terça-feira, novembro 28, 2006

Um filme que poderia ter-se tornado um Ícon

Vi há pouco tempo Fire, da realizadora indiana de naturalizada canadiana Deepa Metha. É um filme já com dez anos, o primeiro de uma trilogia da realizadora que, depois de anos a viver no Canadá, decide revisitar a sua Índia natal com um olhar bastante crítico. "Fire" passa-se na Delhi contemporânea, é a história de duas mulheres descontentes com os seus casamentos, e com a sua condição enquanto mulheres. Tornam-se próximas, íntimas, e acabam por se envolver num relacionamento amoroso. O filme pretende ser uma crítica ao papel da mulher na sociedade indiana. A própria realizadora assume que o seu filme tem algo de manifesto. Foi bastante controverso na Índia, e chegou a estar proibido devido a ataques de fundamentalistas Hindus a salas onde o filme foi exibido.
Confesso que quando vi o filme, talvez por não saber de todo ao que ia, fiquei surpreendido e gostei, sem no entanto ficar deslumbrado, essencialmente achei o filme simpático. Perguntei-me o porquê deste filme não se ter tornado emblemático, poderia ser um estandarte feminista, ou mesmo lésbico. Ao mesmo tempo sabia a resposta. Por um lado o filme, sem ser Bolywoodesco, tem uma estética demasiado "exótica" para que o espectador ocidental se identifique com ele. Por outro (imagino eu) para os indianos talvez o filme seja demasiado superficial. Através da wikipedia cheguei a este artigo da feminista indiana Madhu Kishwar que acusa o filme de maniqueísmo, e faz uma crítica demolidora, vindo do lado oposto dos fundamentalistas Hindus. De facto nem ocidental, nem indiano, "Fire" acaba por ficar na terra de ninguém, e para ser Universal falta-lhe qualquer coisa...

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domingo, novembro 26, 2006

A Gramática para além de Plutão

Muito se tem escrito sobre a TLEBS (Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário) na blogosfera e não só. Já consegui encontrar argumentos a favor e contra, o que quer dizer que a discussão avançou um bocado depois do post que escrevi a comparar a questão da TLEBS com a despromoção de Plutão a planeta-anão. Logo para começar encontrei o texto tal da Maria Alzira Seixo na Visão, graças aos bons ofícios dO Céu sobre Lisboa. Já agora, no mesmo blogue há vários posts sobre este assunto que valem a pena ser lidos (este, este, este e este), e de sinal contrário há este disparate no Aspirina B.

Para além de Maria Alzira Seixo, também Vasco Graça Moura volta ao assunto, novamente na sua coluna no DN. Ambos apresentam argumentos contra a TLEBS (já lá vou), mas ambos deixam transparecer que não é apenas da TLEBS em si mesma que se trata, há também uma disputa de autoridade e de território entre a Literatura e a Linguística, como se pode ver:

"a Gramática, e muito menos a Língua, não são propriedade exclusiva do estudo da Linguística, ligam-se a outras disciplinas em que são cruciais: a Literatura (...) e Filosofia, com a Lógica e a Filosofia da Linguagem" (Maria Alzira Seixo)

"O ódio à Literatura atinge o seu paroxismo nestes modelos de autópsia" (Vasco Graça Moura)

Pegando noutro exemplo e seguindo a mesma lógica: também o estudo do organismo humano não é propriedade exclusiva da medicina, mas será que um biólogo pode passar receitas médicas? A Gramática é um objecto de estudo da Linguística (o que não quer dizer propriedade dos linguistas), e mesmo que os linguistas devam naturalmente estar abertos à discussão com outras disciplinas, quando se trata de decidir a elaboração dos programas escolares é a linguistas que Ministério da Educação (ME) deve recorrer no que respeita à Gramática tal como deve recorrer a Matemáticos para elaborar os programas de Matemática. A reclamação territorial de Seixo e Graça Moura, na minha, opinião não colhe.

Há também um outro aspecto, o que motivou o post anterior, e que se mantém: há uma motivação autenticamente conservadora na generalidade dos que se opõe à TLEBS. Há uma atitude de princípio na recusa da mudança. Se a a Gramática fosse uma simples forma de nomenclatura, se a escolha entre "nome" e "substantivo" fosse meramente arbitrária, se fossem apenas duas formas diferentes, igualmente eficazes, de designar a mesma coisa eu até concordaria com a posição conservadora. Se é indiferente, então a mudança é fútil. Mas a Gramática é uma forma de descrever e compreender correctamente a Língua que falamos, e pode sofrer alterações que descrevam mais eficazmente, e nos permitam compreender melhor a língua. Há que comparar a Gramática tradicional com a que é proposta pela TLEBS e determinar qual a que melhor descreve o português que falamos.

