Evolução Inteligente (parte II)
João Miranda, no Blasfémias iniciou um debate sobre Criacionismo e Evolução, a propósito de um artigo de Paulo Gama Mota no Público (transcrito no Destreza das Dúvidas). Em boa parte a argumentação de João Miranda foi já desmontada pelo Santiago no Conta Natura, mas o Santiago aceitou "jogar fora", e ir para o terreno de discussão do João Mirando (é uma armadilha em que nós cientistas caímos frequentemente, mas o Santiago até se saiu bem).
Eu prefiro uma abordagem diferente, e numa coisa concordo com o João Miranda, os adeptos do Evolucionismo deviam estar contentes com a coça que os criacionistas vão levar, isto se os adeptos do Evolucionismo conseguirem manter o debate no terreno científico, onde ele pertence. E se for assim a vitória dos evolucionistas é por falta de comparência, o Criacionismo não é ciência. Evolucionismo vs Criacionismo é assim como Futebol vs Bacalhau à Gomes de Sá, não tem nada a ver. O Criacionismo é uma visão religiosa da origem da vida que resulta de uma determinada interpretação da Bíblia, não tem nada a ver com dados empíricos ou resultados experimentais. Aliás, parece até que o Vaticano vai adoptar uma posição sobre o Evolucionismo respeitando o princípio de que a Religião não se deve meter na Ciência e vice-versa. Sendo assim, e respeitando o princípio da laicidade do estado, se alguém a quiser ensinar o criacionismo deve ensiná-lo na catequese, e não na escola pública, muito menos nas aulas de Ciência.
Apesar disto anda para aí (nos EUA) uma corrente que se autodenomina de científica, o Intelligent Design (ID daqui em diante, e que pode traduzir-se por Desenho Inteligente). O ID não é mais do que uma forma de Criacionismo encapotada, e vem de movimentos religiosos que consideram que há uma incompatibilidade entre Criacionismo e a Ciência, mas contrariamente (ao que parece) à Igreja Católica não respeitam a separação entre Religião e Ciência, e tentam entrar no território científico. Vamos por partes, porque é que o ID não é uma teoria científica? Primeiro usa como grande argumento que o Universo e em particular a Vida são demasiado complexos para que essa complexidade surja do acaso, logo por consequência tem que existir um ente criador por trás dessa complexidade. Apresentado deste modo o argumento é puramente interpretativo e especulativo, colocando numa mesma amálgama todos os componentes do Universo, de uma forma não sistemática e ordenada de modo a poder ser testado experimentalmente ou corroborado por dados empíricos. Mais ainda fazer uso de um ente criador para explicar as observações é uma não-resposta científica, é transferir a explicação para um ente que não é um objecto definido, logo não pode ser alvo de uma análise científica. No entanto há uma componente da teoria que pode ser individualizada e testada, por modelização matemática ou experimentalmente, a saber o aspecto de a complexidade do Universo e da Vida não poder ter ocorrido ao acaso, ou como se diz no jargão científico "através de acontecimentos estocásticos". Curiosamente os defensores do ID querendo travestir-se de cientistas não fizeram uso deste importante dado empírico, e a razão é bem simples, é que os cálculos já foram feitos e contradizem a assumpção do ID.
