sexta-feira, junho 30, 2006

O original e a cópia

LFC é obviamente uma imitação muito fraquinha do verdadeiro, do único, do original KFC.

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quarta-feira, junho 28, 2006

Da caixa de SPAM: Postal de Londres


Another Fine Mess

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As bandeiras...

Há uma esquerda -na qual eu me incluo- que tem uma alergia à bandeira nacional, e porventura demais simbolos patrióticos. Nem sei como é que está a coisa agora, mas lembro-me como foi no europeu, e fez-me um bocado de confusão. É engraçado que algo muito semelhante, ao que parece, se passa agora na Alemanha com o mundial. Há uma febre das bandeiras (pelos vistos pela primeira vez desde 1945) e há um desconforto de uma certa esquerda. Num e noutro caso houve uma ditadura fascista/nazi que se apropriaram dos símbolos nacionais e os transformaram em instrumentos ao serviço da ideologia, aliás apropriaram-se da própria ideia de patriotismo.
O optimista que há em mim diz, no entanto, que esta febre bandeirista até é uma coisa boa. A banalização pelo (ou através) futebol é talvez a melhor maneira de des-sacralizar a bandeira nacional. Ela perde a sua carga ideológica e transforma-se tão somente num símbolo que materializa o elemento que têm em comum todos os que apoiam a selecção, que é apenas a circunstância de, indepentemente da sua origem ou ideologia, terem a mesma cidadania, e se identificarem com o mesmo país. Esta bandeira que anda para aí é a bandeira do Figo, do Cristiano Ronaldo, e do Pauleta, tanto quanto é a do Costinha, do Petit, do Miguel e do Deco.

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A diferença entre os homens e os rapazes

França - 3 Espanha - 1

E o terceiro golo é Zidane vintage!
(sim, festejei como se fossem golos portugueses)

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domingo, junho 25, 2006

À grande e à francesa: Adoro a ironia deles quando é a meu favor!


En face, les jeunes joueurs néerlandais, qui s'étaient déjà signalés par des gestes peu corrects au premier tour, n'ont hélas réussi à égaliser qu'au nombre des expulsés. Pas à la marque...
No Le Monde, a propósito do jogo dos oitavos de final Portugal - 1 vs Holanda - 0

Tradução:
Em face, os jovens jogadores holandeses, que já se tinham notabilizado pelos gestos pouco correctos na primeira fase, não conseguiram no fim de contas* igualar senão no número de expulsões. Não no resultado...
*paupérrima tradução de 'hélas' mas não arranjo melhor...

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sábado, junho 24, 2006

Razões pelas quais os cientistas evitam pensar sobre ética

No mais recente número da revista Cell (a mais prestigiada revista em Biologia), Paul Root Wolpe (que não conhecia até ler este artigo), do Centro de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvania, publica um comentário em que põe o dedo na ferida do desinteresse dos cientístas pelos aspectos éticos do seu próprio trabalho.

Este é um artigo escrito tendo como leitor-alvo os investigadores, mas acaba por ser um bom ponto de partida para uma discussão fora da comunidade científica. Sendo que os comités de Ética tendem a ser dominados por meios conservadores, o que pode criar barreiras ao trabalho dos próprios cientistas, é mais uma razão para não deixar para outros aquilo que deve o trabalho dos investigadores.

Wolpe identifica e discute (leia-se rebate) os oito maiores clichês que os cientistas usam(os) para se descartar essa parte "chata" do trabalho. São estes os oito clichês: 'Não tenho preparação específica em Ética', 'O meu trabalho científico pouco tem a ver com Ética', 'A Ética é arbitrária', 'Os especialistas da Ética a maior parte das vezes dizem "Não" às novas tecnologias', 'As decisões Éticas são para os outros', 'O Público não sabe o que quer', 'O Conhecimento é intrinsecamente bom' e 'Eu não o faço, alguém o há-de fazer'.

E em conclusão:
A Ciência tornou-se numa das mais poderosas e eficazes forças de mudança sociedade moderna. Como profissionais no seu âmago, os cientistas têm uma responsabilidade única de conduzir essa mudança sob um escrutínio ético cuidadoso do seu próprio comportamento e uma advogacia bem estruturada da investigação científica. Se os cientistas encontrarem razões para não o fazer o público vai encontrar meios de o fazer no seu lugar, e os resultados talvez nem sempre sejam no melhor interesse da ciência ou da sociedade

Fica aqui o artigo completo.

Reasons Scientists Avoid Thinking about Ethics
Paul Root Wolpe
Department of Psychiatry and Center for Bioethics, University of Pennsylvania School of Medicine, Philadelphia, PA 19104, USA
*Contact: wolpep@mail.med.upenn.edu

Science is a powerful force for change in modern society. As the professionals at its helm, scientists have a unique responsibility to shepherd that change with thoughtful advocacy of their research and careful ethical scrutiny of their own behavior.

All good science is subversive. It challenges beliefs, pushes the boundaries of existing structures of knowledge, and portends a future different from the current one. For that reason, the Controllers, who rule Aldous Huxley’s Brave New World, forbade new scientific inquiry, declaring “truth’s a menace, science is a public danger.” The public, whose taxes fund much scientific work, is keenly interested in where science is going and the integrity of those who are taking us there. The unprecedented ability of scientists to manipulate the building blocks of life, to create altered biological processes, and to understand and re-engineer biological systems promises fundamental changes in how we heal, how we reproduce, and how we relate to the living world. Science tends to be portrayed by the media in extremes, as a series of sensationalized discoveries punctuated by conflicts and scandals. It is certainly understandable that the public would demand careful examination of such powerful technologies. Scientists, however, are often wary of ethical scrutiny, and generally reluctant to engage the public in moral conversation about their work. Why aren’t scientists more engaged in the ethical debates that characterize the public discourse about science? Why are scientists not more effective advocates of their own work? There are a number of reasons that scientists offer, and each is worthy of examination.

“I’m Not Trained in Ethics”
Ethics as an academic field has an established body of knowledge, a set of disciplinary concepts, a canon, and many other trappings of an intellectual discipline. Most scientists are not formally trained in ethics. However, scholars trained in ethics do work with scientists and scientific societies helping to set guidelines, assess the impact of new technologies, and so on. Scientists can learn the ethos of science by example. Albert Einstein once said “Most people say that it is the intellect which makes a great scientist. They are wrong: it is character.” Behaving ethically is the principal way that mentors transfer the ethical standards of their profession to their trainees. All the formal ethics training in the world cannot compensate for an unethical mentor. However, the failure to integrate training in professional ethics into the basic scientific curriculum impoverishes the educational mission and, ultimately, science itself. The National Institutes of Health (NIH) now requires that an ethics curriculum discussing protection of human participants in research be taught in the graduate programs it funds. It would be a shame, however, if training in ethics stopped there. To remain true to the highest goals of science, scientists should periodically revisit the big questions: What is science for? What are the values I bring to my scientific work? Why did I become a scientist, and why am I one now? What are the moral motivations, inclinations, and principles at the heart of my scientific pursuits? How do I advance the cause of scientific progress? Whom does my research serve? Serious consideration of those questions qualifies a scientist for participation in the ongoing discussion of scientific values, even without a specialized training in ethics.