Pelos exemplos e argumentos que são dados, curiosamente por Maria Alzira Seixo e Vasco Graça Moura, dos poucos exemplos concretos que vou conhecendo estou a começar a gostar da TLEBS. Maria Alzira Seixo critica que a TLEBS dirija a "taxinomia da língua para raciocínios tecnicistas e funcionais", parece-me muito bem que assim seja, a Gramática deve ser acima de tudo uma ferramenta técnica e funcional para a compreensão da língua, e é isso que deve ser ensinado na escola. É precisamente o que se critica em permanência aos alunos, não saberem usar a língua como instrumento de comunicação, que é como quem diz faltam-lhes as bases técnicas e funcionais de manuseamento da língua. Pelas mesmas razões que Seixo prefere "substantivo" a "nome" eu prefiro "nome" a "substantivo" ("por ser muito mais amplo e romper com a tradição filosófica milenar que funda a relação entre pensamento e linguagem, elevando-a acima do uso instrumental.")

Vasco Graça Moura (contrariamente às minhas expectativas) apresenta argumentos, refere-se esta apresentação (ficheiro powerpoint disponível no site o ME) em que uma estrofe d'"Os Lusíadas" é utilizada como exemplo para uma análise gramatical à luz da TLEBS. A partir daí faz a sua crítica sistemática apresentando vários pontos contra a TLEBS. A meu ver, Graça Moura, comete um erro numa parte significativa da sua análise, e talvez não seja um erro inocente: confunde análise gramatical com análise literária. DL no Linha dos Nodos comete o mesmo equívoco. Se uma análise literária, for estudar as figuras de estilo, a métrica, a rima, o ritmo, o vocabulário e tudo o mais do poema de Camões para chegar à simples conclusão que "Tioneu queimava os cheiros excelentes produzidos na Pancaia", seria de facto grave, muito grave. Simplesmente não é disso que se trata. Para uma análise gramatical os autores da dita apresentação escolheram como exemplo um texto de Camões como poderiam ter escolhido uma qualquer notícia de jornal. Logo aí revelam um enorme bom senso, não só em qualquer circunstância Camões é sempre uma escolha melhor do que qualquer texto de jornal, como ainda no caso concreto os oito versos de Camões com toda a sua riqueza e complexidade apresentam uma tal diversidade de construções gramaticais - como os autores da dita apresentação expõem e analisam excelentemente - que páginas e páginas de jornais não chegariam para o exemplificar. É bom não esquecer que para os alunos poderem perceber e, mais importante ainda, apreciar Camões, convém que percebam antes as bases da Gramática, e saibam fazer um bom uso da Língua. Aí talvez Camões dê voltas no túmulo, mas de contentamento.

No resto, acredito que nem todas as alterações propostas pela TLEBS sejam melhores do que as da Gramática Tradicional, e num debate profundo e exaustivo chegar-se-á provavelmente à conclusão que algumas alterações devem ser adoptadas e outras não. Perece-me completamente natural, e seria um erro rejeitar a TLEBS como um todo por culpa de uma ou outra insuficiência pontual. Não nos devemos é esquecer que se trata uma opção entre uma Gramática tradicional e uma outra nova, convém ter presente qual é o termo de comparação. Se nos estão sempre a citar os exemplos abstrusos da TLEBS, perguntem-se se na Gramática tradicional não há exemplos igualmente abstrusos aos quais estamos, simplesmente, habituados. Dizia-me há pouco tempo um amigo, que por acaso ensina Português aqui em França, "tentem explicar a um estrangeiro o que é o 'Pretérito Perfeito' e porque é que se chama assim, e vão ver se é intuitivo".

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sábado, novembro 25, 2006

Triste

Triste é saber
que ninguém pode viver de ilusão
Que nunca vai ser, nunca vai dar
Um sonhador tem que acordar

Triste, de Tom Jobim

...triste é ver morrer uma utopia.

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quinta-feira, novembro 23, 2006

O Véu Islâmico e a Laicidade

A Joana Amaral Dias escreveu um excelente post do 5dias abordando a questão do Véu Islâmico e a Laicidade do estado. Estou inteiramente de acordo, dou só aqui umas achegas. Como é referido e bem no post esta moda de atacar o Véu Islâmico em nome da Laicidade começou em França e foi da responsabilidade de Nicolas Sarkozy. Ninguém fora de França (e pouca gente dentro de França) reparou que nessa iniciativa a Laicidade do Estado não foi senão um falso pretexto, o verdadeiro objectivo de Sarkozy e da direita parlamentar foi de fazer um gesto do agrado do eleitorado de extrema-direita, para tentar cativar os votantes de Le Pen e outros que tais. Há aqui uma questão que me parece simples e clara (mas que me parece que pouca gente concorda): O estado é e deve ser laico face ao cidadão, o que não quer dizer que o cidadão seja laico. O cidadão tem e deve ter liberdade de escolha do credo religioso. Quer isto dizer que o estado, por exemplo, não pode ensinar matérias religiosas ou influenciadas por visões religiosas (como o criacionismo por exemplo). Quer dizer também que uma professora, como representante do estado na sala de aula, não pode usar elementos religiosos (aí estou de acordo que uma professora não possa usar um Véu Islâmico). Isso não quer dizer que os alunos não tenham religião, e não possam mostrá-lo. Há uma assimetria entre o que deve ser o comportamento do estado perante o cidadão e do cidadão perante o estado.
Outra questão completamente diferente é saber se o Véu é discriminatório para a mulher muçulmana. É!, claro que É! E não essa não é uma questão que só os muçulmanos possam debater entre si. Qualquer um de nós pode e deve indignar-se contra essa discriminação, e manifestá-lo. Mas não é com leis que se vai resolver o problema, pelo contrário (mais uma vez o post de que falo refere o exemplo do aumento da venda de véus recentemente em Inglaterra). Este tipo de leis só serve para hostilizar e ostracizar os muçulmanos, o que não ajuda nada a combater a discriminação de que as mulheres são alvo. E por falar em discriminação das mulheres, alguém se perguntou porque é que as mulheres judias não usam o kippah? Será também uma forma de discriminação das mulheres? Deveríamos fazer leis para regular o uso do kippah? É absurdo, tal como é absurdo proibir o uso do Véu Islâmico.