Para além da sua defesa em termos científicos ser fraca (como espero ter demonstrado acima), os ataques que o ID faz ao Evolucionismo são também fracos. Dito de uma forma bem clara, o estado da arte hoje em Biologia é o seguinte: Nada do que sabemos faz sentido se não for à luz da Teoria da Evolução. E a teoria já avançou bastante depois de Darwin, nomeadamente no que respeita à sua base genética, e o que Darwin disse não foi ainda refutado. Há um corpo de dados experimentais e empíricos enorme que suporta a Teoria da Evolução. Paulo Gama Mota, no referido artigo no Público, enumerou uns quantos, e aí curiosamente João Miranda ficou-se pelo acessório e não atacou o essencial. E o essencial são os dados acumulados ao longo de todo este tempo que sustentam a Teoria da Evolução. Sem querer ser exaustivo há: 1) Dados paleontológicos, fósseis que demonstram alteracão gradual das espécies ao longo dos tempos, 2) Dados moleculares, os genes são mais semelhantes em espécies que a Teoria da Evolução prediz serem mais próximos, além de as bases moleculares da vida serem surpreendentemente semelhantes em todos os organismos, tudo isto indicando a existência de ancestrais comuns, 3) Dados genéticos, é possível estabelecer correlações entre semelhanças genéticas e morfológicas entre diferentes espécies, 4) Contrariamente ao que alguns pensam é possível estudar Evolução Experimental, há laboratórios que o fazem (inclusivamente em Portugal) e dai tem vindo novas explicações sobre os mecanismos pelos quais a Evolução actua.
Quem quiser refutar a Teoria da Evolução vai ter que fazê-lo encontrando erros fundamentais nestes dados empíricos e experimentais ou encontrar erros de raciocínio nas interpretações que os evolucionistas fazem desses dados, e, não menos importante, encontrar outras hipóteses explicativas coerentes para esses resultados.
E aqui está também a fraqueza científica do ID. A Teoria da Evolução não é uma teoria acabada, é obviamente complexa, e há ainda muitos pontos de interrogação sobre os quais trabalham muitos investigadores. Convém dizer aqui claramente que esses pontos de interrogação não são de todo sobre SE a Evolução ocorre, mas tão somente COMO ela funciona. Os adeptos do ID tentam (sem grande sucesso, diga-se) argumentar que esses pontos de interrogação chegam para refutar a Evolução, logo demonstrar o ID. Ora em ciência a demonstração de prova funciona como no direito (aliás, é ao contrário, mas não interessa), não é por se demonstrar a inocência do réu A que se prova a culpa do réu B, é preciso provar para lá que qualquer dúvida que o réu B é culpado. Os adeptos do ID tentam dizer que há falhas na Teoria da Evolução, logo isso demonstra a o ID é verdade. Erro científico mais crasso tenho dificuldade em imaginar.
Eu prefiro uma abordagem diferente, e numa coisa concordo com o João Miranda, os adeptos do Evolucionismo deviam estar contentes com a coça que os criacionistas vão levar, isto se os adeptos do Evolucionismo conseguirem manter o debate no terreno científico, onde ele pertence. E se for assim a vitória dos evolucionistas é por falta de comparência, o Criacionismo não é ciência. Evolucionismo vs Criacionismo é assim como Futebol vs Bacalhau à Gomes de Sá, não tem nada a ver. O Criacionismo é uma visão religiosa da origem da vida que resulta de uma determinada interpretação da Bíblia, não tem nada a ver com dados empíricos ou resultados experimentais. Aliás, parece até que o Vaticano vai adoptar uma posição sobre o Evolucionismo respeitando o princípio de que a Religião não se deve meter na Ciência e vice-versa. Sendo assim, e respeitando o princípio da laicidade do estado, se alguém a quiser ensinar o criacionismo deve ensiná-lo na catequese, e não na escola pública, muito menos nas aulas de Ciência.