“My Scientific Work Has Little to Do with Ethics”
What does the daily work of science have to do with ethics? The ethical norms of science are so embedded in scientific work that we can easily take them for granted. When asked why he made his stem cell lines freely available to other scientists, Harvard’s Douglas Melton replied, “because there’s a long scientific tradition of making the fruits of one’s research available to others” (Dreifus, 2006). Making reagents freely available to colleagues is a fundamental ethical tenet of modern science. The work of historians, philosophers, social scientists, and others shows that the questions scientists choose to pursue, the kinds of data that are considered important, the dynamics of collaboration within a scientific team, the interpretation of results, and many other aspects of scientific work are permeated by ethical assumptions, such as the value of sharing the products of scientific inquiry, and the value of mentorship. Science is an eminently social activity. What distinguishes a profession is not only a body of knowledge or expertise. Professional authority is derived also from a cultural tradition of service carried out with an expectation of high ethical behavior. Professions try to assure such behavior by developing codes of ethics. For example, the American Medical Association was founded in Philadelphia in 1847 by writing and publicly reading a new code of ethics. Many specific scientific societies have developed codes of ethics. Indeed, later this year, the British government’s chief scientific advisor will be releasing an ethical code setting out the values and responsibilities of all scientists who work in the United Kingdom (Pincock, 2006). Clearly plagiarism, fabricating results, misrepresenting contributions to a paper, bypassing informed consent, stealing ideas, and other forms of scientific misconduct have a detrimental effect on science. But it is not just misconduct that is threatening science. A fundamental tenet of academic science and medicine is the ability to replicate published research. In a survey published in JAMA, 47% of geneticists who requested additional information, data, or material from academic colleagues regarding their published research reported being turned down at least once; 28% reported that they had been unable to confirm published results because they had been denied access to requested data or materials (Campbell et al., 2002). Science’s claim to self-correction and overall reliability is based on the ability of researchers to replicate the results of published studies. Studies cannot be replicated if scientists will not share additional data, information, or materials from published studies, and upholding such ethical norms is every scientist’s responsibility.

“Ethics Is Arbitrary”
From stem cells and cloning to genetic engineering to the sale of organs for transplant, there is no dearth of contentious bioethical debates. Sometimes the debates seem intractable, with all sides convinced of the validity of their ethical position. It is easy to conclude that ethics is essentially arbitrary. Empirical evidence can provide support for ethical conditions, but it cannot ultimately adjudicate between them. In fact, however, there is widespread consensus on a host of ethical issues in science policy. Consensus tends to be hidden because it is taken for granted; only the controversies make the headlines. For example, developed countries have forged a wide-ranging ethical consensus on research involving human subjects. This includes universal standards of informed consent, risk/benefit analyses, ethics review committees such as Institutional Review Boards, mandatory testing in animals first, protocols to assess toxicity and side effects, conflict of interest declarations, and subject’s rights (such as the right to refuse to participate in research without incurring any penalty and to withdraw from research at any time). At the boundaries of the consensus are areas of ethical debate, but that is how it should be. The public discourse eventually may make its way to consensus, but in ethics, process is at least as important as product.

“Ethicists Mostly Say ‘No’ to New Technologies”
Ethical principles do set limits on technology, but this is unremarkable. We need limits to be set so that new technologies do not cause harm, violate personal privacy or autonomy, damage a collectively owned natural environment, and so on. Although some bioethicists may use ethical arguments to resist technology in general, the majority of biomedical ethics is in the service of good science. Many bioethicists are trained in the biological or social sciences and have academic appointments in medical or life science departments. The irony of being a bioethicist these days is the possibility of being viewed both as a lackey to pharmaceutical and biotechnological interests by the general public and as an overly cautious obstructionist by the scientific community. Ethicists and scientists should work hand in hand to assure that scientific research is done to the highest ethical standards, and to prepare the public for reception of scientific innovation. The cloning of Dolly has become the exemplar of the failure to prepare the public for a scientific breakthrough. After the announcement, polls showed that more than 90% of Americans opposed the cloning of animals. Furthermore, the media were filled with stories about creating human clones for organ transplants, celebrity vanity clones, etc., before scientists could reign in the wild speculation and describe what cloning is and what it can and can’t do. Had the ethical discussion kept pace with the research, the global hyperventilation over Dolly might well not have taken place.

“Others Will Make the Ethical Decisions”
Scientists in modern technological societies are professionals, and their work should be viewed through the lens of professional ethics (Chadwick, 2005). Scientists, like all professionals, have ethical responsibilities at three levels: First, scientists must assume personal responsibility for the integrity of their research, their relations with colleagues and subordinates, and their role as representatives of their home institutions. Second, scientists must assume a measure of disciplinary responsibility for the promotion, oversight, and collective activity of their specialized field of inquiry. Finally, scientists must recognize their social responsibility to science as a public enterprise. Scientists have an obligation, individually as well as collectively, to reflect on the ends, not just the means, of scientific work (Kitcher, 2004). Ethical conversation should be part of “normal science” in every laboratory, academic center, and corporate office. Sometimes that ethical responsibility may run counter to the practices of an institution or corporation; in those cases, scientific integrity demands that individual scientists respond by speaking out, or trying to change the corporate culture. In rare cases, it may require refusing to participate in a particular project, or in extreme cases, resigning.

“The Public Does Not Know What It Wants”
The public, in general, is not scientifically sophisticated. Yet somehow the public has managed to negotiate its way to a consensus on a variety of scientific issues. Despite the initial reaction to the cloning of Dolly, people eventually settled into a consistent and stable belief that animal cloning is basically acceptable, whereas human reproductive cloning is not. Society invests scientists with public trust and privilege, granting them access to funds, materials, public institutions, and even their bodies as subjects for research. In return, society retains a right to set certain limits on the kind of scientific research that it believes is permissible. If science serves the collective good, then it must contribute its unique perspective to the moral debates of the day. Scientists should be active participants in that cultural conversation, as they are both citizens with a right to make claims about the common good and experts in the topics in question. In that sense, science’s biggest failure lies in its lack of engagement with the public. One study of geneticists (Mathews et al., 2005) found that although most thought that scientists should be more actively involved in public outreach and science policy, many felt ill-equipped themselves and unsupported by their peers and institutions in assuming this responsibility. Scientists who frequently engage the public have often been suspect in the eyes of their peers, yet it is precisely that kind of outreach that will most benefit the scientific enterprise.

“Knowledge Is Intrinsically Good”
A working assumption of modern science is that the generation of knowledge is its own justification. But is all knowledge neutral? Is there any piece of information so potentially disturbing or destructive that we should not pursue it? Some scientists may say that all knowledge is fair game. Yet there are precedents for the idea that there is forbidden knowledge. Kempner and colleagues (2005) interviewed about 40 scientists in a variety of disciplines— including cell and molecular biology, neuroscience, and genetics —from a number of prestigious US academic institutions. They asked them to consider their practices and rationales for limiting scientific inquiry or dissemination. Respondents reported that knowledge may be forbidden because the route to obtaining that knowledge is unethical—certain types of human experimentation simply may not be carried out, for example. Some knowledge may be forbidden because the means to knowledge violates religious or moral constraints, as some claim about human embryonic stem cell research. Kempner and colleagues were most surprised, however, by the power of informal means of limiting scientific inquiry. Researchers are sometimes attacked after publication of their research—as were famous controversial figures such as Kinsey, Milgram, and Herrnstein and Murray—which may dissuade others from pursuing similar lines of research. In the survey, some participants cited the threat of social sanctions as deterring certain types of research, whereas others reported that there were unspoken rules of theirscientific community regarding which research to pursue. Most would agree that there is scientific research that is inherently unethical and ought not to be pursued. However, there is a more nuanced ethical question: is the pursuit of all scientific knowledge equally worthy? That question must be asked every time we allocate funds to certain scientific goals and not to others. In that sense, an ethical sensibility is part of the very funding structures that drive science in certain directions in technological societies. What kinds of research should we prioritize? It is there that the ethical dialog among scientists, ethicists, and the public can be most fruitful.

“If I Don’t Do It, Someone Else Will”
Biotechnology has become global, but different societies do not always agree on the same ethical standards. Although there is almost universal agreement to ban human reproductive cloning, for example, there is little international agreement about human embryonic stem cell research. Some countries have banned it altogether, others have severely regulated it, and still others have actively promoted it. With such variation, a common argument for pursuing controversial science is its inevitability; if we don’t pursue this line of research, then someone else will. But is that argument, even if true, a justification for pursuing a line of research that a scientist otherwise judges to be ethically questionable? The argument is ultimately an economic, not an ethical one. If science is to maintain its ethical standards, and if scientists want to be trusted by a wary public, ethical guidelines must be developed and adhered to, even when they cause some economic hardship. The primary ethical responsibility is to one’s own moral standing.

Conclusion
Science has become one of the most powerful and pervasive forces for change in modern society. As the professionals at its helm, scientists have a unique responsibility to shepherd that change with careful ethical scrutiny of their own behavior and thoughtful advocacy of scientific research. If scientists find reasons not to do so, the public will find ways to do it for them, and the results may not always be in the best interests of science or society.

References
Campbell, E.G., Clarridge, B.R., Gokhale, M., Birenbaum, L., Hilgartner, S., Holtzman, N.A., and Blumenthal, D. (2002). JAMA 287, 473–480.
Chadwick, R. (2005). Interdiscip. Sci. Rev. 30, 247–256.
Dreifus, C. (2006). At Harvard’s stem cell center, the barriers run deep and wide. The New York Times, January 24, F2.
Kempner, J., Perlis, C.S., and Merz, J.F. (2005). Science 307, 854.
Kitcher, P. (2004). Bioscience 54, 331–336.
Mathews, D., Kalfoglou, A., and Hudson, K. (2005). Am. J. Med. Genet. 137A, 161–169.
Pincock, S. (2006). The Scientist. Scientists praise new UK ethics code. Published online January 10, 2006. http://www.the-scientist.com/news/display/22930

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quinta-feira, junho 22, 2006

Música do CPE: O tema que mudou a história do Jazz


Tirado do album que é considerado por muito poucos como o melhor album da história do Jazz, está ali na grafnola o tema "Be Bop" (vá lá ponham a tocar que vale bem a pena). É uma composição e uma interpretação daquele que é muito discutivelmente o mais influente músico da história do Jazz (e que bem merecia ter-se tornado num Icon). No dito album, uns bons vinte e cinco anos mais tarde Dizzy Gillespie revisita o tema que fica como uma lição do que foi a revolução do BeBop como estilo musical. O próprio Gillespie, mais que provavelmente, discordaria desta minha opinião, costumava dizer que "A night in Tunisia" foi a sua única composição. Em minha defesa, vou socorrer-me novamente das "notas introdutórias" de Benny Green ao "Dizzy's Big 4". Green conta-nos uma estória bem engraçada passada com ele próprio a respeito deste tema, e explica porque razão se gravaram tão poucas versões de "Be Bop", em comparação com outros standards.

Back in the days when modern jazz was still new enough and strange enough for all kinds of charlatans to take advantage of it, somebody published a volume, pirated I think, of jazz themes of the new school. These themes on paper looked reassuring enough, especially the first composition in the book, a piece in G minor whose melody rose in the kind of neat geometric progression which an instrumental student might associate with the formal exercises of Klosé or Lazarus. I soon learned to play the piece at roughly the regulation of quick-step tempo and privately wondered to myself what was supposed to be so revolutionary about it. The piece was called "Be Bop", and was a source of considerable desapointment to me. I had expected it to reveal the secrets of the new jazz to me and it had revealed nothing at all. Some months later I heard "Be Bop" played on a recording and realised that like all jazz themes "Be Bop" has its ideal tempo and that I had been playing it at roughly quarter-speed, which meant that my version bore about as much resemblance to the real thing as painting-by numbers version of "The Leaping Horse" would bare to an authentic Constable. Only rarely I heard "Be Bop" played since, no doubt because the prohibitive nature of that ideal tempo, and its reapperance now on this album my serve as a timely reminder of one aspect of early modernism which, in the rush of the gadarene swine towards the precipice of formelessless, is usually overlooked, the amazing standard of musicianship among the breakers of new ground in the 1940s.
When Dizzy Gillespie plays "Be Bop" at the pace he originally had in mind when he wrote it the listner realizes that there comes a point where tempo becomes so fast as hardly to be tempo at all so much a constant stream of sound. This is a dangeraous illusion which the musician cannot afford, for unless he retains complete control of pulse of his performance the result is chaos and anarchy. That the effort required is physical as well as mental and musical is a point well known to anybody who has observed the movements of the fingers and feet of musicians operating at this pace.
"Be Bop" was manufactured specifically for a new era and has never strayed beyond the specialist for which it was conceived.

P.S. - Só não sei, e gostava de saber, se foi este tema que deu o nome ao "Be Bop" como estilo musical, ou se foi o contrário.

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quarta-feira, junho 21, 2006

Discutivelmente o melhor albúm da história do Jazz


Gravado em 1974 "Dizzy's Big 4" é um álbum retrospectivo, uma espécie de autobiografia musical. Pessoalmente vejo este disco como se Dizzy tivesse resolvido olhar para trás, na altura para os seus trinta anos de carreira, e tentasse colocar o sumo do seu legado musical num LP. O resultado é magnífico. Gillespie visita alguns dos "seus" temas antigos, e curiosamente, dando o tal toque autobiográfico, re-interpreta dois clássicos que levam o seu próprio nome no título; "Be Bop (Dizzy's fingers)" e "Birks Works" (o nome de baptismo de Dizzy é John Birks Gillespie). Ainda para mais, a abrir o álbum ainda uma tomada de posição política (atente-se que o disco é de 1974), a primeira faixa tem por título "Frelimo", também um composição sua. Neste álbum Dizzy Gillespie passeia-se por estilos bem distintos para dar uma mostra de toda a sua versatilidade. Interpreta compositores tão improváveis num mesmo disco de Jazz como Irving Berlin (na valsa "Russian Lulaby") ou Kurt Weill (em "September Song"), o primeiro tema numa versão profundamente alterada, moldada ao seu estilo, a segunda mantendo essencilemente o espírito da versão original.

A formação em que Dizzy Gillespie se apresenta neste álbum é também no mínimo curiosa, um quarteto sem piano nem saxofone (So what?). Na guitarra Joe Pass tem um papel duplo. Quando Dizzy toca, Pass faz a secção rítmica, e no resto faz o contra-ponto de Dizzy aos solos de Dizzy com os seus solos de guitarra. Cumpre a sua função na perfeição, sem nunca tomar o "center stage" a Dizzy. No contrabaixo Ray Brown, também ele um veterano do BeBop, e na bateria Mickey Roker, que tal como Joe Pass pertence já a outra geração, cumprem impecavelmente os seus papeis na secção rítmica, seja nos tempos elevadíssimos dos temas como "Be Bop" ou "Frelimo", ou nos outros de tempos mais lentos como "September Song" e "Jitterbug Walts", este um tema de Fats Weller que fecha o álbum.

