domingo, fevereiro 12, 2006

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Kasumbalesa

Embora nunca me tenha sentido em perigo, e ainda hoje acho que não corri perigo nenhum, a passagem da fronteira em Kasumbalesa foi a única situação, por assim dizer, de alguma tensão (talvez por isso não haja fotos para documentar). Saí do táxi vindo de Chingola e fui literalmente envolvido por uma multidão de tipos a oferecerem-me não sei bem o quê. Quer dizer, sei de pelo menos duas coisas, uma é carregar a mochila, não que eu precise que quem me carregue a mochila mas tudo bem, outra é ajudar-me a passar a fronteira, o que quer dizer dar gorjetas em pelo menos três balcões diferentes (para carimbar o passaporte, para a alfândega e para o certificado de vacinas internacional). Note-se que estes tipos são profissionais, o emprego deles é fazer pessoas atravessar a fronteira, e estou a falar de atravessar a fronteira de uma forma completamente legal. Há aqui também uma diferença entre a Zâmbia e o Congo, bastante marcada, a corrupção é muito maior no Congo. Atravessar a fronteira da Zâmbia não é díficil, seja a entrar ou a sair, é no Congo que os "problemas" aparecem. Basicamente os guardas fronteiriços põem todo o género de entraves que depois só se consegue ultrapassar com gorjetas, de preferência em dólares, e não se aceitam notas de $1. Os tipos que estão lá para ajudar têm um discurso perfeitamente coordenado com os guardas fronteiriços, que é preciso pagar uma taxa quando se entra pela primeira vez no país, que é preciso a morada do anfitrião, etc... Eu fui enganado de ínicio. Sabia que ia estar alguém para me receber, e quando saí do táxi houve um que me atirou que o meu amigo estava à minha espera do outro lado da fronteira, eu pensei que este tipo fosse do comité de recepção e deixei-o conduzir-me. Rapidamente deu para perceber que ele não conhecia o meu amigo Y., e que ele estava com vontade de me fazer pagar gorjetas a muita gente, nisto ainda havia um outro tipo que me carregava a mochila e mais uns quantos que nos acompanhavam. A maneira que eu arranjei de me safar foi dizer que não tinha dinheiro, que tinha que encontrar o meu amigo Y. e que ele me poderia emprestar. Eu até tinha dinheiro mas sabia que se encontrasse o Y. me safava. Tinha o nº de telemóvel dele. e eles lá lhe telefonaram (a propósito, toda a gente tem telemóvel), passaram-me o telefone e voz até parecia do meu amigo, mas aparece-me um tipo que eu não conheço a dizer que é o irmão do Y.. Eu não sabia que número é que eles tinham marcado, pensei que fosse mais um esquema. Mas não, era mesmo o J. irmão do Y. e desenrascou-me em três tempos. Entre o brandir apelos ao patriotismo e o exibir a carta de convite do paí, professor universitário e pessoa influente nos meios locais, a coisa andou rapidamente. Apesar de tudo isto ainda custou $5 (antes de o J. aparecer) e mais 2000 francos congoleses. Aos ajudantes é que não se deu nada porque quando se lhes deu uma gorjeta eles acharam pouco e recusaram à espera de receber mais.
A estória ainda teve uma pequena sequência no regresso, quando voltei a atravessar a fronteira de regresso à Zâmbia. O tipo que me tinha carregado a mochila reconheceu-me e veio perguntar-me se eu me lembrava dele, isto quando eu estava a entrar no táxi para ir para Chingola. O J. estava comigo e houve uma breve troca de palavras em swaili que me pareceu mais num espírito de descontração do que outra coisa, apesar de eu ter receio de represálias pela falta de pagamento do serviço prestado à primeira passagem. O tipo desapareceu, eu despedi-me do J. e entrei no táxi, mas enquanto esperava que partissemos ele ainda voltou à carga. Disse-me que se chamava Serge, que eu me lembrasse dele, e da próxima vez que eu voltasse que o procurasse para ele me ajudar, e despediu-se cordialmente.


Arquivado em:Viagem a África

1 Comments:

Blogger mariomar Escreveu...

Bem-vindo ao mundo blogótico... blogístico... blogosférico... bloguense... blogúrico... bloguético... bloguisforme... ou-lá-o-que-é, bem-vindo. Estou a gostar das crónicas, cá voltarei - não poupes nas fotos...

2:51 da manhã, fevereiro 13, 2006  

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