sábado, setembro 30, 2006

A razão que nos separa (parte IV)

Ainda na continuação do debate, uma outra maneira de dizer a mesma coisa.


Do Jesus and Mo (via Esquerda Republicana)

Arquivado em:Posts duvidosos

Continuar a ler...

sexta-feira, setembro 29, 2006

A razão que nos separa (parte III)

O debate continua, com o Santiago no Conta Natura, e com o JSA na Estação Central, e com quem mais se juntar ao debate nas caixas de comentários.

Arquivado em:Ciência

Continuar a ler...

quinta-feira, setembro 28, 2006

A razão que nos separa (parte II)

Voltando a este meu post, e depois de ler este e este posts do JSA na Estação Central, mais este e sobretudo este posts do Santiago no Conta Natura (e já agora, porque não referi-lo?, este post beato no Insurgente, via Avesso do Avesso) parece que o debate evoluiu para um tema porventura mais interessante, o do conflito e a compatibilidade entre Ciência e Religião. Parece que a opinião do JSA e do Santiago é a de que Ciência e a Religião tratam de coisas diferentes, que não se tocam, logo são compatíveis e não há conflito. A Ciência tenta explicar como funciona o Universo, e trata do que é material, e a Religião tenta explicar o Porquê, e trata do que é metafísico. Concordo com a separação entre o "Como?" e o "Porquê?", concordo com a separação entre material e metafísico, logo a compatibilidade entre Ciência e Religião parece-me que nem se questiona, já o conflito me parece inevitável. Ou melhor, conflitos, pontuais ou cíclicos acontecerão sempre, por uma simples razão, o que hoje é metafísico amanhã pode não ser. Para ser rigoroso na linguagem, o que hoje parece metafísico pode amanhã demonstrar-se não ser. E é neste terreno que ocorreram conflitos entre Ciência e Religião no passado, voltarão a acontecer no futuro inevitavelmente. A Religião tem o seu terreno definido no que é metafísico, mas o que é metafísico é aquilo que é desconhecido para a Ciência, quando a Ciência avança e encontra explicações para o que era antes do domínio do metafísico vai estar a entrar num terreno que a Religião considera o seu, e aí ocorre o conflito. Em tempos a origem do Universo era uma questão metafísica, hoje temos o Big-Bang, a origem da Vida e da diversidade das formas vivas era uma questão metafísica, hoje temos a teoria da Evolução, o Geocentrismo era um desígnio divino, logo metafísico, até aparecer o sistema Copernicano. É aqui que o conflito surge, que o digam Galileu e Darwin. Porque a Ciência avança e entra em campos desconhecidos, supostamente metafísicos, ocorrerão sempre conflitos com a Religião. Mas porque continuará sempre a existir um domínio do metafísico, a Religião terá sempre um terreno só seu.

Arquivado em:Ciência

Continuar a ler...

Conspiração e Criacionismo

Juro que é a última vez que falo de Criacionismo, mas vem a propósito do excelente texto do Jorge Palinhos no 5 dias. Jorge Palinhos desconstroi muito bem essa tese que para aí anda de Conspiração da própria admnistração Bush nos atentados do 11 de Setembro. Não estão a ver qual é a relação com o Criacionismo? Não me digam que não repararam nas semelhanças entre a rétorica Conspiracionista e a argumentação Criacionista? Senão reparem:

"Começa-se por apontar factos passados pouco abonatórios para o governo americano e indícios de que alguém teria lucrado com os atentados para pôr o espectador a levantar o sobrolho. Passa-se, em seguida, para o sumo da argumentação, apontando inconsistências, contradições e paradoxos da versão oficial de forma a deixar o receptor cheio de suspeitas. Entra-se, então, no acumular de pistas e pontas soltas, sem, contudo, se fornecer qualquer contexto ou sistematização.
Por fim aponta-se um culpado e sugerem-se possíveis motivos de culpa, nenhum deles aprofundado, e termina-se com os autores a dizerem-se perseguidos e ridicularizados pelas suas ideias e acenando patrioticamente a bandeira americana."


Difícil é encontrar as diferenças...

Arquivado em:Posts duvidosos

Continuar a ler...

segunda-feira, setembro 25, 2006

A razão que nos separa (parte I)

Na boa tradição luterana alemã o papa Ratzinger tem a virtude de dizer as coisas claramente, tal qual as pensa, sem subterfúgios retóricos. Pego numa frase, que me parece um prenúncio do que vai ser a relação so Vaticano com a Ciência enquanto Ratzinger for papa, retirada do controverso discurso na Universidade de Regensburg, e citada pelo Rui Tavares na sua mais recente crónica do Público (disponível no Pobre e Mal Agredecido, tal como a tradução do dito dicurso para inglês):

“temos de superar a auto-imposta limitação da razão ao que é empiricamente verificável”

Dito com esta clareza cristalina é fácil identificar o que nos separa. O que nos diz a Epistemologia moderna, em especial a desde de Popper, é que se não é empiricamente verificável então não é razão.
Quem quizer acreditar em algo para o que não tem uma evidência tangível, é obviamente livre de o fazer, mas esclareça-se que essa crença não se chama razão, chama-se fé.

Arquivado em:Ciência

Continuar a ler...

domingo, setembro 24, 2006

É oficial, acabou o Verão!


Arquivado em:Paris

Continuar a ler...

sexta-feira, setembro 22, 2006

Garedelest plus au Nord

O meu amigo Garedelest André Belo mudou-se mais para Norte, deitou um olhar à Toscana, trocou Paris por terras Bretãs, e levou o blogue com ele. Mudou-lhe o nome, mas manteve o endereço (não precisais por tanto de actualizar os vossos links). Chama-se agora o blogue "A Matéria de Bretanha", presume-se portanto que o Idanhas, a Musa Mulata, o Jacques Lacan e o D. Luís da Cunha, serão substituídos por cavaleiros, feiticeiras e druídas. Pois assim seja, conquanto o André nos continue a brindar-nos de quando em vez (que é como quem diz "o mais possível") com os seus preciosos posts. E note-se que "preciosos" foi um qualificativo longamente procurado nas traseiras da minha mente, mais do que pela raridade os posts do André são preciosos pela sua qualidade literária, pelo fino requinte, coisa que não se vê muito no mundo efémero da blogosfera. Quando lhe apetece, o André brinda-nos, demais mortais, com mais uma das suas relíquias.
Não pensem que digo isto por André ser meu amigo, não é por ele ser meu amigo que eu gosto do que ele escreve mas talvez o contrário, é se calhar aquilo que faz dele um excelente blogger que faz de mim seu amigo.
Resta-me apenas desejar uma boa estadia ao André e que seja verdade o que se diz pela Bretanha, que faça bom tempo, várias vezes ao dia.