E depois há ainda uma particularidade que eu adoro nos bons discos de Jazz - e que provavelmente ultrapassa, pelo menos em parte, o próprio músico - são as "notas introdutórias", quando são bem escritas. E normalmente até são muito informativas. Neste caso é a pena de Benny Green que nos apresenta uma excelente prosa. Por exemplo:

... perhaps after all nothing has changed very much in the art of making Jazz since Dizzy first emerged and scandalized so many conservative spirits. The standard small-group formula remains very much what it was then, a handful os musicians relying on the speed of their reflexes to produce some personal expression of their own. Dizzy himself is recognizably very much the some the same trumpeter he once was. The canons of his style have remained largely intact. There is clearly the same deep affection for, and complete sympathy with Latin-American rhythms, the same amazing double-tempo passages where the speed at which thought is expressed can be matched only by the clarity of the thought itself

Ou ainda a concluir (onde se lia na época "twenty five years" pode ler-se hoje "more than fifty years"):

I suppose what has happened is is that after twenty five years we are all beginning to catch up with him

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domingo, junho 18, 2006

Chega o Verão, começa o drama...

A dúvida vai assumindo contornos de crise existencial.

Mojito ou Caipirinha?

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Qualidade de Vida - Ao Sol!

(Porque o sol faz muita diferença) Manhã vagarosa, com passeio por Montparnasse. Almoço numa das esplanadas do boulevard Edgar Quinet, mesmo junto ao mercado ao ar livre. Na ementa uma Salade Campagne acompanhada de uma demi Blanche, e uma Salade Poulet acompanhada por uma sumo de ananás. De seguida ver mais uma vitória de Portugal no mundial com amigos (num local que shall remain incógnito) conquanto haja Super Bock e Sumol.

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sexta-feira, junho 16, 2006

Assim se faz boa desinformação

Segundo uma notícia do The Guardian é possível encomendar pedacinhos do DNA do vírus da varíola, e recebê-los em casa na volta do correio. É dada a ideia de que usando este expediente é fácil reconstruir o vírus num qualquer laboratório artesanal. No entanto o que o jornalista encomendou foi uma sequência de apenas 78 letras, quando o genoma completo do vírus tem 185 000. Reconstruir o vírus a partir desse fragmento seria como tentar pôr de pé um arranha-céus baseado só no rascunho de uma planta de casa-de-banho. Para reconstruir o vírus seriam precisas não só mais umas 2 400 encomendas postais, como um grande laboratório, bem equipado, e cientistas com preparação técnica específica. Embora não seja ainda possível fazê-lo com outros organismos, nomeadamente bactérias, é possível recriar vírus em laboratório a partir do seu DNA, já foi feito (embora apenas com vírus bem mais pequenos do que o da Varíola). Mas a questão não é essa, o The Guardian faz toda esta notícia tendo por base a ideia de que é fácil recriar vírus sem ser preciso um laboratório, e, sobretudo, que não há verificações de segurança eficazes nas encomenda de DNA que são feitas, uma prática de rotina em milhares de labortórios no mundo todo. Subjacente está a ameaça do terrorismo internacional com armas biológicas. Mas o que acontece afinal é que mais uma vez se veicula a ideia de que os cientistas e a ciência são inerentemente perigosos (como já escrevi neste post), e de uma forma que é ou desonesta, ou incompetente, ou as duas.

Primeiro, não só o fragmento de DNA que foi encomendado tinha apenas 78 bases, como ainda por cima tinha 3 alterações, em relação à sequência normal do vírus. 3 alterações em 78 bases é muito, assim passa muito mais facilmente por qualquer filtro de segurança. E é natural que passe porque o que está a ser encomendado não é sequer uma sequência do vírus da varíola, mas uma sequência alterada do vírus da varíola. Mais ainda, a empresa que vendeu o DNA tem filtros de segurança para sequências com mais de 100 bases, o que me parece um controlo até bastante apertado, tal como tem filtros para segurança, e faz verificações de cadastro para grandes encomendas, como seria necessário fazer em caso de uma ameaça real. Ou seja se tivesse sido feita uma verdadeira tentativa de recriar o vírus os sistemas de segurança que já existem teriam mais que provavelmente funcionado.

Quem é que ganha e quem é que perde com tudo isto? Ganha provavelmente o The Guardian que talvez consiga vender mais uns jornaizinhos com esta notícia sensassionalista na primeira página. Ganha provavelmente mais ainda um tal Robert Jones, que se apresenta como especialista em segurança e bioinformática e que colaborou com o jornalista que escreveu este artigo. Robert Jones tem uma empresa de software em Seatle e vende uns programas que neste caso até teriam funcionado como filtros de segurança, prevê-se que as vendas e as acções da sua empresa (se é que estão cotadas na bolsa) subam agora vertiginosamente. Quem perde são os cientistas em geral porque se adensa ainda mais a suspeição de que aquilo que fazem é inerentemente perigoso, e perdem aqueles que querem fazer um debate sério sobre estes assuntos, torna-se cada vez mais difícil conseguir falar mais alto que o ruído de fundo. Para além disso, se os sistemas de segurança que existem - que como já disse teriam muito provavelmente funcionado no caso de uma tentativa real de reconstruir o vírus da varíola - forem alterados como é implícito na peça, no mínimo aumentariam os custos da investigação que faz quem recorre a estas empresas (de sequências de DNA) e/ou tornaria os serviços dessas empresas lentos e ineficientes, no pior dos cenários teria efeitos contraproducentes estimulando um mercado negro muito mais apetecível das quem é uma verdadeira ameaça (e confesso que não sei se essa putativa ameaça do bioterrorismo existe realmente, nunca vi evidências disso).

Vale a pena ler este comentário da Nature, em que o artigo do The Guardian é descodificado, apesar do tom demasiado diplomático, e muito pouco crítico (para meu gosto) em relação à "peça" jornalística em causa. O Público publicou também uma notícia sobre este assunto na edição internet, mas não aparece na página principal do site (e desconheço se apareceu na edição impressa). Talvez se tenham apercebido a tempo do erro, o que, se foi o caso, é muito bom sinal.

