo se passa da acalmia à mais violenta das tempestades, essa ideia, mais do que assustadora é fascinante.
A outra conjectura de Poincaré.
Há uma conjectura de Poincaré que quanto a mim continua por explicar: Por que razão na vila mais simpática da Guadeloupe fora de Pointe-à-Pitre, Le Moule, havia uma pequenina rua perpendicular à avenida principal com o nome do Poincaré? Lá está, a rua é perpendicular, tudo bem, é o referencial ortogonal, mas não vi nenhuma esfera homomorfa. Onde está ela? Que é como quem diz o que é que o Poincaré tem a ver com o Moule? Ou será que na paz das Caraíbas os Guadeloupeanos apreciam os grandes cientistas, os que sabem fazer as grandes perguntas para as quais não têm resposta? Talvez seja isso, ou talvez eu esteja para aqui a divagar sem sentido, o que se deverá seguramente ao facto de ainda não ter bebido um só ti' punch hoje. E por falar nisso, vou ficar por aqui, que me surgiu aqui de repente um afazer urgente e inadiável.
Há uma vila chamada Petit-Bourg, na Basse-Terre, os seus habitantes são os Petit-Bourgeois. A piada também funciona em português, os habitantes do Pequeno-Burgo são os Pequeno-Burgueses.
Outro aspecto sempre presente nas conversas, nas estórias, são os ciclones. A relação que têm com os ciclones é de uma estranha intimidade, conhecem-os pelo nome, mostram por vezes alguma nostalgia - "ah, o Hugo, foi dos grandes...". Os anos contam-se pelos ciclones, e não o contrário. Guardam um perspectiva prosaica sobre o assunto, a atitude é a de quem sabe que todos os anos há ciclones, mas os ciclones não passam todos por todas as ilhas, a questão é de saber quem é a vítima da próxima vez. Mas o mais fascinante (para mim) é o conceito do olho do ciclone, e é a fonte das estórias mais impressionantes. No centro do ciclone não há vento, é o tal olho, e curiosamente a cultura popular integrou isto muito antes de terem ouvido falar de meteorologia. Quando o ciclone passa a velocidade do vento aumenta gradualmente, quando se chega ao olho tudo para de um momento para o outro, a pausa pode demorar uma hora ou mais, e quando recomeça é imediato (aliás a principal causa de acidentes ao que parece, pessoas que aproveitam a pausa para sair, reparar as casas, etc...), depois vai diminuindo gradualmente. Mas o modo como falam dessa pausa em que tudo está suspenso, uma hora ou mais à espera daquela explosão instantânea em que numa fracção de segundo se passa da acalmia à mais violenta das tempestades, essa ideia, mais do que assustadora é fascinante.
A outra conjectura de Poincaré.
Há uma conjectura de Poincaré que quanto a mim continua por explicar: Por que razão na vila mais simpática da Guadeloupe fora de Pointe-à-Pitre, Le Moule, havia uma pequenina rua perpendicular à avenida principal com o nome do Poincaré? Lá está, a rua é perpendicular, tudo bem, é o referencial ortogonal, mas não vi nenhuma esfera homomorfa. Onde está ela? Que é como quem diz o que é que o Poincaré tem a ver com o Moule? Ou será que na paz das Caraíbas os Guadeloupeanos apreciam os grandes cientistas, os que sabem fazer as grandes perguntas para as quais não têm resposta? Talvez seja isso, ou talvez eu esteja para aqui a divagar sem sentido, o que se deverá seguramente ao facto de ainda não ter bebido um só ti' punch hoje. E por falar nisso, vou ficar por aqui, que me surgiu aqui de repente um afazer urgente e inadiável.
Arquivado em:Viagem às Caraíbas
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