quarta-feira, agosto 30, 2006

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Alguma História das Caraíbas (para relembrar a minha ignorância)

Logo para começar, no avião, graças a umas daquelas revistas de bordo, fiquei a saber que Alexandre Dumas era mestiço. Sim, falo de Alexandre Dumas o grande escritor, autor de "Os Três Mosqueteiros" ou "O Conde de Monte Cristo", o seu pai Thomas Alexandre Dumas era um mulato que nasceu escravo nas Caraíbas, mais propriamente na St. Domingue, hoje República Dominicana. A mãe de Thomas Alexandre Dumas era escrava, africana, o pai um nobre normando que fez fortuna com a cana do açúcar com inúmeros filhos das suas escravas. Na altura de regressar a França o pai de Dumas, entretanto já na miséria financeira, vendeu todos os seus escravos, incluindo os seus filhos. No entanto voltou a comprar Thomas Alexandre Dumas (foi o único com essa sorte) e fê-lo viajar para França, aí acabou por fazer estudos militares e chegou a general do exército durante o período da Revolução Francesa. Notabilizou-se pela sua coragem e pela sua força, mas caiu em desgraça com Napoleão (que até nem gostava muito de pessoas de tez mais escura). Quando morreu o seu filho Alexandre Dumas tinha pouco mais de três anos, no entanto consta que se inspirou no seu pai para criar a personagem "Porthos".

Outro pormenor da História que desconhecia é que a primeira derrota das tropas de Napoleão não foi na Rússia, mas nas Caraíbas dez anos antes, mais precisamente no Haiti. Quando Napeolão decidiu re-establecer a escravatura - sim, RE-establecer, em 1802, quando a escravatura havia sido abolida em 1794, após a Revolução Francesa - os ex-escravos entretanto livres naturalmente que não ficaram contentes. Ainda para mais a Revolução Francesa tinha trazido já grandes alterações ao Haiti, a ponto de se declararem a autonomia. Napoleão enviou as suas tropas para tentar controlar a situação mas a revolução haitiana levou de vencida e culminou com a declaração da independência. O Haiti tornou-se no primeiro país negro independente.

Mas não foi só no Haiti, também na Guadeloupe houve uma revolta (1802) e os heróis dessa revolta são hoje homenageados com a "Avenida dos Heróis" - foto. Esta avenida é a principal via de acesso a Pointe-à-Pitre, a maior cidade da Guadeloupe. Ao longo da avenida, em cinco rotundas, há cinco estátuas, cada uma honrando um dos heróis. Não sei os nomes de todos, nem o que fizeram em especificamente, mas são os heróis de 1802. Ignoro a que ponto os Guadeloupeanos conhecem a fundo a história destes heróis, mas as referências a estes e aos monumentos são frequentes e um pouco por todo o lado, em postais, livros, ou até algumas vezes nas conversas. O sentimento de que são motivo de orgulho da população pareceu-me bem presente. Contrariamente ao Haiti a revolta da Guadeloupe não foi bem sucedida.

E há ainda uma pequena estória que ficará na história. Se não me engano há uns dois anos um restaurante da cadeia de fast-food franco-belga Quick recusou fechar para as comemorações da abolição da escravatura (10 de Maio). Essa atitude causou descontentamento e o restaurante foi vandalizado, fechou e não voltou a abrir (o local ainda lá está como se pode ver na foto, é em Pointe-à-Pitre). A cadeia Quick que na França metropolitana é o mais sério concorrente do MacDonald's hoje não tem um único estabelecimento aberto na Guadeloupe, já o MacDonald's há aos pontapés.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas