quarta-feira, setembro 13, 2006

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Futebol e Política aqui pela França

Já eu aqui falei do envolvimento político do Lilian Thuram, já o Hugo tinha dado conta da "Sarkoïsation des esprits", uma expressão particularmente feliz de Thuram (que, lembre-se, é o jogador mais internacional da história da selecção francesa). Actualmente, enquanto a esquerda se entretém (com honrosas excepções) em guerrinhas para saber quem é o enésimo candidato às eleições presidenciais do próximo ano, Thuram continua a ser, de há um ano para cá, o mais sério opositor político de Sarkozy. Quando Sarkozy aparece como o inevitável candidato da direita às presidenciais e aposta numa estratégia de se encostar à extrema-direita para retirar votos a Le Pen, de Villiers e quejandos, é bom ter um jogador de futebol da estatura de Thuram a fazer o que a esquerda não faz. A boa notícia é que já não é só um, mas dois jogadores, desta vez Patrick Vieira, capitão de equipa da selecção francesa, juntou-se a Thuram ao convidar 80 squats de Cachan para o jogo França - Itália da semana passada, o que deixou a direita à beira de um ataque de nervos. Numa altura em que Sarkozy, na sua qualidade de ministro o interior, tenta levar avante a sua agenda através da expulsão de imigrantes em situação supostamente irregular - estamos a falar de milhares de imigrantes que estão em França há anos e têm filhos na escola - o squat de Cachan, nos subúrbios de Paris, tem atraído a atenção dos media, e tornou-se no símbolo da luta contra as expulsões. Os squaters são todos imigrantes, muitos em situação irregular, foram expulsos pela força, sob as ordens de Sarkozy, o prédio onde habitavam sem que a questão do alojamento estivesse resolvida, continuam alojados temporariamente num ginásio. É neste cenário de Thuram e Vieira (ele próprio imigrante naturalizado) decidem, pagando do seu próprio bolso, comprar bilhetes para alguns desse squaters e convidá-los a assistir ao jogo. Esta atitude, carregada de simbolismo, teve um enorme impacto, graças às ondas de choque que gerou à direita. É caso para dizer que acertaram na mouche. O mais curioso é ver a falta de argumentos de quem contesta Thuram e Vieira, o que se ouve mais vezes é que são futebolistas logo não se devem meter na política, como se não fossem antes de mais cidadãos e eleitores, e como tal com direito a uma opinião e a uma tomada de posição. Sarkozy desta vez não se pronunciou, já sabe que quando se mete o Thuram leva, mas mandou recado...

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