Arquivado em:Posts duvidosos

Continuar a ler...

quarta-feira, setembro 20, 2006

Se deixarmos de lado as evidências científicas, o que fica?

Depois de ouvir mais uma vez os argumentos "científicos" a favor do Criacionismo, a "lógica" em que assentam lembrou-me um magnífico texto de Boris Vian.

L'avocat remonta ses manches, se gratta vigoureusement la poitrine par l'échancrure de sa robe, ce que fit le bruit d'un cheval que l'on étrille, posa sa toque sur le crâne luisant d'un balustre à côté de lui et commença sa plaidoirie.
- Messieurs les jurés, dit-il, nous laisserons de côté le motif du meurtre, les circonstances dans lesquels il a été accompli, et aussi le meurtre lui-même. Dans ces conditions, que reprochez vous à mon client?
Les jurés frappés par cette face du problème qu'ils n'avaient pas encore envisagée, se taisaient un peu inquiets. Le juge dormait et le procureur était vendu aux Allemands.
- Présentons le problème autrement, dit l'avocat, heureux de ce premier succès. Si l'on ne tiens pas compte de la douleur, assurément regrettable, et devant laquelle je m'incline, des parents de la victime; si l'on fait abstraction de la nécessité devant laquelle s'est trouvé, a sont corps défendant, permettez-moi de l'ajouter, mon client, d'abattre deux policiers chargés de l'arrêter, enfin ne fait état de rien, que reste-t-il?
- Rien, fut obligé de reconnaître un des jurés, qui était instituteur.

Boris Vian, Le Brouillard, in Les Fourmis


Já agora, andamos para aqui a argumentar (não este post, mas os precedentes) a favor do Evolucionismo, e ocorre-me uma pergunta: Alguém, além do Jónatas Machado, acredita no Criacionismo?

Arquivado em:Posts duvidosos

Continuar a ler...

Ser mulher é bom mas não chega

As eleições presidenciais francesas do ano que vem vão ser importantes não só a nível interno, mas também, e muito, a nível europeu. Agora que a Europa está parado, depois dos resultados dos referendos à Constituição em França e na Holanda, a eleição do próximo presidente em França pode estabelecer um novo equilíbrio de forças capaz desbloquear a situação (ou bem pelo contrário, dependendo do eleito). Objectivamente a vitória do "Não" em França e na Holanda foi muito mais uma vitória de quem não simplesmente não queria a construção europeia, do que de quem queria uma outra Europa (com uma outra Constituição), ou seja uma vitória muito mais do "Não" de direita do que do "Não" de esquerda. Se a situação continuar, o actual bloqueio pode tornar-se permanente, o que me parece que é o que vai acontecer se o próximo presidente francês for de direita.

A escolha do candidato presidencial do PS francês é por isso de grande importância para toda a esquerda europeia, se quiserem retomar o processo de construção europeia. Acima de tudo o candidato do PS tem que ser capaz de derrotar o mais que provável candidato da direita, Nicolas Sarkozy (que por estes dias se entretém a anunciar na televisão que vai expulsar de imediato 23mil imigrantes com filhos escolarizados). A candidata que aparece à frente de todas as sondagens, do lado dos socialistas, é Ségolène Royal. Confesso que depois do Chile, da Libéria e da Alemanha (talvez um mau exemplo) muito me agradaria ver uma mulher presidente de França, ou dos EUA (Hilary?), mas ser mulher por si só não chega. NA minha opinião Ségolène tem a seu favor, para além da imagem de tranquilidade e competência, vários pontos. Primeiro, contrariamente ao que dizem os detractores tem ideias, e algumas até polémicas, como por exemplo ter na sala de aula para além do professor um outro educador responsável pela disciplina. Segundo não segue a agenda mediática, e não anda atrás da actualidade, apresenta as suas propostas quando acha conveniente, marca ela própria a sua agenda política. Usa meios originais em política para apresentar as suas propostas, nomeadamente a internet, o que teve bastante impacto e mostra uma política com ideias novas.

Tem contra ela vários pontos também. Politicamente alinha claramente ao centro, numa onda Blairista tipo revivalismo da terceira via, alguns dirão que é um ponto a favor, eu não. Depois, e acho que é a sua grande falha, não debate. Houve a "Universidade de Verão" do PS há poucas semanas, e Ségolène recusou a prova de fogo de responder às perguntas dos militantes da Juventude Socialista. Foi a única dos candidatos e putativos candidatos à nomeação presidencial socialista que recusou esse debate. E não é um caso único, quando as suas posições são atacadas, nomeadamente distorcidas pela direita, não vem a público defender-se, pelo menos de forma convincente, e daí as acusações de não ter ideias. Num frente a frente com Sarkozy, não me custa a imaginar um Sarkozy agressivo que consiga desacreditar fortemente Ségolène. Mais ainda ainda, até hoje ainda não deu uma entrevista de fundo, num jornal, televisão, ou rádio, a vir apresentar-se para o combate político, ainda não fez críticas que se ouvissem aos candidatos da direita. O grande trunfo que Ségolène tem neste momento são as sondagens, mas as sondagens em França, em particular para as presidenciais, e a esta distância das eleições tem uma longa tradição de se enganarem: os favoritos não costumam passar à segunda volta, foi Jospin (era favorito empatado com Chirac) há cinco anos, Edouard Balladur em 1995, antes ainda Raymond Barre em 1988, e Giscard d'Estaing em 1981 (se bem que tenha passado à segunda volta). As sondagens neste momento não podem ser o factor de escolha do candidato da esquerda, tem que ser o perfil e o projecto político, e aí tenho dúvidas que Ségolène seja a melhor escolha.
P.S. - Entre Ségolène Royal e Lionel Jospin, preferia Jospin, que acredito se vá candidatar, mas entre Ségolène e qualquer dos outros preferiria provavelmente Ségolène.

Arquivado em:Política

Continuar a ler...

segunda-feira, setembro 18, 2006

Evolução Inteligente (parte III)

Há mais alguns posts que vale a pena ler, sobre esta questão do evolucionismo vs criacionismo. Filipe Moura no Avesso do Avesso e João Sousa André no Estação Central colocam a questão de princípio, se vale a pena discutir a questão. Embora ciência e religião estejam em campos diferentes, se os criacionistas entram no campo da ciência então há que responder-lhes neste campo. É o que fazem, e muito bem Vasco Barreto que aceitou o desafio de Jónatas Machado e já escreveu este post (parece que vai haver mais, vale a pena seguir com atenção), e Ludwig Krippahl que relembra em capítulos vários argumentos a favor da Teoria da Evolução, argumentos de Genética de Populações, Paleontologia, Teoria da Informação, e Biologia Molecular.

Há ainda outro texto a este respeito que vale bem a pena ler: esta paródia, no impagável "The Onion". Vale a pena ler não só porque é bastante divertido mas porque é bastante sério. O autor do texto está muito longe de ser um humorista de abordagem superficial que faz a piadinha fácil, bem pelo contrário. O paralelismo entre o Intelligent Design e esta nova suposta teoria do Intelligent Falling (Queda Inteligente) - que é suposto contrariar a teoria da gravidade - é perfeito! Os argumentos dos defensores do Intelligent Design são transpostos impecavelmente para a Física, o que demonstra o absurdo da argumentação. Acreditem que a "Queda Inteligente" é tão plausível quando o "Desenho Inteligente".

P.S. - Já agora, a isto se chama desconversar.

Arquivado em:Ciência

Continuar a ler...

sábado, setembro 16, 2006

Evolução Inteligente (parte II)

João Miranda, no Blasfémias iniciou um debate sobre Criacionismo e Evolução, a propósito de um artigo de Paulo Gama Mota no Público (transcrito no Destreza das Dúvidas). Em boa parte a argumentação de João Miranda foi já desmontada pelo Santiago no Conta Natura, mas o Santiago aceitou "jogar fora", e ir para o terreno de discussão do João Mirando (é uma armadilha em que nós cientistas caímos frequentemente, mas o Santiago até se saiu bem).

Eu prefiro uma abordagem diferente, e numa coisa concordo com o João Miranda, os adeptos do Evolucionismo deviam estar contentes com a coça que os criacionistas vão levar, isto se os adeptos do Evolucionismo conseguirem manter o debate no terreno científico, onde ele pertence. E se for assim a vitória dos evolucionistas é por falta de comparência, o Criacionismo não é ciência. Evolucionismo vs Criacionismo é assim como Futebol vs Bacalhau à Gomes de Sá, não tem nada a ver. O Criacionismo é uma visão religiosa da origem da vida que resulta de uma determinada interpretação da Bíblia, não tem nada a ver com dados empíricos ou resultados experimentais. Aliás, parece até que o Vaticano vai adoptar uma posição sobre o Evolucionismo respeitando o princípio de que a Religião não se deve meter na Ciência e vice-versa. Sendo assim, e respeitando o princípio da laicidade do estado, se alguém a quiser ensinar o criacionismo deve ensiná-lo na catequese, e não na escola pública, muito menos nas aulas de Ciência.

Apesar disto anda para aí (nos EUA) uma corrente que se autodenomina de científica, o Intelligent Design (ID daqui em diante, e que pode traduzir-se por Desenho Inteligente). O ID não é mais do que uma forma de Criacionismo encapotada, e vem de movimentos religiosos que consideram que há uma incompatibilidade entre Criacionismo e a Ciência, mas contrariamente (ao que parece) à Igreja Católica não respeitam a separação entre Religião e Ciência, e tentam entrar no território científico. Vamos por partes, porque é que o ID não é uma teoria científica? Primeiro usa como grande argumento que o Universo e em particular a Vida são demasiado complexos para que essa complexidade surja do acaso, logo por consequência tem que existir um ente criador por trás dessa complexidade. Apresentado deste modo o argumento é puramente interpretativo e especulativo, colocando numa mesma amálgama todos os componentes do Universo, de uma forma não sistemática e ordenada de modo a poder ser testado experimentalmente ou corroborado por dados empíricos. Mais ainda fazer uso de um ente criador para explicar as observações é uma não-resposta científica, é transferir a explicação para um ente que não é um objecto definido, logo não pode ser alvo de uma análise científica. No entanto há uma componente da teoria que pode ser individualizada e testada, por modelização matemática ou experimentalmente, a saber o aspecto de a complexidade do Universo e da Vida não poder ter ocorrido ao acaso, ou como se diz no jargão científico "através de acontecimentos estocásticos". Curiosamente os defensores do ID querendo travestir-se de cientistas não fizeram uso deste importante dado empírico, e a razão é bem simples, é que os cálculos já foram feitos e contradizem a assumpção do ID.