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segunda-feira, novembro 20, 2006

De regresso ao Inverno

Cá estou de volta ao Inverno depois de ter passado uma semana na Primavera. De encontro às expectativas estava uma temperatura máxima para lá dos 20º, e só choveu um dia em oito, sol o resto do tempo (o paradoxo é que na Primavera está frio é dentro de casa, ao contrário das temperaturas estivais interiores aqui no Inverno, é que lá não se usa aquecimento, vá-se lá saber porquê). A Primavera do Sul tem essa grande vantagem, e por mais que a disciplina protestante do Inverno seja civilizada nunca terá, o Sol, quanto ao mais a Primavera é um local pitoresco. Por inacreditável que possa parecer o que conto a seguir é absolutamente verídico.
Por exemplo, vi na Televisão local uma entrevista de um inverosímil personagem que se afirmava vítima de uma cabala que envolvia o actual presidente, o anterior presidente, um ex-líder do seu próprio partido, umas quantas figuras políticas e mediáticas, e aproximadamente 70% da população local. Numa democracia isso não será considerado propriamente uma conspiração, mas o excêntrico personagem escreveu mesmo um livro sobre o assunto. O mais extravagante é que esse inarrável personagem terá mesmo chegado a ser primeiro-ministro, aliás extravagante mesmo é que ele considera ainda a possibilidade de voltar a sê-lo, consegue vender o seu livro, e é notícia de telejornal. Entretanto, continuando a ver os noticiários, há um líder de um partido residual de direita que defende a criminalização da interrupção voluntária da gravidez como política de incentivo à natalidade. Desligo a televisão, e saio à rua.
O moral das primaveris gentes estava primaveril, como convém. Há uns poucos anitos quando lá fui numa das minhas visitas pairava um clima de euforia estival pelo ar, um par de anos mais tarde voltei a passar e a depressão invernal passou a estado de espírito nacional, agora está assim para o médio, nem quente nem frio, equilibrado. As conversas de café à volta dos temas de sempre não são nem megalómanas nem catastrofistas, antes parece haver cada vez mais um certo realismo, sem nunca perder o sentido crítico. Parece até que se chegou a um consenso generalizado que a Primavera precisa de reformas profundas em quase todos os sectores, tal como há também um consenso que os outros sectores são aqueles que mais precisam de reformas. Dizem-me, por exemplo, que os professores não querem que se mexa no seu estatuto, mas que seguramente os mesmos concordarão que os médicos, os militares, os funcionários públicos beneficiam de demasiados privilégios e que os profissionais liberais deveriam pagar mais impostos. Seguramente todas as outras classes profissionais concordariam na generalidade com os professores, alterando apenas um ou outro pormenor (provavelmente substituiriam a sua própria classe profissional por professores e estariam totalmente de acordo com a necessidade de reformas acima enunciada).
Fiz ainda umas curtas viagens na Primavera, que as auto-estradas, baluarte da modernidade local, são mesmo convidativas. Foram construídas há uma década, mais ou menos, e projectava-se que iriam trazer o progresso a todo o resto da nação. Não foi bem o caso, o país para lá das auto-estradas continua assim para o atrasadito. O primeiro-ministro de então, não-obstante, foi promovido por voto popular a presidente da república da Primavera. Nas estradas notava-se ainda (e sempre) o estilo de condução estouvado dos autóctones, mas dizem a estatísticas - uma boa notícia - que o número de vítimas tem vindo a diminuir (lá está, uma demonstração empírica da teoria de Darwin).
Tive ainda tempo de ir, assim de passagem, ao séc. XIX visitar alguns familiares que ainda por lá tenho. Logo para assegurar uma transição progressiva, a auto-estrada que vai para o séc. XIX é moderna, sim, mas não aceita cartões VISA, o que para quem vem o estrangeiro é uma grande chatice. Pelo caminho a auto-estrada ia sendo ladeada por altivos eucaliptos - espécie vegetal exótica muito popular na Primavera, apesar de nociva. No séc. XIX as coisas estão como antes, umas charruas e carros de bois, fontes, fornos de pão e tudo o mais, apenas com um pouco mais de pó e teias de aranha do que antes, prestes a dissipar-se a qualquer instante. Ou talvez esteja apenas a dissipar-se lentamente. Encontrei no caminho um tasco que tinha lá a um canto duas fabulosas mesas de tampos em azulejo e respectivos bancos de correr. Aí degustei umas deliciosas sandes de carne estufada e bifanas (refeição para dois com bebida e sobremesa, a menos de 7 euros). Tal como encontrei num passeio ao novo Mont St. Michel lá do burgo (local apropriado para uma fotozinha do turista), mesmo em frente à estação dos comboios um outro magnífico café, um dos autênticos, um estoico resistente, que é especial simplesmente porque não tem nada de especial (e novamente frango para dois, refeição completa igualmente em conta). É afinal nos pequenos pormenores bem escondidos que se encontra o Sol da Primavera.

