quarta-feira, março 29, 2006

Ir para a Página Principal

Les casseurs, os nihilistas suburbanos

"...nada se assemelha à magia da dinamite"
Jorge Palma, in Jeremias o Fora-da-Lei

Nota prévia: Post escrito com desconhecimento de causa. Não sei mais sobre Casseurs do que o que leio nos jornais, e o que ouço nas conversas por aqui...

foto roubada aqui (para mais fotos da luta conta o CPE basta ver no flickr imagens com tag CPE).

A propósito da violência nas manifestações contra o CPE, convém dizer antes do mais que tendo em conta a dimensão das escaramuças e a dimensão das manifestações (sobretudo a de ontem) essa violência é marginal. No entanto tem tido, se calhar mais atenção dos média, fora de França, do que a própria luta contra o CPE. Mas nem por isso deixa de valer a pena falar do assunto.

Parece-me que há dois tipos de grupos que causaram até agora desacatos. Um são os grupos supostamente organizados e politizados que se infiltraram na ocupação da Sorbonne e da EHESS (link roubado neste post da garedelest). Esses de facto são um bando de cretinos inconsequentes e com acções completamente contraproducentes com vista aos objectivos (se é que os têm).
Outro fenómeno é o dos Casseurs. É um fenómeno que não vem de agora, já tem quase dez anos. Os Casseurs atacam na rua, durante as manifestações, e preferem atacar a polícia, mas na prática atacam o que aparece à frente. O Le Monde fez uma reportagem com um grupo desses Casseurs, vindo dos subúrbios do Norte de Paris, durante a manifestação de 23 de Março, vale a pena ler. A mim parece-me que estes são os mesmos jovens que em Novembro andaram a incendiar carros, e mais ainda, os seus motivos são, continuam a ser os mesmos, tal como a ausência de objectivos. Pareceu-me na altura que havia um sentimento geral que oscilava entre a simpatia mais ou menos escondia e uma certa compreensão pelos motivos da revolta. É certo que houve então circunstâncias particulares, principalmente a morte de dois miúdos, que não fizeram nada a não ser ter medo da polícia. Talvez esteja aí a razão da simpatia. Mas houve outras causas para os tumultos, das quais a exclusão social é uma, mas não a única. O famoso discurso dos "racailles" do Sarkozy, não é apenas uma provocação, traduz-se na prática por uma repressão policial dirigida contra os "banlieusards". Tudo quanto é rapaz novo, vestido ganga e capuz, que seja negro ou que tenha cara de árabe é regularmente interpelado pela polícia sem outro motivo que não o de parecerem "racailles". Esta forma de perseguição é também uma causa da violência que vem das "banlieus". Não é por acaso que em qualquer reportagem que se leia nos jornais sobre os Casseurs, o inimigo declarado é sempre o Sarkozy. Mas o que é também evidente é que, para além do ódio dirigido a Sarkozy, não há um objectivo político. Nem político nem outro, não há objectivo por trás da violência. A violência é apenas uma forma de exteriorizar a frustração de ser marginalizado. Óbviamente que a responsablidade política quer no problema social dos subúrbios e na integração dos imigrantes quer na questão da repressão policial não iliba a responsabilidade individual de quem pratica a violência. Os Casseurs são seres humanos providos de cérebro, e portanto dotados de um sentido de moral e de responsabilidade. Mas este argumento vai nos dois sentidos, a irresponsabilidade dos Casseurs não iliba os políticos. A diferença é que os políticos são eleitos para resolver esses problemas.
Desde as manifestções de estudantes do fim dos anos 90 quando apareceram, passando pelos tumultos de Novembro, e agora pelas manifs anti-CPE, que os Casseurs são o sintoma de um problema que continua ainda por resolver (e que o CPE só vem agravar).


Arquivado em:Luta anti-CPE

1 Comments:

Blogger mariomar Escreveu...

coisas sensatas, o que dizes... e esse sarcozy, se não é fascista, gostava de o poder ser, ao que parece...

8:20 da tarde, março 30, 2006  

Enviar um comentário

<< Home