Para além da sua defesa em termos científicos ser fraca (como espero ter demonstrado acima), os ataques que o ID faz ao Evolucionismo são também fracos. Dito de uma forma bem clara, o estado da arte hoje em Biologia é o seguinte: Nada do que sabemos faz sentido se não for à luz da Teoria da Evolução. E a teoria já avançou bastante depois de Darwin, nomeadamente no que respeita à sua base genética, e o que Darwin disse não foi ainda refutado. Há um corpo de dados experimentais e empíricos enorme que suporta a Teoria da Evolução. Paulo Gama Mota, no referido artigo no Público, enumerou uns quantos, e aí curiosamente João Miranda ficou-se pelo acessório e não atacou o essencial. E o essencial são os dados acumulados ao longo de todo este tempo que sustentam a Teoria da Evolução. Sem querer ser exaustivo há: 1) Dados paleontológicos, fósseis que demonstram alteracão gradual das espécies ao longo dos tempos, 2) Dados moleculares, os genes são mais semelhantes em espécies que a Teoria da Evolução prediz serem mais próximos, além de as bases moleculares da vida serem surpreendentemente semelhantes em todos os organismos, tudo isto indicando a existência de ancestrais comuns, 3) Dados genéticos, é possível estabelecer correlações entre semelhanças genéticas e morfológicas entre diferentes espécies, 4) Contrariamente ao que alguns pensam é possível estudar Evolução Experimental, há laboratórios que o fazem (inclusivamente em Portugal) e dai tem vindo novas explicações sobre os mecanismos pelos quais a Evolução actua.
Quem quiser refutar a Teoria da Evolução vai ter que fazê-lo encontrando erros fundamentais nestes dados empíricos e experimentais ou encontrar erros de raciocínio nas interpretações que os evolucionistas fazem desses dados, e, não menos importante, encontrar outras hipóteses explicativas coerentes para esses resultados.

E aqui está também a fraqueza científica do ID. A Teoria da Evolução não é uma teoria acabada, é obviamente complexa, e há ainda muitos pontos de interrogação sobre os quais trabalham muitos investigadores. Convém dizer aqui claramente que esses pontos de interrogação não são de todo sobre SE a Evolução ocorre, mas tão somente COMO ela funciona. Os adeptos do ID tentam (sem grande sucesso, diga-se) argumentar que esses pontos de interrogação chegam para refutar a Evolução, logo demonstrar o ID. Ora em ciência a demonstração de prova funciona como no direito (aliás, é ao contrário, mas não interessa), não é por se demonstrar a inocência do réu A que se prova a culpa do réu B, é preciso provar para lá que qualquer dúvida que o réu B é culpado. Os adeptos do ID tentam dizer que há falhas na Teoria da Evolução, logo isso demonstra a o ID é verdade. Erro científico mais crasso tenho dificuldade em imaginar.

Arquivado em:Ciência

Continuar a ler...

sexta-feira, setembro 15, 2006

Evolução Inteligente (parte I)

Quando o papa Ratzinger reuniu os seus discípulos no castelo Grandolfo para falar sobre a teoria da evolução houve muito quem visse nisso (por exemplo este post do Diário Ateísta) um sinal de que a igreja católica iria recuar na sua posição actual, por sinal ambígua, e adoptar a teoria não-científica criacionista do "Desenho Inteligente" - Intelligent Design em inglês - . Segundo a Nature não é esse o caso (link só para assinantes, mas está aqui o PDF), a Igreja vai adoptar antes uma posição bem mais realista do "a igreja não se mete com a ciência, e a ciência não se mete com a religião". Já o puxapalavra tinha previsto algo do género (se se vier a verificar, os meus parabéns). Convém lembrar que isto pode ser a própria Nature a puxar a brasa à sua sardinha, da Ciência, e a tentar exercer alguma influência, mas a mim parece-me absolutamente lógico.
Segundo o tal artigo o papa aceita como consensual que a teoria da evolução, mas a igreja vê-a de uma forma teística, foi Deus quem pôs a evolução "em movimento". De facto seria suicidário, ou pelo menos um enorme tiro no pé, da parte da igreja, voltar a teses criacionistas. Hoje em dia na Europa o criacionismo é visto (digo eu...) como um bizarro folclore dos fundamentalistas religiosos americanos (não-católicos, pequeno pormenor), e a Europa continua a ser a principal base de apoio da igreja católica. Ridicularizar a igreja à vista dos seus próprios fiéis europeus para ganhar umas migalhas nos EUA seria de uma falta de realismo pouco usual na igreja católica, hélas. Por muito que o anti-clerical que há em mim esteja desiludido, ainda não é desta que vejo o papa dar um tiro no pé.
P.S. - E no fim de contas tudo isto tem muito pouco a ver com ciência, ou até com teologia...

Arquivado em:Ciência

Continuar a ler...

quarta-feira, setembro 13, 2006

Futebol e Política aqui pela França

Já eu aqui falei do envolvimento político do Lilian Thuram, já o Hugo tinha dado conta da "Sarkoïsation des esprits", uma expressão particularmente feliz de Thuram (que, lembre-se, é o jogador mais internacional da história da selecção francesa). Actualmente, enquanto a esquerda se entretém (com honrosas excepções) em guerrinhas para saber quem é o enésimo candidato às eleições presidenciais do próximo ano, Thuram continua a ser, de há um ano para cá, o mais sério opositor político de Sarkozy. Quando Sarkozy aparece como o inevitável candidato da direita às presidenciais e aposta numa estratégia de se encostar à extrema-direita para retirar votos a Le Pen, de Villiers e quejandos, é bom ter um jogador de futebol da estatura de Thuram a fazer o que a esquerda não faz. A boa notícia é que já não é só um, mas dois jogadores, desta vez Patrick Vieira, capitão de equipa da selecção francesa, juntou-se a Thuram ao convidar 80 squats de Cachan para o jogo França - Itália da semana passada, o que deixou a direita à beira de um ataque de nervos. Numa altura em que Sarkozy, na sua qualidade de ministro o interior, tenta levar avante a sua agenda através da expulsão de imigrantes em situação supostamente irregular - estamos a falar de milhares de imigrantes que estão em França há anos e têm filhos na escola - o squat de Cachan, nos subúrbios de Paris, tem atraído a atenção dos media, e tornou-se no símbolo da luta contra as expulsões. Os squaters são todos imigrantes, muitos em situação irregular, foram expulsos pela força, sob as ordens de Sarkozy, o prédio onde habitavam sem que a questão do alojamento estivesse resolvida, continuam alojados temporariamente num ginásio. É neste cenário de Thuram e Vieira (ele próprio imigrante naturalizado) decidem, pagando do seu próprio bolso, comprar bilhetes para alguns desse squaters e convidá-los a assistir ao jogo. Esta atitude, carregada de simbolismo, teve um enorme impacto, graças às ondas de choque que gerou à direita. É caso para dizer que acertaram na mouche. O mais curioso é ver a falta de argumentos de quem contesta Thuram e Vieira, o que se ouve mais vezes é que são futebolistas logo não se devem meter na política, como se não fossem antes de mais cidadãos e eleitores, e como tal com direito a uma opinião e a uma tomada de posição. Sarkozy desta vez não se pronunciou, já sabe que quando se mete o Thuram leva, mas mandou recado...