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sábado, novembro 11, 2006

Pequena pausa...

...nas blogagens. Volto já, vou passar uma semana à Primavera.

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sexta-feira, novembro 10, 2006

De palerma é que ele não tem nada!



Esta rábula do Ricardo Araújo Pereira (que só me chegou através do YouTube) demonstra a superioridade do comediante sobre o político. Como diria (pensa-se que disse) Chaplin:"I remain just one thing, and one thing only— and that is a clown. It places me on a far higher plane than any politician". Indo além dos personagens em apreço - quer dizer, façamos abstracção de que se trata da Odete Santos - sendo objectivo, vendo as coisas em sentido estrito, RAP fez a piadinha fácil, populista, seguramente ao gosto de Paulo Portas: "os políticos são todos uns malandros". Odete Santos não faz mais do que defender o ponto de vista razoável, contrariar a demagogia fácil das acusações vagas atiradas para o ar. Mas está à vista de toda a gente quem é que fica mal na pintura. Alguém consegue ver em Odete Santos uma tentativa honesta de defender o bom nome da sua classe, ou apenas um balbuciar despropositado e deslocado? De facto a deputada parece um peixe fora de água, completamente à deriva a tentar ripostar ao humorista. Este, por seu lado, com um admirável sangue frio desarma-se a si próprio, que é a melhor maneira de evitar ser desarmado pelo adversário, e desencadeando a gargalhada geral - desarmando de caminho o oponente - tudo com um perfeito controlo da situação. Odete Santos, percebendo ou intuindo a vantagem do humorista tenta ainda fazer uma piada, e aí atinge a consumação do desastre total. RAP recolhe os cacos sem nunca perder a compostura. Demonstra não apenas que é um excepcional comediante, mas principalmente que sabe que o é, e tira proveito disso.

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quinta-feira, novembro 09, 2006

A Genética e a Política

Paulo de Oliveira pergunta neste post do Conta Natura se "A Genética é de Esquerda?". É curiosa a pergunta, já que a Genética foi na sua juventude veementemente atacada pela esquerda (se esquerda se lhe pode chamar, mas isso é outra história...), no tempo da União Soviética estalinista. Fez escola na época uma doutrina, em que um tal Lysenko era figura de proa, que rejeitava a Genética por ser uma Ciência burguesa. Estamos naturalmente de acordo que a Genética, e a Ciência em geral não têm cor política, uma disciplina deve ser avaliada pelo seus méritos ou fraquezas científicas. No entanto isto não quer dizer que os campos sejam estanques, contrariamente ao que tenho defendido em relação à Religião ("Good fences make good neighbors"), os resultados da Ciência podem e devem ter implicações políticas. Dando um exemplo (ao acaso, perfeitamente inocente) se a Ciência estabelecer que a acção humana é responsável pelo aquecimento global e que isso vai provocar alterações climáticas de consequências desastrosas, então o poder político deve agir em conformidade. Já um relatório pseudo-científico, com as conclusões encomendadas à partida dificilmente é credível. Mas ainda assim há aqui uma linha subtil: é sempre possível que quem faz o estudo, mesmo que antecipadamente convicto dos resultados, o faça de forma tecnicamente correcta e atinja as conclusões esperadas. Ou seja a intenção com que se faz a investigação é irrelevante, não corrobora nem refuta as suas conclusões. O estudo deve ser sempre avaliado pelo seu rigor metodológico, independentemente de tudo o resto.

E já agora, com o respeito à Genética, posso ainda levantar mais duas lebres. Para além da questão das raças humanas que refere o Paulo de Oliveira (já lá vou), há duas questões relacionadas com a Genética que me parece vão levantar celeuma política e/ou social num futuro próximo. São elas 1) a diferenças biológicas entre homem e mulher (para além do aparelho reprodutor) e 2) a determinação genética da homossexualidade. Esta segunda já se podem antever duas posições - se se determinar que há uma forte componente genética -, os tolerantes dirão que só demonstra que a homossexualidade é parte da variação natural da espécie humana, e os reaccionários dirão que se trata de uma doença genética (terão depois que apresentar uma definição convincente de "doença").