Apesar disto anda para aí (nos EUA) uma corrente que se autodenomina de científica, o Intelligent Design (ID daqui em diante, e que pode traduzir-se por Desenho Inteligente). O ID não é mais do que uma forma de Criacionismo encapotada, e vem de movimentos religiosos que consideram que há uma incompatibilidade entre Criacionismo e a Ciência, mas contrariamente (ao que parece) à Igreja Católica não respeitam a separação entre Religião e Ciência, e tentam entrar no território científico. Vamos por partes, porque é que o ID não é uma teoria científica? Primeiro usa como grande argumento que o Universo e em particular a Vida são demasiado complexos para que essa complexidade surja do acaso, logo por consequência tem que existir um ente criador por trás dessa complexidade. Apresentado deste modo o argumento é puramente interpretativo e especulativo, colocando numa mesma amálgama todos os componentes do Universo, de uma forma não sistemática e ordenada de modo a poder ser testado experimentalmente ou corroborado por dados empíricos. Mais ainda fazer uso de um ente criador para explicar as observações é uma não-resposta científica, é transferir a explicação para um ente que não é um objecto definido, logo não pode ser alvo de uma análise científica. No entanto há uma componente da teoria que pode ser individualizada e testada, por modelização matemática ou experimentalmente, a saber o aspecto de a complexidade do Universo e da Vida não poder ter ocorrido ao acaso, ou como se diz no jargão científico "através de acontecimentos estocásticos". Curiosamente os defensores do ID querendo travestir-se de cientistas não fizeram uso deste importante dado empírico, e a razão é bem simples, é que os cálculos já foram feitos e contradizem a assumpção do ID.
Para além da sua defesa em termos científicos ser fraca (como espero ter demonstrado acima), os ataques que o ID faz ao Evolucionismo são também fracos. Dito de uma forma bem clara, o estado da arte hoje em Biologia é o seguinte: Nada do que sabemos faz sentido se não for à luz da Teoria da Evolução. E a teoria já avançou bastante depois de Darwin, nomeadamente no que respeita à sua base genética, e o que Darwin disse não foi ainda refutado. Há um corpo de dados experimentais e empíricos enorme que suporta a Teoria da Evolução. Paulo Gama Mota, no referido artigo no Público, enumerou uns quantos, e aí curiosamente João Miranda ficou-se pelo acessório e não atacou o essencial. E o essencial são os dados acumulados ao longo de todo este tempo que sustentam a Teoria da Evolução. Sem querer ser exaustivo há: 1) Dados paleontológicos, fósseis que demonstram alteracão gradual das espécies ao longo dos tempos, 2) Dados moleculares, os genes são mais semelhantes em espécies que a Teoria da Evolução prediz serem mais próximos, além de as bases moleculares da vida serem surpreendentemente semelhantes em todos os organismos, tudo isto indicando a existência de ancestrais comuns, 3) Dados genéticos, é possível estabelecer correlações entre semelhanças genéticas e morfológicas entre diferentes espécies, 4) Contrariamente ao que alguns pensam é possível estudar Evolução Experimental, há laboratórios que o fazem (inclusivamente em Portugal) e dai tem vindo novas explicações sobre os mecanismos pelos quais a Evolução actua.
Quem quiser refutar a Teoria da Evolução vai ter que fazê-lo encontrando erros fundamentais nestes dados empíricos e experimentais ou encontrar erros de raciocínio nas interpretações que os evolucionistas fazem desses dados, e, não menos importante, encontrar outras hipóteses explicativas coerentes para esses resultados.
E aqui está também a fraqueza científica do ID. A Teoria da Evolução não é uma teoria acabada, é obviamente complexa, e há ainda muitos pontos de interrogação sobre os quais trabalham muitos investigadores. Convém dizer aqui claramente que esses pontos de interrogação não são de todo sobre SE a Evolução ocorre, mas tão somente COMO ela funciona. Os adeptos do ID tentam (sem grande sucesso, diga-se) argumentar que esses pontos de interrogação chegam para refutar a Evolução, logo demonstrar o ID. Ora em ciência a demonstração de prova funciona como no direito (aliás, é ao contrário, mas não interessa), não é por se demonstrar a inocência do réu A que se prova a culpa do réu B, é preciso provar para lá que qualquer dúvida que o réu B é culpado. Os adeptos do ID tentam dizer que há falhas na Teoria da Evolução, logo isso demonstra a o ID é verdade. Erro científico mais crasso tenho dificuldade em imaginar.
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