Arquivado em:Política

Continuar a ler...

terça-feira, setembro 12, 2006

E se o futuro for isto?

Brasil oferece ajuda à India e à África do Sul para a produção de etanol. O objectivo é fazer face à dependência do petróleo, e o assunto vai ser debatido numa cimeira entre os três países. Será isto o primeiro sinal de cooperação entre as três grandes potências mundiais dum futuro próximo?

Arquivado em:Política

Continuar a ler...

Para finalizar...

Acabam aqui as crónicas da viagem à Guadeloupe com algumas fotos.


Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

Um conceito original


A cereja no topo do bolo foi um restaurante na Basse Terre onde fui convidado a almoçar. O restaurante fica à beira da praia, mesmo sobre o areal, o que é já de si bem aprazível. No entanto há a indiossincrasia local que é a lentidão do serviço, particularmente nos restaurantes, mas não chega a ser um problema porque ninguém está com pressa, e se o local é agradável não há do que se queixar. No entanto o tal restaurante encontrou um modo original de lidar com essa idiossincrasia, o que permite desfrutar ainda mais da coisa. É assim: o cliente chega, pode tomar um ti' Punch se lhe aprouver, faz a sua encomenda, entrada e prato principal, e vai tomar banho. Isso mesmo, um banho de mar, o pessoal vai ao restaurante - que é até bastante refinado, com comida de qualidade e requinte - equipado de fato-de-banho e toalha, e pode esperar no mar que o prato lhe seja servido. O restaurante fornece ainda espreguiçadeiras para quem quiser secar ao sol antes de comer, e um duche para limpar o sal em excesso. É a creatividade ao serviço do negócio.
(nota: o restaurante é propriedade e é gerido por guadeloupeanos, tal como a grande maioria da clientela, como que para mostrar que os locais podem oferecer um serviço de qualidade muito melhor que o dito "turismo de luxo")

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

segunda-feira, setembro 11, 2006

Com um arrepio na espinha...


Hoje a olhar para um prédio alto como a Torre de Montaparnasse. Algo mudou...

Arquivado em:Política

Continuar a ler...

domingo, setembro 10, 2006

A mentalidade ClubMed


Em todo o lado onde há praias e um potencial turístico, há sempre um sitiozinho onde se constrói uma marina, uns apartotéis, hotéis propriamente ditos, condomínios, campos de golfe, e coisas afins. Na Guadeloupe o tal sítio é em St. François. Passei por lá um par de dias, e o que salta à vista é que todo o comércio ali à volta da marina é propriedade de franceses da metrópole (que é como quem diz, brancos, pequeno pormenor sem a mínima importância). O comércio ali no quarteirão é todo à base de padarias francesas (da metrópole, entenda-se), restaurantes franceses (idem), supermercados franceses, cabeleireiros franceses, lojas de artesanato local propriedade de franceses (com uma honrosa excepção), etc... As lojas são francesas porque a maior parte dos turistas é da França metropolitana, se fossem de outro lado qualquer, na Europa ou América do Norte, o comércio mudaria em concordância. O que isto revela é uma certa mentalidade associada a uma forma de turismo que gosta de ir passar umas férias de luxo em destinos exóticos mas não quer misturas com os autóctones exóticos. O caso extremo deste tipo de turismo é o ClubMed, é possível ir passar umas férias nas Bahamas, ir à praia privativa do resort ClubMed, e nunca ver a cara de um indígena a não ser talvez no caminho de ou para o aeroporto. Julgar o bom ou mau gosto dessa maneira de fazer turismo é talvez até irrelevante, apesar disso condeno veementemente, trata-se sempre de uma opção individual à qual cada um tem direito, tal como cada um tem direito à sua opinião sobre o assunto. Mas o que me preocupa realmente é quando ouço falar em trazer o desenvolvimento a países pobres através da criação de condições para um turismo dito "de Luxo". Será que as populações locais têm realmente alguma coisa a ganhar, para além de meia-dúzia de postos de trabalho indirectos? A boa notícia é que em St. François aquilo estava tudo meio às moscas.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

A Música é o Zouk

Da viagem à Guadeloupe fica ainda a música, e a música é o Zouk. O Zouk não é um estilo tradicional antigo, pelo contrário, tem uma origem bem recente. Mas o mais impressionante foi mesmo a omnipresença do Zouk, nas rádio, na discoteca, em casa, ouve-se a toda a hora. A origem é no finzinho dos anos 70, na aurora de 1980. Uma banda, que ainda hoje toca, os Kassav', resolveram criar um estilo de música novo, e misturaram a música tradicional do Carnaval das Antilhas com o Reaggae, o Calipso, e música cubana, tudo músicas das Caraíbas, mas também vai buscar alguma influência ao Funk e R&B americanos, a Pop, e alguma música Africana. O resultado é festivo, uma música mais para dançar do que para escutar, própria de quem gosta de festa, e absolutamente contagiante. Os Kassav' têm ainda uma particularidade interessantíssima, desconheço outro exemplo; os vários músicos da banda tiveram desde início projectos individuais, mas não se poderá dizer a solo, dado que participavam uns nos projectos dos outros. Isso terá porventura ajudado ao sucesso do Zouk criando desde cedo uma diversidade de registos, e o mais espantoso é que não afectou a longevidade da banda, continuam aí para as curvas (e a longevidade nas Caraíbas é realmente enorme, em geral).
Fica ali na coluna da direita a tocar o tema "An Pa Vlé", letra música e interpretação de Tony Potrisa. É tirado da colectânea "C'est la fête... du Zouk". Não faço ideia do que quer dizer "An Pa Vlé", mas tenho a certeza que a letra é excelente, como é a música. Ponham a grafonola a tocar.



Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

sábado, setembro 09, 2006

Morcela de Bacalhau? Ouh, Spicy!


Também se come por lá muito bem. Sem grande surpresa, digo eu, a comida é muito à base de peixe e marisco, mas também de porco. Ah, e é picante, é muito picante, há sempre o piment à mesa, apesar de ser um ingrediente de todo e qualquer cozinhado. Como entrada o clássico é o boudin (na foto em cima, com um planteur ao lado), é um enchido de sangue, o mais parecido que há na gastronomia portuguesa é a morcela, sendo que o boudin é mais picante. O curioso é que se fazem boudins não só de porco, há outros que não levam sangue, o branco (só com leite e pão), de bacalhau (que tal vos parece a ideia de uma morcela de bacalhau?), e de lambi. Lambi, por falar nisso, foi a grande descoberta da gastronomia das antilhas, é um búzio de dimensões apreciáveis, para não inauditas, que se come de vária maneiras e feitos, sendo que eu prefiro guisado (com um niquinho de piment, está claro). No que aos mariscos concerne, há as Lagostas que são enormes.
Na comida rápida há um tipo de sandes tradicional bem curioso, o Bokit. Em princípio o Bokit pode levar tudo o que se quiser, mas os mais típicos são de frango (como o que está na foto em baixo), de bacalhau (não sei se já repararam mas o bacalhau aparece amiúde na gastronomia antilhesa), ou de Lambi. O recheio é bem condimentado, não apenas picante, mas também. Mas o mais curioso é a maneira como é feito o pão, em vez de cozido no forno, a "cozedura" é feita fritando em óleo. O pão tem de facto um sabor particular.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

sexta-feira, setembro 08, 2006

Notas soltas

A família alargada por lá faz-me lembrar a ti' Vicência, é assim tipo família em rede, muitos primos, como lá na terra. Há só uma diferença: não há "bastardos". Esclareço, há filhos fora do casamento, sim, como há famílias monoparentais (que se deviam chamar talvez mono-maternais), claro que há, mas não há filhos de pai incógnito. Toda essas crianças (ou que o foram um dia) nascidas fora da família "tradicional" - o que quer que isso seja, porque "bastardos" também são uma tradição antiga - sabem quem é o pai, e o pai assume sempre a paternidade.

Há uma vila chamada Petit-Bourg, na Basse-Terre, os seus habitantes são os Petit-Bourgeois. A piada também funciona em português, os habitantes do Pequeno-Burgo são os Pequeno-Burgueses.

Outro aspecto sempre presente nas conversas, nas estórias, são os ciclones. A relação que têm com os ciclones é de uma estranha intimidade, conhecem-os pelo nome, mostram por vezes alguma nostalgia - "ah, o Hugo, foi dos grandes...". Os anos contam-se pelos ciclones, e não o contrário. Guardam um perspectiva prosaica sobre o assunto, a atitude é a de quem sabe que todos os anos há ciclones, mas os ciclones não passam todos por todas as ilhas, a questão é de saber quem é a vítima da próxima vez. Mas o mais fascinante (para mim) é o conceito do olho do ciclone, e é a fonte das estórias mais impressionantes. No centro do ciclone não há vento, é o tal olho, e curiosamente a cultura popular integrou isto muito antes de terem ouvido falar de meteorologia. Quando o ciclone passa a velocidade do vento aumenta gradualmente, quando se chega ao olho tudo para de um momento para o outro, a pausa pode demorar uma hora ou mais, e quando recomeça é imediato (aliás a principal causa de acidentes ao que parece, pessoas que aproveitam a pausa para sair, reparar as casas, etc...), depois vai diminuindo gradualmente. Mas o modo como falam dessa pausa em que tudo está suspenso, uma hora ou mais à espera daquela explosão instantânea em que numa fracção de segundo se passa da acalmia à mais violenta das tempestades, essa ideia, mais do que assustadora é fascinante.

A outra conjectura de Poincaré.
Há uma conjectura de Poincaré que quanto a mim continua por explicar: Por que razão na vila mais simpática da Guadeloupe fora de Pointe-à-Pitre, Le Moule, havia uma pequenina rua perpendicular à avenida principal com o nome do Poincaré? Lá está, a rua é perpendicular, tudo bem, é o referencial ortogonal, mas não vi nenhuma esfera homomorfa. Onde está ela? Que é como quem diz o que é que o Poincaré tem a ver com o Moule? Ou será que na paz das Caraíbas os Guadeloupeanos apreciam os grandes cientistas, os que sabem fazer as grandes perguntas para as quais não têm resposta? Talvez seja isso, ou talvez eu esteja para aqui a divagar sem sentido, o que se deverá seguramente ao facto de ainda não ter bebido um só ti' punch hoje. E por falar nisso, vou ficar por aqui, que me surgiu aqui de repente um afazer urgente e inadiável.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

quinta-feira, setembro 07, 2006

É muita Fruta!

