quinta-feira, janeiro 04, 2007

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Pequenos pormenores...

Toda e qualquer morte de um ser humano é lamentável, mesmo a do mais sanguinário dos ditadores. Toda e qualquer condenação à morte é um erro, mesmo a do mais sanguinário dos ditadores, sobretudo a do mais sanguinário dos ditadores. Não dar ao ditador o mesmo tratamento que ele deu às suas vítimas seria uma demonstração de superioridade moral da nova ordem que se quer democrática, livre e justa. Pelo contrário as novas instituições iraquianas, e por arrastamento o aliado/invasor americano, pelo tratamento indigno que deram a Saddam Hussein rebaixaram-se ao seu nível. A pressa com que quiseram executá-lo, findo o julgamento, relembrou-me a execução de Ceausescu. Concordo portanto inteiramente com este post do Ivan Nunes no 5dias. Não tenho quase nada a acrescentar senão um pequeno pormenor que não sendo propriamente chocante não deixa de me surpreender, e na minha opinião reveste-se de um enorme simbolismo. Os homens que executam Saddam nem sequer estão fardados. É uma convenção (digo eu) universal: em qualquer lugar onde há um Estado (e não digo Estado democrático, digo Estado simplesmente) os agentes encarregues de fazer cumprir a lei em nome desse Estado têm uma farda que os identifica como representantes desse Estado. Sendo a execução do antigo ditador um momento crucial na fundação de uma nova ordem no Iraque, seria de esperar alguma solenidade. Pelo contrário, temos um tratamento indigno do condenado, com impropérios e gritos de alegria de homens encapuçados, num ambiente austero entre paredes de betão, filmado por um amador com telemóvel. Quem não soubesse tratar-se de Saddam Hussein poderia pensar que as imagens eram antes da execução de um refém ocidental por uma célula da Al-Qaeda no Iraque.
Atendedo aos pequenos pormenores esta execução dá uma péssima imagem de um governo que quer dar apresentar-se como democrático e legítimo representante de todos os iraquianos.

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