quinta-feira, março 30, 2006

As Garrafas são para as ocasiões

Vintage 1997

...e, obviamente, não estou a falar da situação política em França...

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quarta-feira, março 29, 2006

Les casseurs, os nihilistas suburbanos

"...nada se assemelha à magia da dinamite"
Jorge Palma, in Jeremias o Fora-da-Lei

Nota prévia: Post escrito com desconhecimento de causa. Não sei mais sobre Casseurs do que o que leio nos jornais, e o que ouço nas conversas por aqui...

foto roubada aqui (para mais fotos da luta conta o CPE basta ver no flickr imagens com tag CPE).

A propósito da violência nas manifestações contra o CPE, convém dizer antes do mais que tendo em conta a dimensão das escaramuças e a dimensão das manifestações (sobretudo a de ontem) essa violência é marginal. No entanto tem tido, se calhar mais atenção dos média, fora de França, do que a própria luta contra o CPE. Mas nem por isso deixa de valer a pena falar do assunto.

Parece-me que há dois tipos de grupos que causaram até agora desacatos. Um são os grupos supostamente organizados e politizados que se infiltraram na ocupação da Sorbonne e da EHESS (link roubado neste post da garedelest). Esses de facto são um bando de cretinos inconsequentes e com acções completamente contraproducentes com vista aos objectivos (se é que os têm).
Outro fenómeno é o dos Casseurs. É um fenómeno que não vem de agora, já tem quase dez anos. Os Casseurs atacam na rua, durante as manifestações, e preferem atacar a polícia, mas na prática atacam o que aparece à frente. O Le Monde fez uma reportagem com um grupo desses Casseurs, vindo dos subúrbios do Norte de Paris, durante a manifestação de 23 de Março, vale a pena ler. A mim parece-me que estes são os mesmos jovens que em Novembro andaram a incendiar carros, e mais ainda, os seus motivos são, continuam a ser os mesmos, tal como a ausência de objectivos. Pareceu-me na altura que havia um sentimento geral que oscilava entre a simpatia mais ou menos escondia e uma certa compreensão pelos motivos da revolta. É certo que houve então circunstâncias particulares, principalmente a morte de dois miúdos, que não fizeram nada a não ser ter medo da polícia. Talvez esteja aí a razão da simpatia. Mas houve outras causas para os tumultos, das quais a exclusão social é uma, mas não a única. O famoso discurso dos "racailles" do Sarkozy, não é apenas uma provocação, traduz-se na prática por uma repressão policial dirigida contra os "banlieusards". Tudo quanto é rapaz novo, vestido ganga e capuz, que seja negro ou que tenha cara de árabe é regularmente interpelado pela polícia sem outro motivo que não o de parecerem "racailles". Esta forma de perseguição é também uma causa da violência que vem das "banlieus". Não é por acaso que em qualquer reportagem que se leia nos jornais sobre os Casseurs, o inimigo declarado é sempre o Sarkozy. Mas o que é também evidente é que, para além do ódio dirigido a Sarkozy, não há um objectivo político. Nem político nem outro, não há objectivo por trás da violência. A violência é apenas uma forma de exteriorizar a frustração de ser marginalizado. Óbviamente que a responsablidade política quer no problema social dos subúrbios e na integração dos imigrantes quer na questão da repressão policial não iliba a responsabilidade individual de quem pratica a violência. Os Casseurs são seres humanos providos de cérebro, e portanto dotados de um sentido de moral e de responsabilidade. Mas este argumento vai nos dois sentidos, a irresponsabilidade dos Casseurs não iliba os políticos. A diferença é que os políticos são eleitos para resolver esses problemas.
Desde as manifestções de estudantes do fim dos anos 90 quando apareceram, passando pelos tumultos de Novembro, e agora pelas manifs anti-CPE, que os Casseurs são o sintoma de um problema que continua ainda por resolver (e que o CPE só vem agravar).


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terça-feira, março 28, 2006

Rêve General

A manif de hoje foi ENORME, qualquer coisa como o dobro da anterior. A coisa não está nada boa para o Villepin.
O que deu para notar em especial foi a pariticipação dos jovens, que são os maiores interessados, mas sobretudo jovens daqueles a quem Sarkozy chama "racailles". Esses eram mais que muitos (os "casseurs", pelos vistos, foram menos do que em manifs anteriores). A mobilização continua a aumentar, mas a julgar pelo que vi hoje a (boa) surpresa é a participação dos jovens dos subúrbios.
Os estudantes de liceu e universitátios contribuiram não só em número mas também com o ambiente, porque isto das manifs já não é o que era. Ao pé destes a festa era em ambiente a puxar para o Rave.