Literalmente!, a fruta é muita e variada. Talvez nada que espante quem esteja habituado à fruta tropical, mas é muito para além da pequena amostra de exotismo que temos nos supermercados cá mais para norte. Quem gosta de comprar essa pouca fruta, por sinal caríssima, para efeitos de simples ostentação, seria inapelavelmente humilhado. Mas há ainda um pequeno pormenor, que é a acessibilidade da fruta (ou então talvez eu tenha tido simplesmente sorte, mas não me parece). Na casa onde estive o tempo quase todo havia no jardim Goiabas, Abacates, Fruta-Pão, Maracujá, Pomme-Liane, Cereja-Acerola, um citrino parecido com Toranja, e aquela que foi para mim a grande descoberta, a Pomme-Cannelle (Ponm-Canèl em crioulo) - quero lá saber que tenha caroços, é deliciosa! E não estou a falar de um pomar, apenas um jardim mantido assim como que para funções estritamente ornamentais.
Com tanta escolha, os usos também que se dão à fruta são também variados, comer apenas uma peça de fruta ao fim da refeição não dá vazão à coisa. Embora se possa comer quase qualquer fruta à refeição, há-as que se tornam mais especializadas noutras "funções". Sem surpresas (digo eu) o abacate pode comer-se como entrada, com um vinagretezinho ou com um pouco de piment - ui, explosivo! Já a banana verde, ou até madura, passada pela frigideira, pode servir de acompanhamento à carne ou, sobretudo, ao peixe. A fruta-pão cozida em água, a laia de batata, faz muito bem disso mesmo, batata, mais doce, mas não excessivamente, sendo aliás mais saborosa (pelo menos para o paladar de quem come batatas há mais de trinta anos). O inhame é outra alternativa, se bem que - hélas - não seja um fruto, é uma raiz. A carambola, serve para tudo e mais alguma coisa, pessoalmente prefiro o sumo, mas pode ser vinho, vinagre, seca com açúcar, ou simplesmente natural. Mas o cúmulo da eficiência, ou aliás da rentabilidade, é a Goiaba feita em sumo. É que com três Goiabas apenas se faz um litro de sumo. Leva-se aquilo tudo cortado em pedaços, casca e caroços incluídos, ao copo misturador, o dá num puré bem consistente, passa-se o puré para tirar os caroços, e há ainda bastante margem para juntar gelo e água até ter um sumo que se possa beber, não sem juntar um pouco de açúcar - de cana, como convém - et voilà!


Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

quarta-feira, setembro 06, 2006

Água de Côco

Como o próprio nome indica é água, e sabe a côco. Se bem que se tire mais água de dentro de um côco do que aquilo que seria de imaginar, e mais ainda, abrir um côco tem o seu quê de desafio. Bebe-se fresca, a água de côco e é refrescante, por vezes também bem doce, e há quem beba com whisky. Os locais não misturam com Rhum, e têm razão, é das raras coisas que por lá não vão muito bem com Rhum. Para além da água pode extrair-se ainda um nada de miolo de côco.

Na foto pode ver-se autor deste blogue exibindo orgulhosamente um côco por si mesmo aberto, para gáudio dos demais, inclusivamente da sua própria T-shirt.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

Independência?

Uma pergunta que fiz a mim próprio, até mesmo antes de ir foi: "será que os Guadeloupeanos gostariam que a Guadeloupe fosse independente?" Ainda não tenho resposta. Uma sondagem poderia ajudar, mas desconheço sondagens a este respeito, e seria talvez redutor para o propósito deste post. Acontece que os sinais são - de certo modo - contraditórios. Falando da cena política a situação até é relativamente clara, não há nenhum movimento político independentista activo neste momento. Já houve, e houve inclusivamente um movimento armado, que fazia essencialmente atentados à bomba (como acontece hoje em dia na Córsega). Pelo que me disseram pessoas que até eram (ou são...) simpatizantes da causa, e que conheceram o movimento de relativamente perto, foi um movimento que nunca teve sequer um forte apoio popular. O movimento independentista foi iniciado por uma elite, constituída por militantes que tinham feito os seus estudos na metrópole, o que é aliás um clássico nos movimentos independentistas. Mas neste caso, pelos vistos, não houve uma adesão da população, o movimento restringiu-se a uma elite. O governo francês conseguiu a infiltração das células operacionais, e a paralisia do movimento armado, e por fim negociaram o desmantelamento do movimento no tempo de François Miterrand.
Em contraste flagrante com essa falta de adesão popular à causa independentista, na Guadeloupe não se tem de todo a sensação de estar em território francês (com excepção de a polícia usar os mesmos uniformes, e os agentes serem oriundos da França metropolitana). E não falo apenas da cultura e dos hábitos serem diferentes, ou de o crioulo ser tão ou mais presente que a língua francesa. Por exemplo, toda a gente se refere à metrópole como "a França", não dizem a França metropolitana, ou a França hexagonal, simplesmente França, como se não fizessem parte de França. Imagine-se alguém no Açores referir-se a Portugal continental simplesmente como Portugal. Também ouvi algumas discussões sobre o futuro da Guadeloupe, e o que emergia era a ideia de que é preciso um projecto para a Guadeloupe, como se se tratasse de um projecto nacional, sem nunca se dizer "projecto nacional". As pessoas referem-se como muito orgulho a tudo o que é típico da Guadeloupe, comida, bebida, música, história, etc..., uma espécie de patriotismo, sempre em relação à Guadeloupe, não a França. Quando dizem "a minha terra" estão a falar, obviamente, da Guadeloupe. E aqui torna-se de facto surpreendente que um movimento independentista não tenha apoio popular.
Mas talvez haja razões para isso. Primeiro a presença francesa não é repressiva (se houvesse um movimento independentista forte, provavelmente haveria repressão, e seria uma pescadinha-de-rabo-na-boca), mas para além o aspecto político a soberania francesa não é de todo repressiva para com a cultura local, as gentes mantém os seus hábitos e costumes sem problemas. A Guadeloupe (como os outros departamentos ultramarinos) têm autonomia política, e os governos locais são eleitos democraticamente, para além de elegerem deputados para a assembleia nacional. Há ainda outro aspecto, a ligação que existe entre as antilhas (Guadeloupe e Martinique) e a metrópole através da sua comunidade migrante. Haverá hoje na França hexagonal mais antilheses que nas próprias antilhas, o que talvez constitua um laço forte com a metrópole. Depois há também o aspecto pragmático, a situação económica na Guadeloupe e Martinique é melhor do que em qualquer outro local das Caraíbas, ainda para mais com os benefícios da protecção social do estado francês (rendimento mínimo, subsídio de desemprego, etc...). Talvez por isso os Guadeloupeanos estejam contentes com a situação actual, e a soberania francesa até lhes convenha, mesmo se a Guadeloupe não é França.
Isto faz-me colocar uma questão (meramente académica): Será a Guadeloupe comparável a Cabo-Verde? Teria Cabo-Verde podido continuar a fazer parte de um Portugal democrático do pós 25 de Abril? (estou a falar apenas de Cabo-Verde, e talvez S. Tomé e Príncipe, mais nenhum outro país).

