domingo, março 19, 2006

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Dupla Hélice: Quanto vale uma imagem?


"...the objection could be raised that, although our idea was aestetically elegant, the shape of the sugar-phosphate backbone might not permit its existence. Happily, now we knew that this was not true, and so we had lunch telling each other that a structure this pretty just had to exist"
James D. Watson, in "The Double Helix"

(desta vez sem linguagem técnica)

A frase de Watson é lapidar e nem chega a ser um lapso. De facto a "fama" da Dupla Hélice deve-se não à sua importância como descoberta científica mas tão simplesmente ao facto de esteticamente ser lindíssima. E aqui acho que não há controvérsia possível, como imagem a Dupla Hélice é de facto lindíssima. E aí é que está o problema, na minha opinião. Na sociedade mediatizada da informação em que uma imagem vale mais do que mil palavras, em que a caça aos soundbytes é permanente, a Dupla Hélice transformou-se num ícone. Pode dizer-se que isso é bom para a Ciência, particularmente para a Biologia, porque lhe traz visibilidade. Se o objectivo é ter visibilidade nos meios políticos onde se decide a atribuição de verbas para a Investigação, talvez seja verdade, mas sou céptico a esse respeito. Se o objectivo é aproveitar um ícone para transmitir para fora da comunidade científica o conhecimento que esta produz, pelo menos das descobertas mais relevantes, então sou mais do que céptico. Estou convencido de que muita gente ouviu falar da Dupla Hélice, mas muito pouca sabe porque é que ela é importante. Não sei se foi algumas feito um estudo sociológico a este respeito (acredito que sim, e gostaria de saber o resultado), mas quantas das pessoas que já ouviram falar da Dupla Hélice sabem qual a relação do DNA com os cromossomas ou com a hereditariedade?


Arquivado em:Ciência