O ambiente era festivo


De um lado gente até à Place d'Italie


Do outro gente até à Bastille


Slogans há muitos, e bons


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domingo, março 26, 2006

A Máquina do Espaço/Tempo


No Château não se bebe apenas a melhor bica de Paris, também se mata saudades.

(em ruído de fundo sobrepõe-se inúmeras vozes masculinas)
- Joga caráilho!
- Istás à espera de quêi?!
- Boa tarde.
- 'Ta bom?
- Trêis a zero...
- Quais três, têns aí um
- É um café, se fachavor
- Toma lá os teus vinte euros
-...
- São duas cerbeijas?
- Hoje não quero cerbêja
- Não te preocupes ó Paulo que não sais daqui sem o teu dinheiro
- ... as boas contas, fodasse, fazem os bons amigos, carálho
- Para mim é branco
- É meismo ao lado
- Com'é que ficou o jogo ontem?
- Um a zero
- Pas mal
- Merci-ó
- Adeus, boa tarde

Mortas as saudades de um outro espaço que existiu num outro tempo, sai-se da porta e regressa-se a Paris, na circunstância o quatorziéme.


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quinta-feira, março 23, 2006

Hmm...

Outro dia houve um problema no servidor de e-mail lá no departamento, a internet funcionava mas não se podia receber nem enviar e-mails. E o que fez o responsável da informatica do departamento? Enviou não um, mas dois e-mails, o primeiro para dizer que havia um problema, o segundo para dizer que não sabia qual era o problema donc era preciso um bocado de paciência. Efectivamente...


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quarta-feira, março 22, 2006

Chorão no Gevaudão

O André A. foi outro dia ali ao bistro contar-nos como é o ambiente no Gevaudão, ele (André), que é o culpado de termos ido todos lá parar.
Ali no Gevaudan - perdão - no Gevaudão, é que há verdadeiro encontro de culturas. De caminho demonstra-se que não é preciso haver programas políticos nem cerimónias solenes para haver encontro de culturas, um verdadeiro encontro de culturas. Basta haver pessoas, e que a política, ou os políticos, ou ambos, não atrapalhem.
Ora o Gevaudan era "apenas" um bistro plutôt marroquino, dirigido pelo meste Sallah, ali para os lados do boulevard Arago, no quatorzième, claro. Era, e continua a ser, um bistro marroquino, aliás magrebino, que é mais internacional (o Couscous recomenda-se), mas já não apenas magrebino. É que entretanto apareceram para lá uns brasileiros do quartier a frequentar a casa. Daí a trazerem uns pandeiros, guitarras e cavaquinhos para tocar chorinhos e sambas foi um passo (conta quem sabe, que isso não é do meu tempo). Vai daí o Bando do Chorão começou a dar espéctaculos regulares. E isto depois do ano do Brasil em Paris, que foi, ao que parece um sucesso, pelo menos no que toca a pôr os holofotes da ribalta parisiense na cultura brasileira. Agora música brasileira é branché. Os indígenas, aqueles que têm afinidades para outras culturas, começaram a afluir em torrentes abundantes ao Gevaudão, o que até teve direito a uma nota no parisienssíssimo Zurban (que se recomenda igualmente, a quem quiser saber o que se passa por aqui). Depois vieram os problemas de que falou o André, mas o Chorão no Gevaudão continuou, e continua. A última vez que lá fui já um dos habitués magrebino, homem cinquentão, tocava congas com à vontade e desenvoltura. E a acompanhar o Coucous, uma caipirinha.


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terça-feira, março 21, 2006

Ça Chauffe!

Hoje foram "só" os estudantes do Secundário (só 40000). Isto está a aquecer...