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

terça-feira, setembro 05, 2006

Na Pointe des Châteaux a olhar para dentro


Fotografia tirada na Pointe des Châteaux ,extremo oriental da Guadeloupe (ver o mapa ali na coluna da esquerda), na Grande Terre, virado para o interior da ilha.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

segunda-feira, setembro 04, 2006

Gelados e Sorvetes

Os gelados ainda são feitos há moda antiga, que é como quem diz: na cuba em metal, dentro da "máquina" de fazer gelados vão as natas, o açucar e o côco (neste caso, poderia ter sido uma mistura de frutas à base de goiaba), do lado de fora gelo e sal, o que permite a temperatura descer até -10ºC, a senhora dá à manivela e faz-se um gelado excelente. Foi a primeira vez que gostei de gelado de côco. Estão a ver aqueles gelados com corantes, aromatizantes, emulsionantes e conservantes? Não tem nada a ver. Fez-me lembrar aliás de um documentário que vi há pouco tempo em que aprendi duas coisas interessantes: 1) Há muitos sítios no mundo em que os gelados ainda são feitos à moda antiga, 2) Margaret Tatcher antes de se tornar uma figura política mundial fez carreira na industria geladeira ao desenvolver uma técnica para insuflar ar nos gelados, tornando-os mais rentáveis (para a empresa, está visto).

O sorvete também é feito através de uma técnica assaz curiosa. Primeiro faz-se o monte de gelo pilado, a partir de um bloco de gelo in loco, com a ajuda de dois copos de plástico acondiciona-se o gelo pilado bem compactadinho, e por fim verte-se um charope, assim tipo groselha por cima (há vários sabores). Eu pessoalmente prefiro o gelado, mas o sorvete, há que reconhecê-lo é bastante refrescante. Aliás a água que vai derretendo vai naturalmente para dentro do copo, por consequência no fim têm-se um resto de refresco.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

Casa Assombrada


Fica na Grande Terre, a caminho de Morne a l'Eau. É lindíssima, em estilo colonial, desabitada há anos, e os rumores correm (embora ninguém acredite). De qualquer dos modos é conhecida como A Casa Assombrada.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

sexta-feira, setembro 01, 2006

Tu vois Jojo?, c'est ça le metissage!

Não que tenha passado muito tempo a discutir questões como o racismo ou a miscigenação, porque há coisas quotidianas e corriqueiras - bastante agradáveis em geral - que nos ocupam o tempo, mas de vez em quando o assunto vem à baila. Uma vez foi enquanto descascávamos batatas para eu cozinhar um "Bacalhau à Gomes de Sá" com que resolvi presentear os meus anfitriões (uma escolha segura, há anos que dá sempre bons resultados). Nessa manhã tinha sido apresentado ao primo E. que por acaso é bem negro, e trazia pela primeira vez à Guadeloupe a sua namorada, uma francesa metropolitana branca louríssima. A tati Ly. sai-se com o seguinte comentário "Não sei já reparaste, mas a família é um bocado dominó", estava eu a tentar decifrar a metáfora e ela lá fez uma alusão para explicar que se referia ao preto e branco do dominó. É absolutamente verdade que dentro da própria família há do mais escuro ao mais claro. A própria tati Ly. tem uma filha negríssima, do primeiro casamento, enquanto que a mais nova é quase branca ("chabine" como se diz em crioulo) e loura, a tati Ly. ela própria é mestiça. E para eles a mestiçagem é parte da identidade, e é afirmada com orgulho, e torna-se até num culto estético. A tati Ly. continuou a conversa e contou como era no tempo em que o seu filho estudava na U.F.M., Université de Formation des Maîtres, também conhecida por lá como Ecole Normale. A U.F.M. é uma escola prestigiada localmente e muita gente gostaria de lá colocar os filhos, talvez por isso haja (ou havia na época) uma grande diversidade entre os alunos. Descreveu-me então como para ela ir ter com o filho ao fim das aulas e ver os alunos, todos com a mesma farda, mas eles próprios de todas as cores descer a colina era das coisas mais belas que lhe podeia ser dado a ver. Tudo isto contado de forma pausada, com sentimento mas sem dramatismo, absolutamente convincente. A conversa continuou, eu ainda meti lá pelo meio uma referência ao Gilberto Gil, e aos seus discursos e canções que defendem a miscigenação como solução para os problemas do mundo.
Lá preparei o Bacalhau. Ao almoço a tati Ly. diz que é muito bom, só lhe falta um bocadinho de picante (já a mami S., tinha dito a mesma coisa), levanta-se e vai buscar o Piment, que é uma verdadeira bomba. Vira-se para mim e diz (sic): "Tu vois Jojo?, c'est ça le metissage! Tu nous prépares ta Morue portugaise et moi je l'ajoute um peu de Piment." (tradução: "Estás a ver Jojo?, é isto a mestiçagem! Tu preparas-nos o teu Bacalhau português, eu junto-lhe um pouco de picante"). Que mais há a dizer? Lapidar! Eu próprio pus um pouco, muito pouco, de Piment e só tenho a dizer que a surpresa foi bem agradável.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

Le Saut de la Lezarde


Fica na Basse Terre no meio da montanha, e chega-se lá a partir da Route de la Traverssée (a Estrada da Travessia, que é uma estrada que atravessa ao meio a montanha da Basse Terre). Para quem for um dia à Guadeloupe, aconselho vivamente. É assim um sítio onde se pode tomar banho de rio, numa "cachoeira", dar uns mergulhos. A queda de água tem aí uns 12 a 15 metros de altura. Há uma caminhada de uma meia-hora para lá chegar, e um bocadinho mais para regressar. Aliás o regresso, sobretudo depois de uns dias de chuva, e com o trilho meio apagado, pode ser algo complicado. Mas o mais que pode acontecer é ter que atalhar pelo meio do matagal, vale acima, ficar cheio de lama e ir dar à estrada um quilómetro mais à frente, nada de particularmente grave. É um pequeno preço a pagar pelo banhinho num local paradisíaco.

Arquivado em:Viagem às Caraíbas

Continuar a ler...

Encontrados


Continuar a ler...