No tocante à questão das raças, e discutindo a questão apenas no plano científico, Paulo de Oliveira critica este artigo de opinião de Sérgio Danilo Pena. Eu pessoalmente li e achei-o um excelente artigo, está muito bem escrito e globalmente concordo com o conteúdo. Paulo de Oliveira critica a conclusão de que não há raças humanas - se bem percebi - considera que as há. Eu continuo a pensar que não faz sentido falar em raças humanas do ponto de vista biológico. No entanto Paulo de Oliveira tem razão numa crítica que faz a Danilo Pena, o estudo (aqui em PDF) a que este se refere aponta - ainda que ligeiramente - no sentido contrário ao que ele pretende indicar. Contudo se eu tivesse de escolher entre este estudo moderno e o velhinho estudo das isozimas (que não é só das isozimas, é também grupos sanguíneos e outros marcadores) para decidir da existência de raças, escolhia o velhinho. E isto toca no conceito de raça, que é um conceito arbitrário como são quase todos os conceitos em Biossistemática (com excepção do conceito de espécie), mas parece-me que raças diferentes têm que ter características biológicas relevantes, específicas da raça, distintas das outras raças, e já agora vários caracteres, não apenas um. Utilizar como marcador genéticos porções de DNA não codificante, ou seja silenciosas, que não têm qualquer manifestação no organismo, é muito útil para o estudo da genealogia ou filogenia de uma população mas não tem grande significado quando se trata de estabelecer diferenças entre grupos. Já as isozimas são características fenotípicas (desculpem lá, mas tinha que usar o palavrão), têm uma função biológica. Além do mais não são só as isozimas, pelo que aprendi na Faculdade utilizando outros caracteres como a cor da pele (como o próprio Paulo de Oliveira muito bem exemplifica) a conclusão é sempre a mesma (e vai em bold e tudo) a variabilidade intra-populacional é maior do que a variabilidade inter-populacional, i.e. há mais variedade dentro de cada grupo do que entre as médias dos grupos entre si o que faz com que as variabilidades intra-populacionais sejam largamente sobrepostas. Se bem me lembro esta observação é verdade para uma enorme quantidade marcadores morfológicos estudados, que me parecem mais relevantes para a questão em apreço do que marcadores genéticos silenciosos. E mesmo o artigo referido, o tal que que vai um pouco em sentido contrário, continua a observar uma preponderância da variabilidade intra-populacional. Pelo que me foi dado a ler não vejo razão para mudar a conclusão, continuo a achar que não há razão para pensar que os diferentes grupos humanos sejam suficientemente diferentes para serem considerados raças. Se isto agrada ou não agrada ao pensamento politicamente correcto é perfeitamente indiferente.

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quarta-feira, novembro 08, 2006

Parabéns Parceiro!

Faz hoje um ano que começou o blogue Matéria de Bretanha, que quando nasceu se chamava "Garedelest" (e não Gare de l'Est", que não é a mesma coisa). Entre muitas coisas nobres que nos trouxe, o André Belo aceitou envolver-se com este duvidoso blogue numa parceria musical (veja-se ali a coluna da direita), o que este blogue humildemente agradece. Ficam aqui e os meus parabéns: Muitos parabéns André (e já agora à Rainha e Monmartre e à Embaixatriz da Lusofonia também)! Continua, que a malta gosta.
Já agora, neste dia de aniversário o André está muito indignado com a pátria, eu partilho inteiramente da indignação. O património merecia um pouco mais de cuidado.

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Música do CPE: Ondas do Mar de Vigo

Muda de novo a música ao abrigo do CPE ali na coluna da direita. Na continuação desta parceria com a Matéria de Bretanha, o André Belo desta vez escolheu um verdadeiro achado, lindíssimo, como prometido vamos pôr a tocar "Ondas do Mar de Vigo" pelo "Grupo de Música Antigua de Compostela" retirado do álbum "Cantigas de Martim Codax". O tema é uma recriação ao estilo da época Medieval de como seriam tocadas estas cantigas pelos trovadores de então, o poema como o nome do álbum indica é do cancioneiro de Martin Codax (um cancioneiro Galego-Português como o André explica). Quero apenas realçar que a primeira vez que ouvi a música, antes de ter tido quaisquer explicações adicionais, saltou-me logo pelo ouvido adentro a influência árabe. Para o mais vale a pena ler o que o André já escreveu sobre as cantigas de amigo e sobre a influência árabe na poesia medieval peninsular, vejam no Matéria de Bretanha e também no 5 dias.
Fica aqui o poema que acompanha a música (transcrição também ela gentileza do André Belo)




Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ay Deus, se verrá cedo

Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ay Deus, se verrá cedo

Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro
E ay Deus, se verrá cedo

Se vistes meu amado,
por que hey gran coydado
E ay Deus, se verrá cedo


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terça-feira, novembro 07, 2006

O discurso de Descartes aos peixes

"Pray that there's intelligent life somewhere out in space,
'Cause there's bugger all down here on Earth!"
The Monty Python citado pelo Santiago ali numa caixa de comentários mais abaixo

Pego na frase que motivou a citação do Santiago "Bem vistas as coisas o uso da Razão é ainda uma aquisição recente da humanidade, esperemos apenas que esteja em expansão." num post que escrevi a propósito de um outro post no Blasfémias.