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quinta-feira, junho 15, 2006

Está cientificamente demonstrado: O segundo golo de Inglaterra não foi um acaso

Nem de propósito, o jogo de hoje entre Inglaterra e Trinidad e Tobago vem ilustrar o que este artigo (disponível para toda a gente) demonstra estatisticamente: Marcar um golo aumenta as probabilidades de marcar mais golos no mesmo jogo. Os Ingleses andaram o jogo todo a sofrer para marcar um golo, marcam já perto do fim, e logo a seguir marcam outro. Para alguns amantes do futebol isto pode não parecer uma surpresa, mas para muitos estatísticos provavelmente é. Os autores foram buscar dados retirados do historial do campeonato do mundo, e também de campeonatos masculinos e femininos da Alemanha (antes e depois da queda do muro, o que também permite outras análises, mas não vou por aí). Com esses dados analisaram estatisticamente a distribuição dos golos por jogo. Num mundo simples e perfeito uma boa equipa que tem uma prestação constante tem sempre a mesma probabilidade de marcar golos, e se assim fosse, haver muitos golos ou poucos golos num jogo seria determinada de forma aleatória. Ou seja, na maior parte dos jogos essa equipa marcaria um número de golos próximo da média, e mais raramente ou muitos golos, ou poucos/nenhum golo, quanto mais longe da média fosse o número de golos mais raramente aconteceria. A análise dos resultados mostra de não é assim, observou-se que ocorrem mais jogos com muitos golos do que o esperado segundo esse modelo mais simples. Acontece que os golos tendem a agregar-se, que é como quem diz que um golo nunca vem só (convém referir que esta análise não foi feita com equipas italianas - nota minha). Dito de um maneira estatística, a distribuição dos golos por jogo não segue uma curva gaussiana. A explicação mais evidente é a do factor psicológico, um aumento de confiança dos jogadores após marcar um golo pode levar a marcar mais facilmente outros golos. Também há outras explicações, talvez a ocorrência de um golo leve numa grande maioria dos casos a uma alteração do decorrer do jogo (e estou a pensar em alterações tácticas, sobretudo da equipa que sofre o golo) que seja propícia à marcação de mais golos.

Cheguei a este artigo através desta notícia na Nature. Aliás para quem estiver interessado neste tipo de análises futebolísticas para "Nerds" a Nature criou um site especial para o campeonato do mundo 2006, com todo o tipo de análises estatísticas e outras curiosidades científicas sobre futebol.

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terça-feira, junho 13, 2006

O velho do Restelo

Lembro-me de quando andava no 9º ano se estudava os Lusíadas (se calhar ainda é assim), e uma dos episódios que se estudava era o Velho do Restelo. A stôra lá se põe a explicar que o Velho do Restelo é uma metáfora, que representa qualquer coisa, e que há várias correntes de pensamento quanto ao significado específico do dito. Talvez representasse os mais cépticos que não acreditavam na epopeia da Índia, ou talvez representasse uma parte da Corte que era mais favorável às conquistas no Norte de África do que à expansão marítima para o Oriente, e mais não sei o quê (eu acho que eram quatro as possibilidades de interpretação, mas não me lembro, e não é muito relevante). Eu tentei apresentar uma explicação alternativa, que devo dizer estava, e continua a estar solidamente assente em observações empíricas. A minha teoria era a de que o Velho do Restelo representa os velhos do Restelo. A stôra olhou para mim com ar deveras ambíguo, assim a meio caminho entre cara de "este gajo está-me a gozar?!" e cara de "como é que este gajo passou da quarta classe?". Diria mesmo que a stôra se engasgou de tanta hesitação. Eu, vendo que ela não era de Lisboa (era de Viseu) pensei logo "devem faltar-lhe referências", e tentei pô-la ao corrente de que o Restelo era um bairro em Lisboa, mesmo ao pé de Belém, e que os velhos eram exactamente como Camões descrevia nos Lusíadas. Mais, no Restelo há um estádio de futebol, onde os velhos se reuniam semana sim, semana não, normalmente aos domingos à tarde, e se ela fosse lá vê-los ia perceber a minha teoria. Ora, se imaginarmos que o Restelo já era mais ou menos assim há quinhentos anos, mas que por não haver estádio de futebol os velhos se reunião à beira Tejo para ver partir as naus, então faz todo o sentido a teoria de que o Velho do Restelo representa o Velho do Restelo, qual metáfora qual carapuça. Por uma vez Camões resolveu não usar nenhuma figura de estilo fazendo disso uma figura de estilo. Já não me lembro como é que a estória acabou, mas tenho a leve impressão que a minha teoria não foi muito bem aceite. Aliás, só um ou dois colegas tão pastéis quanto eu é que podem ter captado a justeza da minha interpretação. Mas até se percebe, quem nunca soube o que é ver o Djão (lembre-se que era avançado do Belém) fazer uma fantástica desmarcação pela esquerda para logo o cativo do lado se levantar num grito "Qu'é-esta merda? Não há foras de jogo?!", quem nunca viu um sócio daqueles que não falha um jogo há trinta anos aplaudir de pé quando o Marítimo faz o 0-2 para depois, o mesmo sócio, exultar com a reviravolta do Belenenses (dois golos do Mladenov), quem nunca presenciou um jogo e em que a equipa da casa ganha por três a zero e ainda é apupada pelos sócios não pode nunca perceber o verdadeiro significado do Velho do Restelo.

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À grande e à Francesa - Oui, mais c'est moche!

- C'est quoi ce truc?
- C'est Telnet, c'est un programme pour regarder mon e-mail.
- Et tu utilises ça? (com uma expressão facial de repulsa)
- Bien sur, ça marche très en n'importe quel ordinateur.
- Oui, mais c'est MOCHE!

Sendo um convicto adepto do Macintosh e admirador dedicado das indumentárias femininas parisienses, fui obrigado a resignar-me.

(tradução possível do diálogo)
- Que coisa é essa?
- É o telnet, um programa para ler o e-mail.
- E tu utilizas isso? (com uma expressão facial de repulsa)
- Claro que sim, funciona muito bem em qualquer computador.
- Sim, mas é FEIO!

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segunda-feira, junho 12, 2006

Discutivelmente o melhor, mas seguramente não um Icon


Se Dizzy Gillespie foi o músico que mais influenciou o Jazz moderno, e o seu mehor trompetista, não é seguramente o mais famoso. Sempre que me ponho a falar (leia-se: divagar) sobre Dizzy Gillespie com alguém que tem do Jazz um conhecimento ainda mais superficial que eu há uma estória que se repete, é mais ou menos assim:"(eu)-...blà-blà-blà Dizzy Gillespie, blá-blá-blá... / (o/a outro/a)- Quem é o Dizzy Gillespie? / - É um trompetista muita bom da época do BeBop que tocava com o Charlie Parker / - ...hmm, não estou a ver.. / - Aquele com umas gandas bochechas / - Ah! Já sei.". Ou seja, Gillespie mais do que pelo seu talento, ou pela influência que teve na história do Jazz, é conhecido pelo tamanho das suas bochechas (que eram efectivamente enormes porque, supostamente, soprava "mal" no trompete). Ainda para mais o meu interlocutor geralmente conhece Charlie Parker e/ou Miles Davis. Isto exemplifica perfeitamente o porquê, na minha opinião, de Dizzy Gillespie não se ter tornado um verdadeiro Icon. A sua grande pecha foi não ser alcoólico, nem drogado, de não bater na mulher, não ter morrido novo nem nunca ter estado preso. Tivesse ele cumprido apenas um que fosse deste requesitos, e a hierarquia dos famosos na galeria do Jazz seria outra. Isto nem sequer se aplica apenas ao Jazz ou à música, os exemplos são interminàveis (sei lá, por exemplo, Jim Morrison, George Best, Mike Tyson, James Dean, Kenedy, etc...). Muito mais que os méritos, são as questões acessórias que fazem fazem os ídolos. É por isso que outros vendem muito mais discos do que Gillespie, mas nem por isso são melhores. Confesso que influência que essas questões acessórias têm no fabrico dos "hérois" é algo que tenho dificuldade em perceber, pelo menos numa base racional.