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segunda-feira, março 20, 2006

Fico mais descansado (ou nem tanto)

Com os telefonemas de fim-de-semana para a família fiquei convencido que em Portugal, a respeito dos protestos contra o CPE aqui em França, os noticiários só falavam nos desacatos com a polícia. E pelos vistos é mesmo verdade. Não quero negar que tenham havido distúrbuios (nem posso). Mas os confrontos com a polícia são de facto acontecimentos marginais, e não podem fazer esquecer nem o que está em causa, o CPE, nem a dimensão do movimento de protesto, que continua em crescendo. Curiosamente aqui em França a imprensa dá muito menos destaque aos confrontos (veja-se a edição especial de Le Monde sobre o CPE, mas obiviamente uma notícia sobre o sindicalista que está em coma). Pôr o enfâse nesses confrontos só serve, intencionalmente ou não, para desacreditar o próprio movimento de protesto contra o CPE.
Fico ligeiramente mais descansado quando vejo que ainda há quem saiba o que está em causa.
Ao que diz o Nuno Ramos de Almeida só tenho uma coisa a acrescentar: isto vai de vento em popa para o Sarkozy.

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E não esquecer: Amanhã (terça) e quinta há mais manifs!

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domingo, março 19, 2006

Dupla Hélice: Quanto vale uma imagem?


"...the objection could be raised that, although our idea was aestetically elegant, the shape of the sugar-phosphate backbone might not permit its existence. Happily, now we knew that this was not true, and so we had lunch telling each other that a structure this pretty just had to exist"
James D. Watson, in "The Double Helix"

(desta vez sem linguagem técnica)

A frase de Watson é lapidar e nem chega a ser um lapso. De facto a "fama" da Dupla Hélice deve-se não à sua importância como descoberta científica mas tão simplesmente ao facto de esteticamente ser lindíssima. E aqui acho que não há controvérsia possível, como imagem a Dupla Hélice é de facto lindíssima. E aí é que está o problema, na minha opinião. Na sociedade mediatizada da informação em que uma imagem vale mais do que mil palavras, em que a caça aos soundbytes é permanente, a Dupla Hélice transformou-se num ícone. Pode dizer-se que isso é bom para a Ciência, particularmente para a Biologia, porque lhe traz visibilidade. Se o objectivo é ter visibilidade nos meios políticos onde se decide a atribuição de verbas para a Investigação, talvez seja verdade, mas sou céptico a esse respeito. Se o objectivo é aproveitar um ícone para transmitir para fora da comunidade científica o conhecimento que esta produz, pelo menos das descobertas mais relevantes, então sou mais do que céptico. Estou convencido de que muita gente ouviu falar da Dupla Hélice, mas muito pouca sabe porque é que ela é importante. Não sei se foi algumas feito um estudo sociológico a este respeito (acredito que sim, e gostaria de saber o resultado), mas quantas das pessoas que já ouviram falar da Dupla Hélice sabem qual a relação do DNA com os cromossomas ou com a hereditariedade?


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sábado, março 18, 2006

Há mais Biologia Molecular para além da Dupla Hélice (parte 2)

O modelo da Dupla Hélice responde à pergunta "Qual é a estrutura do DNA?", acho que isto não é controverso. E isso é importante? Na minha opinião sim, mas está longe de ser a questão mais importante em Biologia Molecular. Há de certeza quem não concorde comigo, e com mais certeza ainda por muito boas razões. E aqui talvez se entre na velha questão das biologia do "experimental vs descriptivo" ou da "estrutura vs função", mas espero que não, até porque acho que essa é uma falsa questão. Onde eu quero chegar é que, na minha opinião, a Dupla Hélice por si só não ajuda muito a explicar como funciona a vida. E, como já escrevi ali em baixo, não quero dizer que a dupla hélice não seja importante. É importante, sim, mas porque deixa pistas, abre portas, mais do que por dar respostas. Watson no seu livro "The Double Helix" tenta dar a ideia de que já se adivinhava que a replicação do DNA era semi-conservativa (tal como tenta dar a ideia que já tinha percebido o papel do RNA mensageiro). É fácil fazer prognósticos no fim do jogo. Na altura havia explicações alternativas compatíveis com a dupla hélice, nomeadamente a replicação conservativa e a replicação por fragmentação do DNA. Foi a experiência de Messelson e Stahl que respondeu a essa questão (estou outra vez a repetir-me), e não o modelo de Watson e Crick. Mais ainda, para haver duplicação do DNA não é necessária uma dupla hélice, basta uma cadeia dupla, e é o trabalho de Rosalind Franklin mais do que o Watson e Crick que demonstra que o DNA é uma cadeia dupla.