Na minha opinião a Razão só existe como sistema filosófico a partir de Descartes, mais precisamente com a publicação do "Discurso sobre o Método" (1637). É Descartes quem estabelece a dúvida metódica como princípio. É de facto um acontecimento recente, considerando a história das civilizações humanas. É certo que no Ocidente a Filosofia começa na Grécia Antiga, mas isso não quer dizer que a Razão estivesse já estabelecida. Conhecimento e Razão não são a mesma coisa, a Filosofia Grega procurava o Conhecimento. Com Descartes, e esse é o grande avanço, passamos a não aceitar nada que não esteja devidamente comprovado de uma forma lógica, a demonstração intuitiva deixa de ser válida.

Se eu disse antes que entre Ciência e Religião não há necessariamente um conflito, se se respeitar o tal princípio "Good fences make good neighbors", já o mesmo não digo em relação à Religião e à Razão. Se não se conseguir demonstrar de uma forma lógica, racional a existência de um qualquer Deus, então há que optar entre a Religião e a Razão, porque são incompatíveis. O próprio Descartes tentou resolver a questão tentando negar o tal "se" demonstrando a existência de Deus, no que não foi nada bem sucedido. Mas se a demonstração da existência de Deus por Descartes é algo absurda em termos lógicos, tem uma enorme importância histórica, pela primeira vez alguém teve a necessidade de demonstrar racionalmente a existência de Deus, e isso marca o nascimento da Razão.

Vendo a preponderância que a Religião tem em todas, ou quase todas as sociedades actuais, e vendo como as mais das vezes qualquer discussão se faz ao arrepio de qualquer lógica ou racionalidade, conclui-se que afinal quem andou a pregar aos peixinhos foi Descartes.

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segunda-feira, novembro 06, 2006

A Gramática e Plutão

Eduardo Pitta insurge-se contra a TLEBS (terminologia linguística para o ensino básico e secundário), secundando Vasco Graça Moura, na sua coluna de opinião no DN. Para Pitta a TLEBS vai ser um maná de sketchs do Gato Fedorento. Graça Moura no seu estilo grandiloquente despeja-nos uma série de adjectivos de abstruso a sorumbático (são adjectivos não são?). Nem um nem outro nos dizem o porquê da sua indignação. Por que razão "pronome indefinido" é melhor do que “quantificador indefinido”, "universal” ou "relativo”?

Entretanto finalmente que alguém escreveu o post que faltava escrever sobre a tão badalada despromoção de Plutão a Planeta Anão, por Alexandre Correia no Conta Natura. A dita questão gerou muitas piadas e sobretudo parece ter causado uma considerável consternação. No entanto nunca antes alguém se preocupou em discutir as razões decisão da União Astronómica Internacional (UAI). Surpresa das surpresas, uma vez expostos argumentos da UAI faz todo o sentido deixar de considerar Plutão como um planeta. As propriedades de Platão mantêm-se, mas sabe-se hoje há outros corpos com tanto "direito" a serem planetas como Plutão, talvez dezenas. A terminologia é simplesmente mais coerente se Plutão não for considerado planeta, e logo descreve melhor o sistema solar.

O que é que os dois parágrafos têm a ver um com o outro? A meu ver têm um aspecto importante em comum: a recusa em mudar aquilo que se aprendeu no passado pela simples recusa da mudança (tal como sugere o o céu sobre Lisboa). Se nem Eduardo Pitta nem Vasco Graça Moura explicam as razões das suas críticas à TLEBS a sua atitude assemelha-se em tudo a quem se chocou com a decisão da UAI sem procurar os argumentos dessa decisão. Parecem aqueles que se consternam ao constatar que deixou de ser aceite a ordem dos planetas que aprenderam no liceu e papaguearam a vida toda, mesmo que esteja errada.

Ressalvo que não consegui ter acesso ao artigo de Maria Alzira Seixo na Visão a que ambos se reportam, talvez nesse artigo os argumentos estejam todos bem esplanados. Seja como for tanto Pitta como Graça Moura referem o nome e o artigo de Maria Alzira Seixo (Graça Moura enaltece-lhe mesmo "a serenidade olímpica e a autoridade incontestável") mas nem um nem outro referem os seus argumentos, o que seria bem mais útil. Não conheço de todo o conteúdo do TLEBS, logo não sei se é melhor ou não que a Gramática "tradicional", mas não é pelos textos de Pitta e Graça Moura que fico melhor informado.

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domingo, novembro 05, 2006

Olha, olha! Uma polémica!