Mas não seja por isso, se for preciso encontrar umas estravagâncias para tornar Dizzy Gillespie no Icon que ele merece ser, faça-se uma pesquisa no google, há-de arranjar-se alguma coisa. Por exemplo, pode começar-se logo por esta página; bem cedo na sua carreira Dizzy desentendeu-se com Cab Calloway, o chefe da orquestra em que trabalhava, Calloway dizia que os solos de Dizzy eram música chinesa. Mais tarde novo desentendimento, com direito a cena de facada (de Dizzy em Calloway) em pleno palco, Dizzy foi despedido. Lá está, um escândalo que poderia ter levado Dizzy à prisão. Ou então se formos à wikipédia à procura de Dizzy Gillespie descobrimos que ele se converteu a essa religião exótica vinda da Pérsia, a "Fé Bahá'i", sendo até informalente designado como o seu "embaixador do Jazz". Isto nunca esquecendo o tamanho das suas bochechas, nem a razão pela qual eram enormes. Será que chega, ou é preciso mais?

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domingo, junho 11, 2006

Maldito segundo princípio da temodinâmica

Passa uma (aliás duas) pessoas a manhã de domingo a dar a volta à casa. Arrumar, varrer, lavar, limpar e no fim a casa fica até bastante apresentável, modéstia à parte, um regalo! Se alguma coisa aprendi nas aulas de Quimica I sei que isto não vai aguentar muito tempo...

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Não é para estar a defender o meu clube (que até tem razão)

Mas esta estória do "Caso Mateus" demonstra bem o estado em que está o dirigismo no futebol português (e nem é só o futebol). Ele é um clube que inscreve um profissional como amador, ele é um Juíz que vota a favor mas não assina o acordão e depois vonta contra com voto de qualidade, ele é um conselheiro que primeiro não vota porque é familiar directo de um dirigente interessado na questão mas depois já vota, ele é um acordão já pronto e selado que fica uma semana à espera de ser enviado às partes interessadas mas depois já não é coisa nenhuma e faz-se um acordão novo, ele é mais trinta por uma linha...
E depois perguntam-se porque é que ninguém vai aos estádios, porque é que os clubes não têm receitas e andam com salários em atraso, porque é que tendo Portugal jogadores tão bons na selecção os clubes têm resultados tão maus, porque é que a Liga portuguesa desperta tão pouco interesse dentro e fora do país... Porque será?

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sexta-feira, junho 09, 2006

Em resposta ao Catenaccio

Esta altura é propícia a prognósticos, e a equipas-tipo. O Rui Tavares deu o mote e apresentou-nos um catenaccio italiano dos antigos. Eu vejo pelo menos duas alternativas igualmente fortes. Uma equipa portuguesa a jogar em 3-4-3, ou uma equipa americana a jogar num 4-4-2 clássico. O critério de selecção não é o pincel mas a pluma num caso, a pauta no outro.



A equipa portuguesa. Na baliza Camões, o guardião do templo naturalmente, tão bom nas alturas como junto à terra, vê mais com um olho semi-cerrado do que qualquer outro jogador com os dois bem abertos (como suplente poderia ser Diogo Berardes, foi suplente de Camões a vida toda, pode continuar a ser, não sai do banco). Uma defesa com três jogadores apenas. A líbero, Jorge de Sena, assegura um excelente entendimento com o guardião, tem bom posicionamento e um excelente poder de análise. Dois centrais de marcação, Saramago com o seu estilo de jogo simples mas regular e consitente, por vezes duro a defender mas sempre intransponível, Lobo Antunes complementa-o na prefeição, com uma enorme gama de recursos, igualmente consistente, exímio no jogo psicológico. Um meio-campo com quatro jogadores em linha, todos capazes de defender e de atacar. Ao meio Fernando Pessoa, jogador versátil, polivalente, capaz de cumprir inúmeras funções dentro de campo, joga em qualquer posição, e Eça de Queirós, jogador pragmático, lúcido, excelente a distribuir jogo. Nas alas dois criativos, rápidos sobre a bola, vindos da mesma cantera, à esquerda Mário Henrique Leiria, à direita Mário de Cesariny. No ataque um tridente ofensivo de luxo. Antero de Quental, jogador incansável, batalhador, deixa até à última gota de sangue em campo, joga ligeiramente mais recuado a fazer a ligação com o meio-campo, à sua frente o irreverente Luiz Pacheco, jogador sempre muito acutilante e imprevisível, capaz de um rasgo de génio a todo o momento, acompanhado por Sophia de Mello Breyner, jogadora fantasista de finíssimo recorte técnico.



A equipa americana a jogar num 4-4-2 clássico. Na baliza Benny Goodman, Miles Davis diria "We didn't know who to put in there, so we got this white cat". A líbero, Max Roach, o pilar de qualquer orquestra é o seu baterista. A central Louis Armstrong, um verdadeiro falso-lento, bom posicionameto, exímio na marcação. A defesa direito Count Basie, jogador seguríssimo a defender, capaz de particpar nas jogadas ofensivas, excelente cultura tática, a defesa esquerdo, Wes Montegomery, conservador no seu estilo de jogar sem palheta mas um executante rapidíssimo. O meio-campo composto por quatro jogadores ao estilo do Brasil 82, Duke Ellington, figura tutelar, a fazer de Júnior, Miles Davis, jogador de versátil a fazer de Falcão, Charlie "Bird" Parker, o criativo a fazer de Sócrates, e Dizzy Gillespie, o armador de jogo, vedeta da equipa a fazer de Zico. No ataque, Horace Silver (aliás Horácio Silva) um hard-bopper para o trabalho árduo, e a número 9, com o seu excelente poder de concretização Billie Holliday.

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Há coisas sobre as quais não se devia escrever num blogue

Mas é das vivências mais bonitas e interessantes que tive em muito tempo. Acompanho de perto alguém que re-descobre, graças a isto, os sons que tinha perdido ao longo do tempo. Por exemplo: "Que som é este? Parece assim como estores... Ah, são as pessoas, e são mulheres, sim as mulheres é mais bi-bi-bi-bi, e os homens é mais ta-ta-ta-ta...". Os exemplos sucedem-se.

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quinta-feira, junho 08, 2006

Discutivelmente o melhor trompetista, e mais influente músico, da história do Jazz



C.D - ... Les musiciens américains subissent en ce moment l'influence assez envahissante du be-bop. (On sait que sous ce nom l'on désigne une musique dont la caractéristique essentielle est de comporter un usage abondant de riffs vocaux et environs deux cent cinquante note à la mesure, le tout soutenu par une section rythmique hallucinante).
B.V. - T'aimes ça?
C.D. - C'est assez terrifiant à écouter. Cela donne une impression de vitalité extraordinaire. Mais c'est fatigant. Physiquement je veux dire.
B.V. - Tu as entendu Dizzy Gillespie (c'est l'inventeur du be-bop)?

Entrevista de Boris Vian a Charles Delaunay
publicada na revista Combat (1946)

Tinha por hábito ir àquelas livrarias que há n'América onde se pode beber um capuccino pequeno (i.e. do tamanho de um galão) e comer um oatmeal raisin cookie enquanto se folheia os livros que se nos apetece. Já não sei se na Borders se na Barnes and Noble folheei numa dessas ocasiões uma biografia de Dizzy Gillespie (por uma qualquer razão absurda não comprei o livro). A tese era relativamente simples; o momento fundador do Jazz moderno é o BeBop, é quando se dá uma mudança dos cânones que impera até hoje (Kuhn chamar-lhe-ia ruptura de paradigma), e o homem que esteve no centro dessa revolução foi Dizzy Gillespie. Eu subscrevo esta tese.