A grande inovação do modelo da dupla hélice, e que mais pistas veio dar para os avanços subsequentes na compreensão de como funciona a biologia ao nível molecular, foi a noção de complementaridade entre as duas cadeias do DNA. A descoberta de que frente a um G está sempre um C e frente a um A está sempre um T. Para chegar a esta conclusão Rosalind Franklin foi, mais uma vez, muito importante, foi quem percebeu que as cadeias de fosfato estavam no exterior da molécula, contrariamente ao que todos pensavam na altura. E foi esse posicionamento da cadeia de fosfato que permitiu, precisamente, pôr os Cs face aos Gs e os As face aos Ts. Essa complementaridade entre as bases abriu as portas ao conceito de transcripção, i.e. de como se passa de DNA para RNA mensageiro, tal como ao da replicação do próprio DNA. Curiosamente, neste ponto particular Watson e Crick enganaram-se num pequeno/grande detalhe, segundo o artigo original o emparelhamento da Guanina (G) com a Citosina (C) era feito por duas ligações de Hidrogénio, tal como a Adeninda (A) com a Timina (T). Sabemos hoje que a ligação G-C é feita com três ligações de Hidrogénio.

Mas os que mais me incomoda é que estou convencido que a dupla hélice se tornou "famosa", se tornou num ícone, e sobretudo fora da da Biologia, por razões que pouco têm a ver com as questões a que responde, ou com o seu mérito científico.


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sexta-feira, março 17, 2006

Última hora

Sorbonne esta noite, depois da Manif. Será que De Villepin percebeu?








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quarta-feira, março 15, 2006

Há mais Biologia Molecular para além da Dupla Hélice


Ouso mesmo dizer que a Dupla Hélice nem sequer é a descoberta mais importante da biologia molecular. E agora que já acabaram as festividades do 50º aniversário da descoberta da dupla hélice, acho que posso dizer isto sem ser acusado de heresia. Não quero dizer com isto que não seja importante, talvez esteja, na minha opinião, no top 10.
Quando digo que não é a descoberta mais importante, estou a medir a descoberta pela importância da pergunta à qual ela responde (ou tenta responder). E quando falo de Dupla Hélice estou a referir-me ao modelo proposto por Watson e Crick no artigo de 1953. As descobertas importantes em Biologia (digo eu) são aquelas que nos permitem compreender como funciona a vida. Porque é que o DNA é importante? Porque é a molécula que veicula a hereditariedade. E aqui a pergunta está feita ao contrário, a pergunta feita na época foi: Como é transmitida a hereditariedade? E a resposta "Através do DNA" é dada com as experiências de Avery, McLeod and McCarty, publicadas em 1944, e mais tarde confirmadas pela experiência de Hershey e Chase . Sabendo que o DNA transmite a informação genética, importa saber como. A resposta é: através do código genético. O DNA contém informação codificada que permite à célula sintetizar proteínas. O código propriamente dito foi desvendado por Niremberg, mas o caminho para chegar ao conceito de código genético envolveu inúmeros trabalhos, tendo o próprio Francis Crick dado um importante contributo, conjuntamente com Sidney Brenner ao descobrir as letras do código genético (bases do DNA) são lidas três a três. Sabendo o código genético, como é que se passa de DNA a proteína? Através do RNA mensageiro e da síntese de proteínas pelo ribosoma (aqui parece-me, não impossível, mas fastidioso enumerar todas as descobertas, a grande maioria das quais aliás desconheço os autores). E há ainda duas perguntas que acho importantes. A primeira como é perpetuada a informação genética? A resposta foi dada com a mais bela experiência jamais feita em biologia (não sou eu quem o diz, é este livro) de Meselson e Stahl, que estabeleceu a natureza semi-conservativa da replicação do DNA. A outra pergunta é: como é que a célula regula a expressão dos genes? Embora continue muita gente a trabalhar nesta questão, que se revela cada vez mais complicada, o grande impulso inicial deu-se com o modelo de operão de Jacob e Monod.
E no fim de contas a modelo da Dupla Hélice a que pergunta é que responde?

Continua...