Ou talvez não...
O André Goios também foi ver o filme An Inconvinient Truth, e tem uma opinião diferente da minha em alguns aspectos. Toca no aspecto da promoção da imagem de Al Gore, e aí concordo com o André, é um dos aspectos criticáveis do filme que escolhi não referir no meu post (eu avisei...), particularmente quando entra em aspectos pessoais que acho muito pouco relevantes. Faço aqui uma ressalva, parece-me muito pouco provável que Al Gore volte à vida política, o que torna este aspecto menos relevante. Se de facto Al Gore regressar então fica a sensação que este filme tem segundas intenções, mas estou convencido que não é o caso. De qualquer modo isso é um aspecto que respeita à intenção com que o filme é feito mas em nada altera a substância do filme.
Outra crítica que o André faz é a falta de referências aos estudos citados, aí não concordo, acho que estão suficientemente referenciados, e se fossem incorrectos seria fácil apanhar Gore em falso (o que ainda ninguém denunciou). Como se trata de um filme (documentário) e não de um artigo científico acho a formula escolhida perfeitamente adaptada. O André acha que o filme se devia "distanciar da propaganda política", pelo contrário André, é de uma questão política que se trata, e é preciso colocá-la na agenda política.

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sábado, novembro 04, 2006

O elogio do Catenaccio puro

Vejo-me forçado a admitir que a equipa que mais gostei de ver jogar no último Campeonato do Mundo de futebol foi a Itália - que aliás acabou por ganhar - por muito que outras tivessem a minha simpatia (e.g. França). É absolutamente admirável ver jogar uma equipa que sabe jogar o Catenaccio puro, que antes de mais sabe defender, e só ataca quando sabe que pode atacar, sempre sem pôr em risco a defesa. A isso chama-se inteligência. Pormenor importante: qualquer equipa tem que entrar em campo tendo por único objectivo a vitória, qualquer outro objectivo que não a vitória é uma perversão das regras do jogo, da moral e da ética. Jogar para não perder é cobarde, é abjecto, é inaceitável. Dito isto, o verdadeiro adepto do futebol tem que apreciar acima de tudo a equipa que joga inteligentemente, que é pragmática, que é realista, que sabe utilizar o cérebro para conquistar uma vitória. O romântico "jogar de peito aberto" é uma inconsciência só permitida ao tolos. E os tolos devem ter inapelavelmente aquilo que merecem, a derrota (de preferência de cabeça erguida). Num jogo de futebol há que apreciar além da capacidade técnica dos jogadores, a inteligência táctica, a capacidade de tomar a decisão certa na altura certa, a capacidade de jogadores e treinadores que escolher a organização que melhor se adapta ao jogo e ao adversário, e a capacidade de pôr essa estratégia em prática. Saber identificar os pontos fortes e fracos da própria equipa e da equipa adversária, e saber tirar partido dessa informação é uma arte que não deve ser menosprezada. Tudo isso faz parte do jogo, e é também espectacular. É aliás a beleza ignorada do futebol. Não há melhor equipa do que a que joga à defesa para ganhar. Foi o que fez a Itália no Campeonato do Mundo, defendeu impecavelmente, quase não sofreu golos, mas só por desonestidade intelectual se pode dizer que jogou um futebol negativo, veja-se o número de golos marcados. Estou convencido até que um jogo que acabe 2-0 tem mais probabilidade de ser verdadeiramente espectacular do que um jogo que acabe 5 - 4, neste a única coisa garantida é a abundância de erros defensivos, seguramente infantis. A quintessência desse futebol inteligente (à italiana) foi a meia-final, foi preciso esperar 120 minutos, mas quando o adversário (na circunstância a Alemanha) finalmente abriu a guarda levou dois golos, por sinal ambos de belo efeito.

Desengane-se quem pensa que este post é sobre futebol. Muito embora a tese se aplique também ao futebol, trata-se apenas, por assim dizer, de uma metáfora. O Catenaccio é igualmente belo fora das quatro linhas. Por exemplo, há pessoas que por vicissitudes da vida não se podem permitir o erro, ou melhor o erro custa-lhes muito mais caro, é-lhe muito mais pesado, do que aos demais. Veja-se o caso daqueles a quem chamamos "deficientes". Atingir os objectivos que todos queremos atingir, ter um bom emprego, uma carreira, uma família, etc..., é-lhes obviamente muito mais difícil. As contrariedades que podem acontecer a toda a gente têm para eles bastante mais custos, são mais difíceis a ultrapassar. No entanto ele há-os que não desistem, que não deixam de ter os mesmos objectivos que temos todos, e há-os que conseguem. Sucede que melhor maneira de o conseguir não é jogando de "peito aberto", isso seria um imbecil suicídio. É jogando num sublime Catenaccio que conseguem a vitória, jogar à defesa sem cometer erros, escolher a disposição táctica adequada, manter os níveis de concentração elevados, e na altura certa subir no terreno, marcar um golo e recolher ao balneário.
Faz um ano que ando a ver jogar Catenaccio, é magnífico...