Não gostaria de entrar em polémicas de Dizzy vs Parker. Dizzy Gillespie e Charlie Parker fizeram uma parceria artística, e fizeram a revolução do BeBop juntos. Houve outros, mas - e presumo que isto seja consensual - esta dupla foi de facto o núcleo fundador do BeBop. É difícil estar a quantificar quem é que foi mais influente, entre os dois, mas apesar de ter sido um trabalho de equipa, que se estendia a uma relação pessoal muito próxima, tiveram contribuições diferentes. Parker resolveu a quadratura do círculo ao descobrir que se podia tocar qualquer nota desde que se "resolvesse" (tradução minha de "to resolve") numa nota do acorde. Mas foi Dizzy o teórico do BeBop, o homem que estudou os formalismos, que desenvolveu os princípios, que trabalhou os tempos, os ritmos e as progressões de acordes. Sob este ponto de vista foi Dizzy o mais influente. Aliás vendo bem qual é a palavra que define melhor o BeBop, Dizzy ou Bird?

Mas Dizzy Gillespie não foi apenas um dos criadores do BeBop, e não se ficou apenas pelo BeBop. Foi o melhor trompetista do Jazz, em termos técnicos. Conseguia tocar notas que mais ninguém conseguia (ou consegue ainda). O virtuosismo que o tornou famoso continua inultrapassado. Os solos tocados a tempos elevadíssimos sem nunca perder o sentido da melodia continuam inigualáveis. Aliás esse tempo elevadíssimo era a base da beleza dos seus solos. Quem alguma vez vir o documentário de Ken Burns sobre a história do Jazz vale a pena atentar na explicação de Winton Marsalis sobre a sincopação de Dizzy Gillespie. Percebe-se muita coisa. Além do mais Dizzy Gillespie continuou toda a sua carreira, depois do BeBop, a inovar, nomeadamente a trabalhar na fusão do Jazz com as músicas Afro-Latino-Americanas. Mas continuou sempre de uma forma coerente nos seus formalismos musicais.

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Está cientificamente demonstrado: A almofada é boa conselheira

Um grupo de investigadores alemães publicou em 2004 um artigo na Nature com o título (bem sugestivo) "Sleep inspires insight" (resumo aqui). A simplicidade do título reflecte a simplicidade do artigo. Basicamente o artigo demonstra elegantemente que dormir pode ajudar a resolver problemas, no caso problemas lógicos. Curiosamente o artigo começa por referir alguns exemplos anedóticos de descobertas científicas feitas alegadamente durante o sono.

Os autores criaram um jogo de lógica (numérica) com duas regras bastante elementares. "But there is a catch": o jogo tinha uma terceira regra implícita, e quem conseguisse deduzir essa regra teria naturalmente um desempenho muito melhor no dito jogo. Para começar os indivíduos sujeitos ao teste treinaram-se com três séries do jogo, oito horas depois foram-lhes dadas mais dez séries, o que constitui o verdadeiro teste. A experiência foi divida em três grupos, aqueles que dormiram uma noite de sono durante as oito horas de intervalo, os que fizeram directa durante essas oito horas, e os que passaram as oito horas acordados mas durante o dia. Isto quer dizer que os primeiros dois grupos fizeram a sessão de treino à noite, e os dez blocos na manhã seguinte, e no terceiro grupo a sessão de treino foi de manhã e os dez blocos à tarde. O resultado foi que no grupo que dormiu uma bela noite de sono a probabilidade de se conseguir deduzir a regra implícita foi o dobro dos outros grupos. Ou seja dormir aumenta a probabilidade de deduzir a regra lógica implícita. E para demonstrar que é o sono que faz a diferença, e não o cansaço provocado pela falta de sono que tem um efeito negativo, compare-se com o terceiro grupo. O dois grupos que ficaram acordados durante as oito horas tiveram desempenhos idênticos, ou seja o eventual cansaço provocado por uma noite em branco não faz diferença para a resolução de problemas (pelo menos neste caso).

Contrariamente ao que pensam os que defendem que melhor hora para o trabalho intelectual é o crepúsculo (a não ser que se levantem às seis da tarde), assim se demonstra que a melhor maneira de resolver um problema é pensar um bocadinho nele antes de ir dormir, e na manhã seguinte a solução está encontrada. Por exemplo, a estas horas em vez de estar para aqui a blogar devia estar a pensar nas minhas moscas...

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quarta-feira, junho 07, 2006

À grande e à Francesa - eufemismo da Rive Droite

Mon Coeur est à gauche mais mon porte-feuilles est à droite!
Tradução: O meu coração está à esquerda mas o meu porta-moedas à direita.

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terça-feira, junho 06, 2006

Conseguimos o improvável (outra vez)?

Parece que sim?! Até nem gosto de vitórias na secretaria como até nem gosto dessa regra de não se poder recorrer aos tribunais civis (mesmo que seja em questões meramente desportivas). No entanto os regulamentos existem, estão em vigor e são iguais para todos (concorde-se ou não). O Gil Vicente não cumpriu com os regulamentos duas vezes, quando inscreveu mal o Mateus e quando recorreu para os tribunais civis. Sendo assim só tem mesmo é que descer de divisão. O Belenenses fica na primeira que é onde deve estar (e já agora aproveitem esta oportunidade, façam melhor do que a época passada, que não é todos os dias que se tem benesses destas).

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Eufemismos populares

Nos Açores dizem que se pode ter as quatro estações do ano no mesmo dia.
Na Bretanha dizem que normalmente faz bom tempo, várias vezes ao dia (il fait beau plusieurs fois par jour).
P.S. - Vendo as coisas desta maneira, a Primavera em Paris não tem sido assim tão má...

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segunda-feira, junho 05, 2006

Com o jornalismo não se brinca

Estreou a semana passada, por estas bandas o filme "Dans na peau de Jacques Chirac". Li este artigo e fiquei cheio de vontade de ir ver o filme (o que ainda não fiz). É um filme feito pelos autores de um jornal televisivo satírico que passava na televeisão até há bem pouco tempo. Neste filme é feita uma recolha e montagem de imagens de arquivo de toda a carreira política de Chirac (40 anos), e um imitador fala em voz off na primeira pessoa, como se se tratasse de uma confissão do próprio Chirac. Parece ser um filme que fica a meio caminho entre o documentário e a sátira. O objectivo é pôr a nú a capacidade de Chirac de se contratizer em absoluto por puro populismo. A ideia parece-me muito bem pensada, porque este Chirac ultrapassa de facto qualquer outro político no seu desejo de subir nas sondagens a qualquer custo, sem qualquer pudor de uma coerência política. Desmontar um personagem destes através da caricatura e da sátira tem o potencial para criar um bom filme do ponto de vista cinematográfico e do ponto de vista documental. E eis que senão quando, preplexo, me deparo com a última frase do dito artigo: "Parce que les images puisées dans la réalité, ici rassemblées, ne disent pas tout, le commentaire, qui est écrit comme une fiction, s'autorise à dire n'importe quoi. Et cet exercice qui, selon son auteur, devrait avoir une vertu civique revient à un abaissement à la fois du cinéma et du débat politique." (E porque as imagens retiradas à realidade, aqui reunidas, não dizem tudo, o comentário, que é escrito como uma ficção, autoriza-se dizer o que quer que seja. E este exercício que, segundo o seu autor, deveria ter uma virtude cívica traduz-se num rebaixamento tanto do cinema como do debate político). E eu digo: Ai é? Então porquê? Porque que não diz tudo? Um documentário (ou uma notícia) nunca diz tudo. Porque não se pode fazer documentário e rir ao mesmo tempo? Que sisudos... Tenho mesmo que ir ver o filme!