Nota: Os três artigos originais sobre a estrutura do DNA (o de Watson e Crick, o de Wilkins, Stokes e Wilson, e o de Franklin e Gosling) publicados na Nature em 1953 podem ser encontrados aqui, tal como o de Avery, MacLeod e McCarty de 1944 publicado no Journal of Experimental Medicine.


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Às vezes...

Quando saio à rua de manhã vejo isto


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segunda-feira, março 13, 2006

Haussman vs Descartes

Há coisas que não percebo. Então o Descartes não era francês? E não foi ele que inventou o referencial cartesiano? E no referencial cartesiano os eixos não são perpendiculares entre si? E ainda para mais os franceses até têm bastante orgulho no Descartes. Dizia-me o Sr. H. com muita piada, e não menos razão, que para compreender a mentalidade do francês é preciso compreender dois mitos, sendo que um deles é o precisamente o Descartes (o outro é o D'Artagnan, mas a explicação fica para outra altura). Sendo assim, porque é que os franceses têm tamanha aversão à ortogonalidade? Talvez esteja a exagerar, talvez não sejam todos os franceses, mas pelo menos os urbanistas têm. E embora não seja só em Paris, com Haussman é particularmente notório. E o problema não é que (ou pelo menos, não é só que) as ruas não sejam paralelas e perpendiculares umas às outras. O problema é precisamente que elas parecem sê-lo quando não o são. Não quero dizer, de modo algum, que não existem ruas paralelas e perpendiculares entre si. De facto, essas ruas existem, e têm duas funções: 1) impedir que se possa acusar os franceses de terem aversão irracional à ortogonalidade 2) levar os inocentes a acreditar que em geral as ruas são paralelas ou perpendiculares entre si.
E aquele que, passeando por aí, vira à direita para depois virar à esquerda, pensando seguir numa rua paralela à primeira, e crê que bastará mais adiante virar à esquerda para depois voltar a virar à direita para retomar o caminho inicial, esse só tem um destino: perder-se. E tentar virar novamente à esquerda (ou à direita) quando se apercebe que não vai na direcção desejada, só vai piorar a situação, tentar compensar o dano com viragens sucessivas e alternadas à direita e à esquerda definitavemente não resolve o problema, bem pelo contrário. Naturalmente, é difícil não cair na armadilha, sobretudo quando se tem tempo livre e curiosidade. Então começa-se a reconhecer o locais já antes visitados, onde se perdeu já uma e outra vez, mas chegando lá sempre por caminhos diferentes. Mais tarde começa um processo de memorização, que decorre naturalmente da tentativa e erro. Aí, sim, começa-se a conhecer a cidade, os cantos, as ruas, os caminhos, os locais. E talvez um dia se consiga finalmente apreciar Paris.

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O Clube dos Poetas morto

É uma pena vê-lo morrer assim...
Assim, ou de outra maneira qualquer, é uma pena vê-lo morrer.