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sexta-feira, novembro 03, 2006

Um relatório Inconveniente

O Relatório Stern apresentado esta semana parece ter tido pelo menos o efeito de atrair uma enorme atenção para o problema do aquecimento global. Há claro que há já quem manifeste um certo incómodo, como é o caso do João Miranda ao publicar este post no Blasfémias. Começa, João Miranda por se insurgir contra o acriticismo com que o relatório foi recebido pelo media, e aí até concordo que notícias decalcadas dos comunicados de imprensa possam ser muito pouco informativas. Nada impede João Miranda, de procurar outras fontes de informação, bem pelo contrário, se quer debater o assunto é até aconselhável que o faça. Pode começar logo pelas fontes primárias, o link ali em cima dá acesso directo à página oficial do Relatório Stern. Para quem não tem tempo para ler todo o relatório há um resumo (27 páginas, formato PDF). A Nature também já publicou duas notícias em que faz a análise do documento, uma em que aborda já algumas das críticas a Stern, outra na forma que perguntas e respostas (também em PDF aqui e aqui). Entretanto é de esperar que outras análises mais aprofundadas apareçam nos próximos tempos.

No referido post João Miranda faz-nos uma lista em nove pontos daquilo que é necessário fazer para se poder elaborar um estudo credível sobre as consequências das alterações climáticas. Esta lista merece-me vários comentários de ordem geral. Primeiro, não se trata daquilo é necessário fazer para que um estudo seja credível, é aquilo que João Miranda acha que é necessário, o que é muito diferente. Segundo nenhum dos passos é minimamente fundamentado, ficamos assim sem saber porque é que pensa que são necessários estes pontos, talvez ache que devamos aceitar as suas opiniões acriticamente. Terceiro, faz a confusão do costume, mesmo que não fosse possível demonstrar cabalmente que o aquecimento global é causado pelo homem, isso não constitui uma prova de que o aquecimento global não é causado pelo homem (a impossibilidade provar a culpa não é prova de inocência). A margem de erro associada existe em todas as Ciências, está sempre presente, e isso não impede ao homem de mandar expedições à Lua, inventar telemóveis ou curar doenças. Mesmo com uma margem de erro temos aproximações muito boas, o que também se aplica ao aquecimento global.

Ainda para mais João Miranda comete erros factuais, começando logo pelo primeiro ponto "1. estimar o impacto no clima de todos os factores naturais e antropogénicos", segundo João Miranda "Actualmente a comunidade científica ainda discute se o passo 1 está correcto." Isto é FALSO! Se João Miranda tivesse visto o filme "An Inconvenient Truth (já tive ocasião de escrever, vale bem a pena), teria ouvido falar deste artigo e não fazia a afirmação que faz. A comunidade científica não discute de todo se o aquecimento global é causado pela intervenção humana ou não, esse assunto é completamente consensual. No artigo citado Naomi Oreskes analisou 928 artigos seleccionados aleatoriamente que faziam menção a "alterações climáticas globais" e verificou que NENHUM contestava que essas alterações são provocadas pelo homem, 75% aceitava implícita ou explicitamente essa causa, 25% simplesmente não abordavam a questão, nem um único era de opinião contrária (para mais informações pode ler-se este e este artigos na Wikipedia). No segundo ponto, história podia repetir-se "2. Construir modelos que descrevam com precisão o clima.", esses modelos já existem, etc... etc...
Acho que não vale a pena levar o debate mais longe sem que as opiniões (as minhas incluídas) estejam devidamente fundamentadas.

Feitas as contas João Miranda conclui que "graças a uma criteriosa escolha dos factores que afectam o clima, dos modelos climáticos, dos modelos económicos, dos efeitos da evolução tecnológica e do relevo que se dá às teorias mais catastróficas, um estudo económico pode concluir aquilo que o autor quiser.", a mim parece-me é que quando se emite opiniões e críticas sem que estejam devidamente fundamentadas o blogger pode bem concluir o que lhe apetecer.

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quarta-feira, novembro 01, 2006

Declaração de voto II

Claro que também votei no outro concurso. Apesar de ser uma escolha um tanto ridícula, é sobretudo uma iniciativa inócua, portanto apeteceu-me votar. Se há um português cujo génio admiro profundamente, que me faça sentir prazer em falar a mesma língua, que me desperte algum orgulho no passaporte, enfim um português capaz de revelar o reaccionário que há em mim, então esse português merece o meu voto.

Aliás, há algo que muitas vezes repeti nos meus anos de vida de emigrante, e que leva os estrangeiros que me conhecem a pensar que sou patriota: Das poucas coisas que me faz gostar de ser português é ver que de todas as figuras históricas portuguesas aquela que é mais conhecida e aclamada pelos portugueses (na minha avaliação subjectiva), a que tem mais vezes direito a ser nome de rua ou de escola, aquela que é mais vezes citada e referida nas conversas em família ou no café, não é um político nem militar, presidente ou rei, nem santo, nem sequer navegador, é um poeta.

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