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sábado, junho 03, 2006

Com um olho à Belenenses

Faz agora um ano estava a percorrer as informações matinais na net, e, se não me engano ao passar pelo site d'A Bola sai um punho do ecrã direito direito a mim, levo um murro de que ainda hoje não me recompus: morreu José António. Na véspera estava a jogar uma peladinha com amigos, sentiu-se mal e teve uma crise cardíaca, fluminante, morte imediata, aos 47 anos.
Nunca conheci pessoalmente o José António, longe disso, nunca sequer cheguei mais perto dele do que a distância que separa o peão da linha lateral, no Restelo. Tenho por ele a admiração que lhe deve qualquer adepto do futebol, e a gratidão que lhe deve qualquer belenense. Era acima de tudo um verdadeiro capitão de equipa. Foi um dos melhores líberos que passaram pelo futebol português, com direito à presença no mundial de 86. Era um líder dentro de campo. Fazia uma fantástica dupla de centrais com Luís Sobrinho a central de marcação. Não poucas vezes se fez a piada fácil do tio Zé e do Sobrinho, porque a sua autoridade na defesa fazia dele de facto uma figura tutelar. Tinha um inteligentíssimo sentido de posição, e de anticipação. Jogava limpo, sempre dentro dos limites, fazia pouquíssimas faltas, qualidade rara num defesa sobretudo antes da era do fair play, não me lembro nunca de o ver expulso por jogo violento. Como capitão defendia sempre a equipa, contestava todas as faltas que considerava injustas, também sempre dentro dos limites, não me lembro nunca de o ver expulso por indisciplina. Tão pouco me lembro de o ver envolvido em controvérsias. Modesto, talvez não se tenha apercebido da sua qualidade como jogador. Não fazia declarações polémicas, mas lembro-me de dar uma entrevista, depois de ser titular da selecção nacional na vitória em Estugarda que deu o apuramento a para o mundial do México, dizendo simplesmente que não estava à espera de ser convocado.

Teve a honra, como capitão, de levantar a Taça de Portugal em 88/89 (vejam, tem vídeos e tudo), o último troféu importante que o Belenenses ganhou até à data. Foi, sem dúvida, enquanto o Zé António foi capitão que vi o melhor futebol jogado pelo Belenenses. Depois de pendurar as chuteiras continuou no clube e fez tudo o que clube precisou que fizesse, nas camadas jovens, nos gabinetes, e chegou até a pegar interinamente na equipa principal quando o clube não conseguia arranjar treinador. Foi uma imensa perda para o clube.

A melhor homenagem possível veio da parte da selecção nacional. Dois dias depois da sua morte, a jogar com uma braçadeira negra em sinal de luto, a selecção arrancou uma das melhores exibições e a mais importante vitória da fase de qualificação, no jogo contra a Eslováquia. Ganharam 2-0, e ficou-me na memória em especial a exibição do Cristiano Ronaldo. Eu, belenense, agradeço.

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quinta-feira, junho 01, 2006

Ensino monolítico às guinadas

Tem-se comentado na blogosfera as declarações da Maria Filomena Mónica relatadas neste post da Teoria da suspiração, a que cheguei através deste outro no Da Literatura. Talvez por estar longe há uns tempos (largos) não tenho acompanhado de perto estas questões, mas fico com a sensação que uma coisa não mudou quando se debate a educação em Portugal: a discussão fica sempre à volta do conteúdo dos programas. Como se isso fosse o mais importante, pior como se isso fosse tudo. Correndo o risco de repetir o que já disse, (a ideia é sem dúvida a mesma), na minha opinião, muito mais importante do que os programas são as ferramentas que os alunos aprendem a utilizar. O currículo é o que menos importa. Se perguntarmos a cinco ou seis "especialistas" qual é "O" melhor currículo, teremos cinco ou seis respostas diferentes, se metermos os "especialistas" fechados numa sala - um "painel de especialistas" - talvez cheguem a um consenso (sobretudo se estiverem a pão e água). Três ou quatro painéis chegam a três ou quatro consensos diferentes. Como notou o Rui Tavares na sua excelente crónica: Na sala cheia toda a gente estava a favor dos clássicos; gerou-se o consenso de que o melhor método para ensinar os clássicos era o que cada um defendia, e que o dos outros era provavelmente desastroso. Só uma visão monolítica do ensino pode pensar que há UMA única verdade absoluta que TODOS os alunos precisam de aprender para bem da sua formação humana e profissional (o sarcasmo deste post do Arrastão toca no ponto). Mas de que serve ensinar-se os clássicos se os alunos não aprenderem a lê-los? Enquanto as discussões se centrarem no conteúdo dos programas nunca 1) se vai gerar consenso nenhum (o que em si mesmo não é um problema) 2) os alunos hão-de aprender a pensar pela própria cabeça (este sim o grande problema). Este ensino monolítico ensina muita coisa mas não ensina o aluno a procurar, processar, filtrar, criticar e apreender a informação. O produto final é-lhes apresentado, e espera-se que o aceitem passivamente.

Veja-se por exemplo o ensino de Camões. Há uns anos caiu o Carmo e a Trindade porque se falou em tirar Camões dos programas. Nem me lembro em que é que ficou, mas era bom que tirassem. O que "aprendi" sobre Camões deixou-me um trauma que só uns dez anos depois é que voltei a pegar, e foi porque tive uma boa professora no 11º ano, senão tinha sido um trauma para o resto da vida. No 11º (dava-se a lírica) aprendi eu, e toda a gente na altura, uma meia dúzia de sonetos, sempre os mesmos desde há décadas. Aprendia-se a interpretação dos ditos sonetos segundo um determinado autor. E está "ensinada" a lírica de Camões. Ninguém aprendeu que pode haver várias interpretações diferente, logo também não se aprendeu o porquê dessas diferenças, ninguém aprendeu que há uma lírica para além dos sonetos, ninguém ouviu falar de Petrarca, e ninguém ouviu falar da interminável controvérsia sobre o cânone da lírica de Camões. Ensinar às crianças que há muitos sonetos, sextinas, elgias e muito mais, que talvez não sejam de Camões? Ensinar às criancinhas que a dúvida existe? Que em certos temas, incluindo o grande Camões, há coisas que não sabemos? Esse é o pecado capital que este ensino jamais vai permitir. Porque não explicar as razões das dúvidas sobre a autoria de um determinado poema, fazer os alunos procurar os argumentos a favor e contra, e depois pedir-lhes para formularem uma opinião? Não iria isso ensinar-lhes muito mais sobre Camões, e sobre o que quer que seja? E o mesmo se aplica para qualquer outro tema, nem é preciso que se ensine Camões, conquanto os alunos saibam depois ir procurá-lo, e consigam lê-lo.

A mim o que me preocupa é se forem pessoas como o Vasco Graça Moura a fazer os programas. Afinal, quando Aguiar e Silva defendeu, com muito bem fundados argumentos que o soneto "O dia em que eu naci moura e pereça" talvez não seja de Camões, foi Graça Moura quem respondeu com o fantástico argumento "aquilo dá-me uma guinada que só pode ser do Camões".

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