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domingo, março 12, 2006

Very Parisian



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sábado, março 11, 2006

A fronteira -perdão- avenue du Maine


Os detractores de Paris dizem, muitas vezes, que Paris é uma cidade homogénea, quando usam um eufemismo, quando não dizem que é uma cidade monótona. Acham que está espartilhada pelas leis haussmanianas. Esses, os que gostam e os que não gostam de Paris, não a conhecem. Aconselha-se que façam, várias vezes, o percurso a pé de Denfert-Rocherau até, digamos, Plaisance. De preferência pela Rue Daguerre, e depois pela rue Raymond Losserand. Aconselha-se que o façam a diferentes horas do dia, em vários dias da semana. Que passem por exemplo pelo mercado de sábado de manhã na parte pedonal da rue Daguerre, onde os Fromagers e os Poissonniers e os Halles põem as bancas no passeio, e as senhoras, algumas que fizeram um detour desde -oh! heresia- a rive droite para se abastecer. Que aproveitem para, se tiver sol, comer uma das muitas saladas à escolha, na esplanada do Peret, bem condimentada com um vinagrete. Numa tarde de semana é uma boa ideia escolher entre um bom Bordeux et um pinot noir de Bourgogne na La Cave des Papilles. Numa sexta-feira à noite porque não beber-se um rouge no Café d'Enfer, ou jantar rodeado de jovens BCBG branchés no extravagante Zango (a árvore do viajante) numa mesa em que o tampo vidrado exibe areia de uma qualquer praia exótica distante, e em que o décor é feito de fotografias de etno-antropologia. Pode ainda encontrar-se, num dia de semana, no quartier, lojas de brinquedos exclusivamente em madeira ou geladarias italianas em que os sabores são dispostos no cone em forma de pétalas de rosa.
Continuando o caminho chega-se à avenue do Maine, segue-se à direita continuando no mesmo passeio uns poucos metros, atravessa-se para chegar à rue Raymond Losserand. Aí sugere-se um qualquer tabac, de preferência bem fumarento, onde os habitués estejam siderados no televisor a seguir corridas de cavalos, em que apostaram o dinheiro que tinham. Para se abastecer de frutos e legumes bem frescos há os halles dos chineses ou árabes. Pode ainda explorar-se as ruas circundantes para procurar um café português, com sorte encontra-se no Chateau a melhor bica de Paris (sem argumentação possível). Num domingo de manhã (ou numa quarta-feira) há o mercado de Villemain onde para além de frutos e legumes, se podem encontrar pastéis de nata, azeite e linguiça, ou queijos franceses, ou pastas italianas, ou azeitonas gregas, ou ainda sandes libanesas. Em noite de futebol pode escolher-se entre o design moderno mas sóbrio do Losserand-Café ou o Bistro/Brasserie mais tradicional Au Metro. Para ouvir Blues num sábado à noite há o Utopia. Para um combinado de cinema/bar/restaurante/sala-de-espectáculos/debates há o Entrepot. A cereja no cimo do bolo é mesmo um jantar de cuisine campagnarde em ambiente familiar, com o vinho escolhido pelo patrão, no Le P'tit Canon (verdadeiramente imperdível, recomenda-se o confit de canard maison).
Feito este exercício talvez os detractores de Paris consigam sentir a diferença entre os dois países de um lado e de outro da avenue do Maine, em que a diferença de preço do metro quadrado de habitação é a mais subtil das nuances. Talvez consigam até aperceber-se que na place da Mairie do 14éme, numa daquelas guinadas que só a aversão dos franceses à ortogonalidade pode explicar, a fronteira deixa de ser a avenue do Maine para passar a sê-lo a rue Mouton Duvernet. Aí, nessa praça, há um parque infantil que é divido ao meio, e as crianças não se misturam.


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quarta-feira, março 08, 2006

Froidevaux


Os detractores de Paris pensam, muitas vezes, que Paris fica dentro de um triângulo com vértices na Torre Eifel, no Arco do Triunfo e na Notre Dame. Com alguma boa vontade concedem uma extensão até à Bastille, e incluem o enclave de Montmarte. Esses, os que gostam e os que não gostam de Paris, não a conhecem. Não sabem o que é subir a rue Froidevaux de bicicleta de manhã. Quer dizer, não é preciso que seja de manhã, mas é preciso que seja de bicicleta e é preciso que seja a subir. Quem não tiver bicicleta então o melhor mesmo é que suba a rue Daguerre. Mas nem a rue Daguerre, que é paralela, e é mesmo ali ao lado, faz o mesmo efeito que a Froidevaux. Será o Sol? O Sol é de certeza uma parte importante, de manhã está de frente, ligeiramente para a direita (o que acho que não faz completamente sentido, considerando a orientação geográfica..., melhor ainda), e dá sempre a sensação que o tempo até está mau de todo, que há umas abertas entre as nuvens (pura ilusão, mas que por isso mesmo valem ouro). E se subir faz diferença é precisamente porque o sol está de frente. Aliás, quando se desce, assim como assim, mais vale virar à esquerda na rue Gassendi. Mas subindo, e aqui não há ambiguidades sobre o que é subir e descer, o que nem sempre é o caso nesta cidade, subir é como quem vai da avenue du Maine para a place Denfert-Rocherau. Mas não há-de ser só o sol, há também o cemitério de Montparnasse, não o cemitério propriamente dito, é um cemitério como outros, mas o que ele impede. Subindo a Froidevaux não há prédios do lado esquerdo, o que aliadado à luz e à largura considerável da própria rua dão uma paisagem rara e preciosa em Paris, já de si, diga-se, generosa em prédios baixos, que fazem uma sombra moderada, como convém. Chegando ao fim do muro do cemitério, que é como quem diz ao cruzamento com a rue Boulard, pode entrever-se aquele que é argumentavelmente o mais belo edifício de Paris. Ainda assim aconselha-se a continuar até Denfert, passando pelo parque infantil, e chegar lá onde confluem, num arranjo que só pode ser explicado pela aversão que os franceses têm à ortogonalidade, a rue Froidevaux, a avenue do General Leclerc, a avenue René Coty, o boulevard Saint Jacques, o boulevard Arago, avenue Denfert-Rocherau e o boulevard Raspail. Chegando aí dá-se a volta ao leão e cada vai ao seu caminho.


