Tu vois Jojo?, c'est ça le metissage!
Não que tenha passado muito tempo a discutir questões como o racismo ou a miscigenação, porque há coisas quotidianas e corriqueiras - bastante agradáveis em geral - que nos ocupam o tempo, mas de vez em quando o assunto vem à baila. Uma vez foi enquanto descascávamos batatas para eu cozinhar um "Bacalhau à Gomes de Sá" com que resolvi presentear os meus anfitriões (uma escolha segura, há anos que dá sempre bons resultados). Nessa manhã tinha sido apresentado ao primo E. que por acaso é bem negro, e trazia pela primeira vez à Guadeloupe a sua namorada, uma francesa metropolitana branca louríssima. A tati Ly. sai-se com o seguinte comentário "Não sei já reparaste, mas a família é um bocado dominó", estava eu a tentar decifrar a metáfora e ela lá fez uma alusão para explicar que se referia ao preto e branco do dominó. É absolutamente verdade que dentro da própria família há do mais escuro ao mais claro. A própria tati Ly. tem uma filha negríssima, do primeiro casamento, enquanto que a mais nova é quase branca ("chabine" como se diz em crioulo) e loura, a tati Ly. ela própria é mestiça. E para eles a mestiçagem é parte da identidade, e é afirmada com orgulho, e torna-se até num culto estético. A tati Ly. continuou a conversa e contou como era no tempo em que o seu filho estudava na U.F.M., Université de Formation des Maîtres, também conhecida por lá como Ecole Normale. A U.F.M. é uma escola prestigiada localmente e muita gente gostaria de lá colocar os filhos, talvez por isso haja (ou havia na época) uma grande diversidade entre os alunos. Descreveu-me então como para ela ir ter com o filho ao fim das aulas e ver os alunos, todos com a mesma farda, mas eles próprios de todas as cores descer a colina era das coisas mais belas que lhe podeia ser dado a ver. Tudo isto contado de forma pausada, com sentimento mas sem dramatismo, absolutamente convincente. A conversa continuou, eu ainda meti lá pelo meio uma referência ao Gilberto Gil, e aos seus discursos e canções que defendem a miscigenação como solução para os problemas do mundo.
Lá preparei o Bacalhau. Ao almoço a tati Ly. diz que é muito bom, só lhe falta um bocadinho de picante (já a mami S., tinha dito a mesma coisa), levanta-se e vai buscar o Piment, que é uma verdadeira bomba. Vira-se para mim e diz (sic): "Tu vois Jojo?, c'est ça le metissage! Tu nous prépares ta Morue portugaise et moi je l'ajoute um peu de Piment." (tradução: "Estás a ver Jojo?, é isto a mestiçagem! Tu preparas-nos o teu Bacalhau português, eu junto-lhe um pouco de picante"). Que mais há a dizer? Lapidar! Eu próprio pus um pouco, muito pouco, de Piment e só tenho a dizer que a surpresa foi bem agradável.
Lá preparei o Bacalhau. Ao almoço a tati Ly. diz que é muito bom, só lhe falta um bocadinho de picante (já a mami S., tinha dito a mesma coisa), levanta-se e vai buscar o Piment, que é uma verdadeira bomba. Vira-se para mim e diz (sic): "Tu vois Jojo?, c'est ça le metissage! Tu nous prépares ta Morue portugaise et moi je l'ajoute um peu de Piment." (tradução: "Estás a ver Jojo?, é isto a mestiçagem! Tu preparas-nos o teu Bacalhau português, eu junto-lhe um pouco de picante"). Que mais há a dizer? Lapidar! Eu próprio pus um pouco, muito pouco, de Piment e só tenho a dizer que a surpresa foi bem agradável.
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