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domingo, março 05, 2006

Sarkozy no seu melhor: Tolerância Zero a partir dos três anos?

Quando se prepara para apresentar o projecto de lei para a prevenção da delinquência , Nicolas Sarkozy (o ministro do interior françês, que tenta criar de si próprio a imagem do inevitável vencedor das presidenciais de 2007), parece querer inspirar-se num relatório do INSERM sobre as perturbações de comportamento nas crianças. Tendo em conta os antecedentes de Sarkozy, é de esperar o prior.
O tal relatório (de que pode encontrar-se um resumo em PDF aqui, num comunicado de imprensa de 22 de Setembro de 2005) considera que os desvios de comportamento no jardim infantil podem ser preditivos de delinquência, e preconiza acompanhamento médico a partir dos três anos, e porventura "tratamento adequado".
O relatório não é obviamente consensual. Aliás consensual parece ser a reacção contra o dito relatório, pelo menos a julgar pelo volume de assinaturas que recolhe a petição a contestá-lo iniciada por vários pediatras, psicologos, pedopsiquiatras e outros profissionais dos cuidados infantis.
Dois artigos de opinião sobre este relatório podem ser lidos aqui e aqui.


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Adenda ao post anterior

Recebido por mail de um leitor deste blogue, que por acaso é também o patrão dali do bistrot:

"Avante com o blogue. A certa altura um gajo tem que sair de África e confrontar-se com o seu território que, sendo mais pequenino, é nosso. Ou seja, fazer o seu 25 de Abril..."

É verdade, tem toda a razão o André. Seja.


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sábado, março 04, 2006

O blogue segue dentro de momentos

Quem é bom observador (e não é a primeira vez que aqui vem) reparou com certeza que a frase que estava sob o título "Agreste Avena" já não está. Quer isso dizer que este blogue já não é só de crónicas de uma viagem, que por acaso foi muito interessante ("eye-opening" como diria a A.), para se transformar num simples blogue. No lugar que era dessa tal frase está uma citação onde se podem ler as palavras "agreste avena". Não me perguntem se é uma coincidência, não me perguntem qual é a relação entre a citação e o título do blogue, não me perguntem o porquê do título do blogue, enfim não me façam perguntas para as quais eu sei a resposta.
Agora, o que quero dizer é apenas que vou começar a blogar sobre tudo e nada..., dentro de momentos.


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sexta-feira, março 03, 2006

Para que serve um blogue?

Quer dizer, nisto dos blogues, cada um sabe do seu, é óbvio. Logo cada blogue é o que se quiser que ele seja, ou talvez não. Ou melhor dizendo é, mas não é só, a coisa pode tomar caminhos inesperados. Aliás, é bom que tome, o objectivo é esse. Este blogue, por exemplo, já serviu pelo menos para retomar contacto com um amigo a quem tinha perdido o rasto. Foi mesmo desse amigo o primeiríssimo mail recebido no endereço que está ali em cima do lado direito, ele chegou ao blogue através de uma amiga comum (obrigado J. por teres enviado o endereço ao A.).
O A. é, ele sim, um verdadeiro viajante,a quem eu faço uma vénia, não sem alguma inveja. É brasileiro do Recife, conheci-o nos Estados Unidos estava ele a estudar, e agora vive no Japão há já alguns anos. Mais, tenho a sensação que não vai ficar por aqui, e há-de correr mais mundo. Receber um mail dele a dizer que gostou das minhas crónicas de viagem foi assim uma festinha no ego daquelas que sabem bem, mesmo bem. Enfim, o blogue serve para estas coisas, logo serve para alguma coisa, não sei bem para quê, mas serve.


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